Pouca explicação, mais promessas

Pouca explicação, mais promessas

Ideb 2013: Paim dá poucas explicações sobre resultado e faz novas promessas

Bruna Borges - UOL Educação - 07/09/2014 - São Paulo, SP

 

O ministro da educação, Henrique Paim, fez novas promessas, mas pouco explicou sobre o motivo de fraco desempenho do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (5) e apresentam uma melhora tímida nos primeiros anos do ensino fundamental e um fraco desempenho no ensino médio.

Para o ministro, o Brasil vive uma onda de melhoria dos anos iniciais que tende a avançar para os outros anos com o tempo. Ele admite que é preciso intensificar as políticas voltadas para o ensino médio. `A implantação de políticas de gestão voltadas ao ensino médio é mais recente do que o esforço que fizemos nos anos iniciais e nos anos finais. Ao longo desses anos o que conseguimos fazer no ensino médio foi criar condições básicas de funcionamento`, defendeu.

Na divulgação do Ideb 2011, o ministro à epoca, Aloizio Mercadante (atualmente na Casa Civil), também prometeu mudanças nessa etapa de ensino, que é tida como a mais problemática da educação básica. Houve um pacto com os Estados para o setor, mas as ações não repercutiram nos resultados de 2013.

Currículo flexível

Paim reconhece que é necessário flexibilizar o currículo do ensino médio e incluir a possibilidade da formação técnica. `A maioria dos educadores sabe que precisamos rever o ensino médio`, afirmou. `Nós temos um desafio sim que é encontrar uma fórmula de ter maior flexibilidade do currículo, redesenhar esse currículo a partir de áreas e permitir que esse currículo seja mais atrativo. O ensino médio precisa avançar em outros aspectos como a formação para o trabalho. E o Pronatec permite que no futuro tenha um a maior oportunidade para o mundo do trabalho.`

O ministro também afirmou que o governo federal está trabalhando para alcançar as metas de melhorias definidas no Plano Nacional de Educação, mas reconheceu que o processo ainda pode levar dois anos. `Esse plano tem metas e é uma lei que estabelece o Ministério da Educação como organizador, portanto o ministério deverá definir a base nacional comum. O prazo é de dois anos para ser implantado`, disse Paim.

Segundo Paim, o MEC está focado em dialogar com Estados e municípios para alcançar as metas estabelecidas pelo plano. O ministro, no entanto não explicou de que forma o diálogo tem sido feito, nem como as metas serão alcançadas.

`Esperamos que assim a gente melhore o desempenho dos anos finais e ensino médio. Nós acreditamos que essa pactuação entre as partes [União, Estados e municípios] vai nos ajudar nesse objetivo`, declarou. `É uma grande discussão que o país vai fazer. Não é um tema fácil, mas o Brasil precisa enfrentar.`

Segundo os dados divulgados hoje, o país só conseguiu superar a meta de qualidade nos primeiros anos do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), mas nas demais séries, as notas foram insatisfatórias.

Para Paim, a complexidade dos anos finais do ensino fundamental e médio explica esse desempenho. `Essa onda de melhoria que chegou aos anos iniciais acaba chegando, mas não no ritmo necessário e isso faz com que haja uma reflexão que está concentrada nas questões estruturais. Gerir uma escola de ensino médio exige uma complexidade maior porque é uma escola maior, tem quantidade maior de professores, que nem sempre trabalham só nesta escola e isso resulta numa complexidade maior`, explicou o ministro.

Questionado sobre investimentos, o ministro reconheceu que é preciso ampliar o gasto do governo com educação, mas defendeu que seja melhorada a gestão do sistema educacional e repetiu a tese de que a complexidade do ensino médio explica seu desempenho insatisfatório.

`É preciso avançar nos investimentos. O que não significa que não precisamos investir a melhoria da gestão`, disse Paim.

 

Apenas quatro estados atingem metas do Ideb para o ensino médio

Aline Leal - Repórter da Agência Brasil - Revista Gestão Universitária - 08/09/2014 - Belo Horizonte, MG

 

Apenas quatro estados atingiram as metas individuais de qualidade do ensino médio, estipuladas para 2013, de acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado hoje (5), enquanto 13 estados tiveram queda de desempenho em relação à pesquisa de 2011 e os demais melhoraram, mão não o suficiente para alcançar as metas individuais.

O Amazonas, tinha a projeção de desempenho mais baixa, de apenas 3 pontos, e alcançou 3,2; Pernambuco ficou com 3,8 e superou a meta de 3,6; Rio de Janeiro e Goiás ficaram com nota 4, enquanto suas metas eram 3,8.

A exemplo das outras 23 unidades da federação, a nota nacional de 2013 não atingiu a meta estipulada pelo Ministério da Educação (MEC) para o ensino médio, que era 3,9 pontos. A média ficou nos mesmos 3,7 de 2011. Para avaliar o desempenho dos estados, o MEC fixa uma meta para cada estado, além de uma nacional, a serem perseguidas.

Segundo o ministro da Educação, Henrique Paim, o governo previu uma influência maior da melhoria dos primeiros anos do ensino fundamental no desempenho dos anos seguintes, até o término do ensino médio, o que não aconteceu.

Além disso, o ministro reconheceu que há necessidade de reavaliar o currículo do ensino fundamental, o que, segundo ele, já está sendo discutido. “Temos o desafio de encontrar uma forma de ter maior flexibilidade no currículo, de redesenhar o currículo a partir de arestas e permitir que ele seja mais atrativo”, disse Paim, acrescentando que também é preciso avançar na formação para o trabalho.

Nos anos finais do ensino fundamental, que vão do 6º ao 9º ano, Pernambuco, Amazonas, Piauí, Acre, Ceará, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais atingiram a meta para 2013. O Brasil como um todo não atingiu a meta de 4,4, ficando nos 4,2 em 2013, levemente acima do 4,1 de 2011.

A meta nacional só foi atingida nos primeiros anos do ensino fundamental, que vão do 1º ao 5º anos. Enquanto a meta era 4,9, a nota alcançada foi 5,2.

O Ideb é um indicador federal calculado a cada dois anos, que alia as taxas de aprovação no ensino básico ao desempenho dos alunos na Prova Brasil, que avalia conhecimentos em português e matemática.

O Ideb e a melhoria da educação

Paula Louzano* - O Estado de São Paulo - 06/09/2014 - São Paulo, SP


`É triste ver o MEC perder a chance de divulgar um conjunto de informação útil para a análise dos nossos problemas educacionais`

A divulgação dos resultados do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) de 2013 mostra mais uma vez nossa dificuldade de irmos além dos rankings. É triste ver o MEC perder a chance de divulgar um conjunto de informação útil para a análise dos nossos problemas educacionais e dos possíveis caminhos a seguir no dia que a educação vira manchete nacional.

O Ideb tem em sua composição a média de matemática e língua portuguesa de uma rede de ensino ponderada pela taxa de aprovação. Portanto, para aumentar o Ideb uma rede pode aprovar mais alunos ou aumentar seu aprendizado em matemática e língua portuguesa. Como as duas ações são importantes e deveriam estar interligadas, as redes de ensino que estão fazendo um bom trabalho educacional são exatamente aquelas que são capazes de melhorar os dois indicadores, e isso não se vê refletido necessariamente na nota do Ideb. Vamos esperar a informação do desempenho em cada uma das disciplinas que compõe o Ideb, entregues em uma métrica que permite analisar pedagogicamente os problemas educacionais, para podermos aprofundar a análise de um desafio que parece se repetir desde 2009: não logramos transformar a melhoria na qualidade da educação dos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano) em melhorias no ciclo seguinte (6º ao 9º ano) ou mesmo no ensino médio.

Em termos práticos, isso significa que de todos os alunos que chegam ao 6º ano sabendo divisão com divisor de dois dígitos, somente metade desses vai aprender no final do 9º ano a transformar fração em porcentagem e apenas a metade da metade vai sair do ensino médio sabendo calcular juros simples. Além disso, ao mesmo tempo em que aumenta o contingente de alunos a quem é negado um conhecimento poderoso, aumentamos o número de reprovados e expulsos do nosso sistema educacional.

Portanto, os sistemas de educação que deveriam ser escrutinados para que possamos aprender são aqueles que estão conseguindo melhorar o aprendizado sem reprovar ou expulsar maciçamente os que apresentam dificuldade. Infelizmente, o ranking do Ideb não é capaz de nos fornecer esta informação, razão pela qual o conjunto dos dados coletados pelo Inep precisa ser divulgado.

(*)Doutora em educação por Harvard




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