Mais alunos, menos diplomas

Mais alunos, menos diplomas

Censo mostra queda no número de graduados, apesar de aumento no total de universitários 

Fonte: O Globo (RJ)

 

O Censo da Educação Superior de 2013, divulgado ontem, traz uma notícia boa e outra ruim. Apesar de a pesquisa ratificar a tendência de aumento no número de estudantes matriculados, constatada ao longo da última década, também mostra que caiu o total de estudantes se formando nas faculdades brasileiras. Trata-se da primeira queda desse tipo registrada em dez anos, já que desde 2004 o universo de concluintes vinha crescendo continuamente. Os números foram divulgados pelo Ministério da Educação (MEC). Se considerados os dados históricos anteriores a 2003, que não levavam em conta cursos a distância, hoje medidos, trata-se da primeira queda desde 1992.

No ano passado, 991.010 Alunos de graduação concluíram seus cursos em todos os estados do Brasil. Isso representa uma redução de 5,7% em relação a 2012, quando se formaram 1.050.413, o recorde nacional. Houve também uma leve diminuição, de 0,2%, no total de ingressantes: em 2013, foram 2,742 milhões de novos Alunos, isto é, 4.139 a menos que em 2012. O total de matriculados foi de 7,037 milhões para 7,305 milhões, alta de 3,8%.

A queda no número de formandos foi puxada, principalmente, pela rede privada. Em 2012, 812.867 estudantes se formaram em faculdades particulares. Em 2013 foram 761.732. Ou seja, uma redução de 6,7%. Já a rede pública, que em 2012 registrou 237.546 concluintes, formou 229.278 novos profissionais em 2013, um recuo de 3,5%.

Ao longo da última década, contudo, o saldo ainda é positivo. O número de formandos cresceu quase na mesma proporção que o de matrículas. De 2003 a 2013, segundo o Censo da Educação Superior, o total de matrículas aumentou 85,6%, passando de 3,9 milhões para 7,3 milhões; e o de concluintes, 86,2%, subindo de 532,2 mil para 991 mil.

Em entrevista coletiva à tarde, o ministro da Educação, Henrique Paim, argumentou que a redução do número de formados em 2013 ocorreu em cursos presenciais da rede privada e em cursos a distância da rede pública. Paim chegou a admitir não ter explicação para o fenômeno e levantou a hipótese de que ações de regulação. À noite, o MEC divulgou nota informando que 97% da queda no número de concluintes estão relacionados a suspensão, redução de vagas ou descredenciamento em 14 instituições de Ensino superior do país.

- Não temos resposta. Precisamos de mais detalhes para analisar e cruzar com os dados da supervisão. Temos que ver se foi algo puxado por uma instituição ou uma região específica - disse Paim, durante a entrevista coletiva.

O presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Francisco Soares, observou que a redução de formados nos cursos a distância se deve ao fato de que muitos deles não tinham previsão de continuidade. Assim, depois de formarem a turma original, foram encerrados.

Paim destacou que a diminuição de 0,2% no número de ingressantes nos cursos superiores ocorreu na Educação a distância. Ele novamente aventou a possibilidade de que medidas de supervisão do MEC possam ter contribuído para reduzir o número de Alunos.

De acordo com Renato Pedrosa, do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp e especialista em políticas relacionadas à Educação superior, os números indicam baixa eficiência dos cursos a distância.

- No passado, houve um grande aumento nas entradas pelo Ensino a distância. Esse sistema, como sabemos, tem menos eficiência quando comparamos o número de ingressantes com o número de concluintes quatro ou seis anos depois. Por isso a eficiência total do sistema cai - analisou.

Já para a pesquisadora da Unicamp, Helena Sampaio, especialista em Ensino superior, a queda no número de formandos pode estar ligada à diversificação do perfil do universitário. - Com a expansão no número de vagas, mais jovens de baixa renda, adultos e idosos se interessam pelas faculdades. São pessoas que estudam à noite, trabalham e têm filho, fatores que dificultam a regularidade do estudo. É gente com mais idade, que muda de emprego, que se casa pela segunda vez, tem o terceiro filho...

Outro fenômeno apontado por Helena como possível causa do declínio de concluintes é a maior oferta de possibilidades no Ensino superior, tanto da parte do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) quanto do Prouni e do Fies. Nesse caso, a queda no total de formandos seria um "efeito colateral" das iniciativas do próprio MEC.

Mudança de curso influenciaria resultado Alunos que atrasaram a formatura ao mudar de graduação também podem estar nas contas do Censo. É o caso de Felipe Carvalho, de 25 anos. Hoje no 4º período de Economia no Ibmec, no Rio, ele chegou a cursar engenharia naval e administração:

- Com 16 anos, não temos maturidade para fazer a escolha certa. Por isso resolvi mudar de profissão quando vi que não era aquilo que eu queria. E abandonei mesmo a UFRJ, com matrícula aberta.

O censo revela ainda que 73,5% dos estudantes de graduação frequentavam instituições particulares em 2013, o que correspondia a 5,3 milhões de Alunos, ante 26,5% de matrículas em instituições públicas. A rede privada cresceu mais do que a pública entre 2012 e 2013, alcançando elevação de 4,5% no total de matrículas, ante 1,9% na pública. Em todo o país, 2.391 instituições de Ensino ofereceram 32.049 cursos de graduação, em 2013.

Os cursos de Administração continuavam sendo os mais procurados no ano passado, com 800,1 mil Alunos. Em segundo lugar, os de Direito, com 769,8 mil; e, em terceiro, os de Pedagogia, com 614,8 mil.

Segundo o censo, cursos de mestrado e doutorado tinham 203.717 Alunos no ano passado, enquanto os cursos sequenciais de formação específica atendiam 16.987. Somados os estudantes de graduação e pós-graduação, o Ensino superior brasileiro tinha 7,5 milhões de estudantes e 321,7 mil Professores lecionando.




ONLINE
60