Uma prova, várias portas
O Enem é chave para estudantes conquistarem vagas em universidades públicas, bolsas de estudo, financiamento estudantil e certificado de conclusão do Ensino Médio
Fonte: Correio Braziliense (DF)
Entre as mais de 8,7 milhões de pessoas que farão o Exame Nacional do Ensino médio (Enem) em 8 e 9 de novembro, está William Araújo, 17 anos, Aluno da 1ª série do Ensino médio e estagiário em um banco. Como tantos moradores de Brasília, ele está de olho em concursos públicos e pretende usar a prova para conseguir o certificado de conclusão do Ensino médio antes de terminar os estudos. “Estou pensando lá na frente. Minha família me apoia.
Estou estudando para um concurso de nível médio e, se eu for aprovado, vou precisar do certificado. Se eu passar, é porque tenho capacidade e não preciso esperar”, acredita. Para ter direito ao benefício, é preciso completar 18 anos até o dia da primeira prova do Enem, além de conquistar pelo menos 450 pontos em cada uma das quatro provas objetivas e 500 pontos na redação. “Preciso me dedicar muito para me sair bem, principalmente em matemática, que é a disciplina em que tenho mais dificuldade”, diz. William não está sozinho na tarefa de usar o Enem para acelerar os estudos. Em 2013, 60.320 pessoas utilizaram a nota do exame para conseguir o certificado.
Ao abrirem mão de um fim de semana para resolver 180 questões e escrever uma redação, os jovens brasileiros fazem um grande investimento no futuro, já que a nota obtida no Enem abre várias portas. Além de substituir um supletivo, o estudante pode utilizá-la para se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) — que deve oferecer este ano cerca de 130 mil vagas em 118 instituições de Ensino superior —, conseguir bolsa numa instituição particular por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) ou financiamento pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Além desses caminhos, o Enem pode concretizar o sonho de quem quer estudar no exterior: a nota do exame é requisito para participar do programa Ciência sem Fronteiras e, desde maio, é aceita por duas universidades públicas de Portugal (Coimbra e Beira Interior) como alternativa de acesso de Alunos brasileiros.
Quando o Ministério da Educação (MEC) criou o Exame Nacional do Ensino médio, em 1998, a prova não tinha tanta funcionalidade. Servia para o Aluno fazer uma autoavaliação, mas, como não oferecia contrapartida, não despertava grande interesse. A partir de 2009, quando foi reformulado, o teste opcional passou a ser porta de entrada para diversas oportunidades e atraiu o interesse de milhões de Alunos. Segundo Artur Costa, consultor pedagógico do Sistema Ari de Sá, exames como esse são uma tendência mundial. “A nível de globalização, estamos nos equiparando a nações desenvolvidas. Em vários países, o acesso ao Ensino superior funciona desta maneira: um exame é usado como critério para diferentes processos seletivos”, explica. Artur acredita que o sistema é justo e democrático. “Assim, diminui-se a desigualdade, pois todos são avaliados sob os mesmos critérios e têm acesso às mesmas oportunidades”, completa.
A diretora e Professora de português de Centro de Ensino médio Setor Leste Joselma Ramos defende que o Enem é também uma grande oportunidade para Alunos em defasagem Escolar. “Temos estudantes que estão cerca de dois anos atrasados nos estudos. Mesmo assim, eles estão em perfeitas condições de serem aprovados pelo exame. Eles só precisam de estímulo. Além disso, Alunos que abandonaram a Escola pretendem voltar porque têm uma chance de concluir o Ensino médio de forma mais rápida”, complementa.
Acesso a uma universidade federal
Na concorrida disputa por uma vaga em medicina na Universidade de Brasília (UnB), Ana Luísa Pires (foto), 17 anos, aluna da 3ª série do Ensino médio, investe pesado nos estudos para o Enem.
O plano B é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Tenho alguns parentes que vivem em Florianópolis. Sei que ser aprovada na UnB será muito difícil e estou me preparando, caso eu tenha que me mudar para outra cidade”, diz. Ela faz simulados e vestibulares. “Busco estudar as disciplinas em que tenho mais dificuldade. No meu caso, o maior problema está na área de humanas”, conta. Apesar de estudar bastante, a jovem sabe equilibrar estudos e lazer. “Não deixo de viver minha vida. Frequento a igreja e saio com os amigos. Costumo deixar os horários bem marcados para não ficar muito atribulada”, garante.
O Enem mudou a perspectiva de muitos Alunos que, como Ana Luísa, não pensavam em sair de casa. A Professora de biologia do cursinho Olimpo Fernanda Castro avalia a mudança como positiva. “Com o Enem, a tendência é de que o Aluno, por ter mais opções além das faculdades de sua região, não fique se martirizando caso não consiga uma vaga na universidade mais próxima”, analisa. “Esse processo estimula a busca por universidades de outros estados, o que é muito positivo”, completa.