Um alento para a Educação
Segundo o Ideb, as escolas do Rio Grande do Sul melhoraram entre 2011 e 2013. A pontuação total das redes pública e privada subiu nos três níveis avaliados
Fonte: Zero Hora (RS) 06 de setembro de 2014
As Escolas do Rio Grande do Sul melhoraram entre 2011 e 2013, segundo dados do Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) divulgados ontem pelo governo federal. A pontuação total das redes pública e privada subiu nos três níveis avaliados, fazendo o Estado galgar posições do ranking nacional. Apesar desse avanço, as metas estabelecidas para o Ensino médio e para os anos finais do Ensino fundamental não foram atingidas.O Ideb avalia a qualidade do Ensino no país, de dois em dois anos, com base em dados sobre aprovação e desempenho Escolar obtidos por meio de avaliações do MEC.
Um ponto de destaque nos números divulgados ontem foi o desempenho do Ensino médio gaúcho. Em um cenário geral de deterioração da qualidade – 13 Estados recuaram no Ideb e cinco ficaram estagnados –, o Rio Grande do Sul viu seu conceito subir de 3,7 para 3,9.Esse crescimento deveu-se à rede estadual. Enquanto os colégios privados gaúchos retrocederam (o Ideb deles caiu de 5,9 para 5,7 – as Escolas estaduais melhoraram a pontuação (de 3,4 para 3,7). Mesmo sem terem atingido a meta (4), saíram do nono posto no ranking nacional de 2011 para o segundo no deste ano, atrás apenas de Goiás e empatadas com São Paulo.
O resultado foi festejado pelo secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, que atribuiu a evolução à reformulação implantada no Médio a partir de 2012. Segundo o secretário, houve reforma no currículo, incentivo à pesquisa, motivação dos estudantes, formação dos Professores e melhorias nos prédios Escolares. Outra medida de impacto, para o secretário, foi o acréscimo de 600 horas no ano Escolar, o que aumentou o tempo de estudo.– Implantamos uma pedagogia ativa, em que os Alunos não são pacientes – afirmou.Azevedo minimizou o fato de a rede estadual não ter alcançado a meta que estava fixada: – O importante é que estamos crescendo e melhorando, não só em relação a nós mesmos, mas em relação a outros Estados – argumentou.Especialistas foram mais contidos na avaliação. Fernando Becker, Professor de Psicologia da Educação na UFRGS, avalia que o avanço não é “tão significativo assim”, em termos estatísticos. Disse que outros Estados estagnaram ou decaíram, o que facilitou a progressão gaúcha. No Ensino médio público, 16 Estados pioraram.– Pode-se considerar que houve uma melhora, mas não uma melhora absoluta.
Deve ser comparada ao que está acontecendo com os outros – observou.Nos anos iniciais do Ensino fundamental (do 1º ao 5º), o Rio Grande do Sul como um todo também melhorou, passando de oitavo para sétimo lugar no ranking. Houve avanços na rede pública (de 5,1 para 5,4) e na rede privada (6,7 para 7,2), que conseguiram suplantar a meta (respectivamente de 5,2 e 6,7). As Escolas estaduais deram um salto nesse nível de Ensino (de 5,1 para 5,5), mas se mantiveram na sétima posição em comparação com os demais Estados.
O resultado também foi atribuído pela secretaria a uma reformulação dos currículos.Para a coordenadora-geral do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, é necessário ponderar que os Estados do Sul e do Sudeste se beneficiam por ter historicamente um nível mais alto.– É um resultado que dá para nos deixar felizes, mas é preciso ressaltar que dadas as condições econômicas seria possível avançar ainda mais nessas regiões.
Resultados modestos nos anos finais do Ensino Fundamental
Os resultados mais modestos vieram nos anos finais do Ensino fundamental (6º ao 9º). A meta gaúcha era um Ideb de 4,7, mas o Estado avançou muito pouco (de 4,1 para 4,2) e ficou longe de atingir o objetivo. Obteve apenas a 12ª melhor posição nacional. Nesse nível, a rede estadual, que se destacou nos outros ciclos da Educação básica, avançou apenas 0,1 ponto, aparecendo como a nona no ranking. Azevedo disse que etapa ainda não foi possível realizar uma reformulação.– Os anos finais do Ensino fundamental foram totalmente esquecidos no país, não há política, está mal equacionada, as Escolas têm dificuldades. Essa estrutura mal resolvida nos anos finais tem reflexo no Ensino médio – avalia Alejandra.No cenário nacional, o Ensino médio e os anos finais do Fundamental não conseguiram atingir as metas previstas de qualidade.
O Ensino secundário, aliás, não evoluiu nada em comparação com 2011. Nos anos iniciais, o Ideb superou a meta em 0,3 ponto. O ministro da Educação, Henrique Paim, disse considerar que, futuramente, o avanço dos anos iniciais poderá ter impacto positivo nas etapas posteriores. Quanto ao Médio, disse que medidas estão em estudo:– Precisamos ampliar a flexibilidade do currículo.
Colégios privados do Estado perdem pontos no índice
Na contramão dos avanços conquistados pela Escola pública, o Ensino privado gaúcho perdeu pontos no Ideb, recuando de 5,9 para 5,7 na avaliação do Ensino médio.
O presidente do Sindicato do Ensino Privado (Sinepe) no Estado, Bruno Eizerik, disse que o setor irá analisar detidamente os resultados e tirar suas conclusões. Eizerik não quis se manifestar mais aprofundadamente sobre o balanço do Ideb, ontem, porque estava digerindo os dados. No entanto, de forma genérica, disse que a posição foi “boa”, mas não deixou as direções dos colégios satisfeitas.
O dirigente comentou que a aferição do Ministério da Educação via Ideb é feita por amostragem, o que traz dificuldades. Exemplificou que uma Escola participa numa edição, mas não continua sendo testada posteriormente. É substituída por outra.– O Sinepe não compactua muito com rankings e comparativos, ainda mais o Ideb, que é feito por amostragem – afirmou Eizerik.
Professores
COM POUCO ACESSO A TECNOLOGIA
Para Fernando Becker, Professor de Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), existem sinais que podem explicar a perda de qualidade de Escolas particulares. Um deles é “o desvio perigoso” de buscar recursos na literatura de autoajuda, em desprestígio à ciência.– Escola tem de ensinar o que a ciência produziu, não o senso comum, que inclui a autoajuda – disse.Outra evidência é a defasagem tecnológica entre Professores e Alunos, a maioria de famílias abastadas, que dispõem de tablets e iPhones. Em função do descompasso, alerta Becker, as aulas são mais de auditório do que de laboratório.
Deveria ser ao contrário, para que o aprendizado melhorasse.– Essas situações estão botando o magistério do Ensino privado contra a parede, e ele não está sabendo reagir – observou o Professor da UFRGS. A coordenadora–geral do movimento Todos Pela Educação, Alejandra Meraz Velasco, disse que a queda na performance da rede privada merece atenção, por interessar a sociedade. Sugeriu que as secretarias estaduais se preocupem, mesmo não sendo responsáveis pela prestação do serviço.
Editorial: O avanço do Estado no Ideb
As notas médias do Índice de Desenvolvimento da Educação básica caíram em 16 Estados, mas o Rio Grande do Sul saltou da 10ª para a segunda posição.
Visto por Educadores como a etapa mais desafiadora do Ensino, pelos reflexos que tem na formação profissional, o Ensino médio registrou uma piora no país de maneira geral, ficando abaixo da meta definida pelo Ministério da Educação (MEC) e com um desempenho muito aquém do registrado em nações desenvolvidas. Nesse quadro, ganha particular importância o salto registrado pelo Ensino médio estadual no Rio Grande do Sul, que, ao passar de 3,4 pontos em 2011 para 3,7 pontos no Índice de Desenvolvimento da Educação básica (Ideb) de 2013, subiu do 10º para o segundo lugar no ranking, figurando ao lado de São Paulo. O resultado, promissor, precisa motivar os responsáveis pela formulação de políticas de Ensino, para que o Estado continue perseguindo níveis de excelência nessa área.
Com poucas exceções, o Ideb de 2013 vai exigir ações imediatas da parte de governadores. Em nada menos de 16 Estados, as notas médias caíram em relação às de 2011. De maneira geral, o levantamento demonstra que o país superou as metas oficiais no ciclo inicial do Ensino fundamental (do 1º ao 5º ano). Mas, assim como ocorreu no Ensino médio, ficou abaixo das pretensões também no final do Ensino fundamental (do 6º ao 9º ano). O resultado apressa a necessidade de providências voltadas tanto para a rede pública (estadual e municipal) quanto para a rede privada. Um dos aspectos relevantes desse indicador é justamente o de facilitar o planejamento e a execução de políticas educacionais com base em metas bianuais definidas até 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil.
A vantagem do Ideb é a de simplificar a aferição das políticas educacionais por parte de gestores estaduais e municipais. O trabalho é objetivado porque são levados em conta dois fatores com interferência direta na qualidade da Educação: rendimento Escolar, com base em taxas de aprovação, reprovação e abandono, e médias de desempenho na Prova Brasil. Isso significa que, para uma Escola ou rede alcançar resultado melhor, é preciso que o Aluno aprenda a lidar satisfatoriamente com a língua portuguesa e a matemática, mantenha a frequência em sala de aula e não precise repetir o ano. Bons resultados, porém, não dependem unicamente dos estudantes, mas sobretudo de políticas públicas adequadas.
Ensino de qualidade, como o que o país precisa assegurar a todos os brasileiros, exige o aprofundamento de ferramentas como o Ideb e a adoção das correções necessárias. Envolve também a formação, a avaliação constante e a valorização dos Educadores.