Desautorizado no exterior

Desautorizado no exterior

O aluno brasileiro é desautorizado no exterior

A educação do Brasil não vai bem. Todos sabem disso. Os resultados nos exames nacionais e internacionais mostram isso. Apesar dos governos e a vozes menos sábias insistirem que a questão é pedagógica, quem tem um pouco de bom senso sabe que a questão central é a dos salários. A carreira do magistério não é atrativa, não mais chama as melhores cabeças da sociedade. Isso que era uma verdade para o ensino público fundamental e médio agora também atinge o ensino particular equivalente.

Até aí, nenhuma novidade. O que há de novo? Há o pior! Parece que o estudante brasileiro já se acostumou a ser fraco. Eis a notícia: recentemente uma universidade britânica reclamou dos alunos brasileiros por causa da falta de empenho nos estudos. Inclusive, a universidade em questão ameaçou o governo brasileiro de romper com o convênio do “Ciência sem Fronteira”, caso o problema persista.

Esse problema também não é simplesmente pedagógico. No Brasil, trata-se de uma questão maior. A noção de quem é inteligente, para os professores, não mais gira em torno de apreender os estudos, da capacidade de solucionar problemas ou de propor problemas, mas na capacidade de agradar o professor falando o que ele quer ouvir no plano doutrinário e pessoal. Isso na universidade, mas com reflexos fortes no ensino médio.

Professores de direita incentivam alunos a não lerem literatura que eles acreditam ser “marxista”. Professores de esquerda incentivam alunos a não lerem o que acham que é autor “neoliberal”. Assim, os alunos deixam de ler os clássicos! Isso é um problema velho. Professor dogmático há em todo lugar. Mas acontece que no Brasil de hoje há pessoas na imprensa aliadas desses professores. São os promotores de alunos que parecem inteligentes por serem contestadores, uma vez que desafiam a bibliografia dada nos cursos. Esses alunos são falsos inteligentes. Falsos estudiosos. A reclamação política deles apenas esconde o rosto de um grupo que vem crescendo, o do estudante malandro que lambuza o ego do professor ao aderir ao seu modo doutrinário. Faz-se isso com política, mas não só. Surge então o completo desrespeito ao professor sério por conta de doutrinadores que incitam alunos a se comportarem como se fossem inteligentes ao não querem ler Marx ou Adam Smith.

O Brasil é campeão no número de agressões de alunos contra professores. É uma prática generalizada no ensino fundamental e médio e que agora chegou à universidade. E a modinha de não ler o que o professor coloca para ser lido, que nada é senão parte dessa violência, é premiada pelos que, uma vez na imprensa, incentivam esses vagabundos que voltam para casa com ar de superioridade diante da obrigatoriedade de leitura.

Todavia, uma vez no exterior, os alunos brasileiros começam a perceber que ser de direita ou de esquerda e posar de inteligente não rende elogios. Os professores universitários e de escolas fundamentais em países do Primeiro Mundo há muito deixaram a ideologização tola de lado, em qualquer âmbito do conhecimento. E a fama do brasileiro no exterior vai logo casar com a nossa realidade ruim. Essa fama vem do jeitinho ideológico de ser. Tão tolo quanto qualquer outro “jeitinho brasileiro”

 

Paulo Ghiraldelli, 57, filósofo.

http://ghiraldelli.pro.br/o-aluno-brasileiro-e-desautorizado-exterior/




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