Da difícil arte de ser professor
"Há muito tempo que a profissão de professor em nosso país não ocupa lugar de destaque no ranking das outras profissões. Sim, é triste",
afirma Renato Teixeira Costa
Fonte: Gazeta do Povo (PR) 12 de setembro de 2014
Há muito tempo que a profissão de professor em nosso país não ocupa lugar de destaque no ranking das outras profissões. Sim, é triste. Em vários outros países a profissão de professor é considerada a mais importante, pois é ela que forma opinião, ensina a pensar, a questionar, a ver o mundo de outra forma. Você passa grande parte de sua vida na escola estudando.
Mas o professor da escola regular é o que mais sofre hoje em dia no Brasil. O governo, com sua ânsia por tapear estatísticas de analfabetismo, superlota salas de aula com alunos. Lança-se “bolsa isso” e “bolsa aquilo” para levar o aluno à escola e, com isso, até vemos uma melhora na presença. A escola, dita hoje em dia “para todos”, teve um aumento de alunos; mas e a qualidade? Ah, a qualidade é discutível. Com baixos salários, e com responsabilidades jogadas sobre suas costas, o profissional do magistério muitas vezes não dá conta de fazer o básico, já que, além de professor, ele é babá, psicólogo, às vezes pai, mãe...
Além de trabalhar os três períodos para ter um salário razoável, ainda tem outra jornada em casa, cuidando da família; mesmo assim, ainda não pode se dedicar inteiramente a ela, pois tem de preparar aulas de tantas e tantas séries para o dia seguinte, corrigir trabalhos, provas e redações. Fim de semana na vida de um professor é praticamente uma utopia: tendo tantas coisas para fazer referentes à escola, quase nunca tem tempo pra si mesmo. Muitos profissionais até conseguem esse tempo, mas isso é difícil e vários colegas professores reclamam disso. Com uma vida tão corrida, acabam chegando a suas salas muitas vezes desmotivados pelo cansaço, desrespeito e falta de atenção de alunos que também estão sem ânimo, quase sempre estando ali obrigados por suas famílias, e a aula acaba por não render muito.
Medir forças com a tecnologia hoje em dia é algo estafante. O uso inadequado dos celulares em sala de aula, muitas vezes mais interessantes, atraentes e multitarefas, faz com que a velha lousa e seu astro principal sigam em um monólogo sem graça, não tendo chance quase alguma de vencer essa batalha. Não digo que a tecnologia é ruim – muito pelo contrario, sou até a favor dela –, mas deve haver uma estratégia para que ela faça parte da aula e seja utilizada de maneira produtiva, como um ajudante especial naquela cena em que os atores principais são os alunos e o professor, para que haja um bom resultado.
O professor não é mais o detentor do conhecimento, que só transmite a informação. Hoje sabemos que é uma troca, e essa troca deve ser harmônica. O sistema como um todo não privilegia o aluno, nem muito menos o professor. O sistema quer saber quantos alunos estão em sala de aula, quer saber das estatísticas, não quer saber ou aparenta não querer saber se o aluno tem a habilidade de interpretar e redigir um bom texto, fazer um cálculo, ver as coisas de uma forma contextualizada com sua realidade. O sistema até cobra isso, mas parece não dar incentivo aos maiores interessados nessa história, o aluno e o professor, que muitas vezes, com tantas dificuldades e falta de reconhecimento, acaba abandonando tudo com a ideia de que nada irá mudar.
Os alunos, cada vez mais desmotivados e apáticos, acreditam que nada será diferente e não entendem como tudo aquilo poderá ajudar em seu futuro; basta perguntar a muitos adolescentes do ensino médio o que eles vão querer fazer quando terminar os estudos e para que tudo aquilo servirá: muitas vezes eles não sabem responder.
Acredito que um dia, em breve, este cenário irá mudar, sim. O sistema educacional esta quase em colapso e, quando isso acontecer, algo muito drástico deverá ser feito. Todos deverão estar juntos para a mudança – não só professores e alunos, mas a gestão da escola, os responsáveis pelos estudantes, a sociedade, os governantes, pois não se forma cidadão sem estudo.
Talvez seja isso o que querem os governantes, pois eleitor que não questiona é mais fácil de manipular, mas isso não devia acontecer. Logo, espero ver o professor ser reverenciado como nos países orientais, onde até mesmo os imperadores se curvam diante do professor.
*tecnólogo em Processamento de Dados, estudante de Letras e redator no site Pausa Dramática