Professor critica educação inclusiva
Professor critica educação inclusiva em seminário no CME-SP
setembro 8, 2014
Conselheiros divergiram sobre o tema e apontaram necessidade de voltar a debater a educação de pessoas com deficiência
“Sou a favor da inclusão, mas não defendo que ela deva ser para todos na mesma escola”, anunciou o professor doutor em neurologia pela Universidade de São Paulo (USP), José Salomão Schwatzman, durante a reunião do Conselho Municipal de Educação de São Paulo (CME-SP), no último dia 14 de agosto. Para ele, as famílias devem ter o direito de não “serem tuteladas” pelo Estado, que deve garantir o direito, mas sem obrigá-las a colocar seus filhos em escolas regulares.
Em apresentação que fez parte da série de seminários Desafios Docentes: pesquisa, formação e atuação, organizada pelo conselho durante o ano de 2014, José Salomão defendeu o caráter substitutivo e não complementar da educação para pessoas com deficiência. “A escola nunca dará conta de todas as patologias. A inclusão é um processo bem vindo, irreversível e necessário, mas temos que pensar como essa inclusão vai continuar”, argumentou o professor, citando a dificuldade em uma escola tratar de patologias diferentes como a síndrome de Rett, a síndrome de Down e a paralisia cerebral, por exemplo.
Além disso, José Salomão ressaltou a necessidade de se considerar as diferenças de gênero na composição das classes escolares, afirmando que “as meninas nascem com vantagem maturativa de 10% sobre os meninos”. E complementou: “não é lógico colocar meninos e meninas com seis anos na mesma sala”. Ele defendeu, também, que se deve considerar o QI [Quociente de Inteligência] para avaliar capacidade de aprendizado de estudantes: “a partir do QI, sei mais ou menos o tipo de limitação que a pessoa tem. A cada 800 bebês, um é síndrome de Down e 100% deles possui deficiência intelectual”.
Educação inclusiva
Com opinião oposta à de José Salomão, a conselheira Maria do Pilar – ex-secretária de educação básica do Ministério da Educação (MEC), defendeu a educação inclusiva como um estágio de amadurecimento da própria democracia brasileira. “O Plano Nacional de Educação não obriga a matrícula de pessoas com deficiência, mas sim determina que devemos universalizar o acesso à educação para todos e todas, preferencialmente, na rede regular de ensino”.
O próprio Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação], segundo Pilar, reconhece a necessidade de destinar mais recursos para as unidades educacionais que atenderem alunos com deficiência: “é destinado o dobro do recurso para vai financiar a matrícula do aluno que tiver alguma deficiência. Me preocupa nós termos um retrocesso neste sentido”.
Complementando a fala de Pilar, a conselheira Lourdes de Fátima Paschoaletto chamou a atenção para a falta de opção, principalmente das famílias que vivem nas periferias da cidade. “A inclusão é uma conquista e temos que levar em consideração que na escola também se vive outros saberes, não só a aprendizagem de conhecimentos científicos”, aponta Lourdes.
Para o conselheiro Antônio Rodrigues da Silva, há a necessidade de o próprio conselho voltar a discutir o tema da educação inclusiva com outras perspectivas. “Sei de inúmeros casos de alunos que possuíam algum tipo de deficiência e que saíram muito melhor do que quando entraram na escola. Não há outro jeito: se a família desejar, é necessário garantir as condições para que todos os alunos frequentem a escola regular”, argumentou.
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