Mais atenção ao futuro governador
Educação pede mais atenção ao futuro governador
Qualidade no ensino demanda melhores salários, capacitação e autonomia do professor
Foto: Jean Pimentel / Agencia RBS
Não é de hoje que a falta de incentivos à carreira de professor dos Ensino Básico está no topo da lista de reclamações da classe. O problema extrapola os limites da sala de aula e impacta fortemente na qualidade do ensino. O Diário dá continuidade a uma série de reportagens que vai mostrar os problemas que Santa Maria espera ver resolvidos pelo governador escolhido nas próximas eleições.
Entre as principais reclamações da categoria no Estado estão: não cumprimento da lei do piso salarial do magistério e da lei que destina um terço da atividade semanal para a preparação de trabalhos e reuniões pedagógicas, defasagens na formação continuada e na modernização do ensino e mais autonomia.
Além disso, a doutora em educação e professora do departamento de Administração Escolar da UFSM Rosane Carneiro Sarturi, afirma que para haver qualidade e valorização do setor é preciso maior participação de todos os envolvidos no ambiente escolar:
_ O desafio maior tem sido colocar em prática a implementação da reforma do ensino. Não é só o diretor que tem de atuar. Tem de haver participação de um conselho escolar, dos demais professores, funcionários, alunos e familiares.
Baixo desempenho
Problemas na formação e na capacitação dos docentes estão entre as principais razões para o baixo desempenho de estudantes em avaliações nacionais e internacionais. Mesmo sendo a 6ª economia do mundo, o Brasil ainda está no 88º lugar no ranking mundial da educação, segundo a Unesco. Dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) apontam que das quatro avaliações feitas até agora, a última divulgada na sexta-feira, só em 2007 e 2013 é que Santa Maria ultrapassou a meta. A cidade tem o pior desempenho entre as cinco maiores da região central.
Para a doutora em educação pela UFRGS Dóris Bolzan, são necessárias políticas institucionais de formação que abordem as necessidades do dia a dia dos professores. Segundo ela, hoje, as atividades são sazonais e, depois, o professor ainda tem de recuperar a aula com os alunos.
_ O modo como essa formação é feita é que é o grande problema. A escola precisaria de um tempo de formação que não é datado, mas, sim, permanente, por meio de assessoramento pedagógico, com planejamentos e avaliações do seu cotidiano, para ter condições de enfrentamento da sua realidade.
Dinheiro à vista
Com a sanção do Plano Nacional de Educação (PNE), em junho deste ano, o Estado, que hoje aplica 2,28% do PIB em educação, deverá quadruplicar esse percentual até o final desta década. Isso percentual para todo o país. Até 2020, o ensino brasileiro deve receber investimentos de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). O PNE também assegura o repasse de 75% dos royalties de petróleo e 50% do excedente em óleo do pré-sal, que deverão ser usados para financiar a educação.
A normativa ainda prevê que todos os planos estaduais e municipais de educação devem ser criados ou adaptados em consonância com um conjunto de 20 objetivos que regem desde a educação infantil até a alfabetização de adultos.
Para o Cpers/Sindicato, a cobrança vai bem além do que ver esses repasses nas contas bancárias das escolas. É preciso abrir discussão para saber onde serão investidos os novos valores.
_ Sabemos que a questão financeira pesa no fazer pedagógico. Os recursos chegam nas escolas, mas é preciso cobrar preparação do próprio Estado _ explica a presidente do Cpers/Sindicato, Helenir Aguiar Oliveira.
Profissão pouco atrativa
A baixa remuneração dos professores é uma das principais justificativas para a pouca atratividade na carreira. Pesquisa da Fundação Victor Civita aponta que apenas 2% dos estudantes querem seguir no magistério. Nos últimos anos, o Estado apresentou evolução na remuneração dos professores. A média salarial é de R$ 848,70 para contratos de 20 horas-aula por semana para professores em início de carreira. Para alcançar o piso nacional, que é R$ 1.697 para 40 horas semanais, o educador que não chega a esse patamar ganha um complemento. Segundo o sindicato, isso não quer dizer que a lei é obedecida na íntegra. Mas não é apenas a remuneração que faz a categoria se sentir desvalorizada.
_ Há uma espécie de perda do sentido do trabalho como professor. Isso em função da crítica cada vez mais intensa da escola e do conhecimento escolar e de seus significados na vida humana contemporânea, como o próprio salário, incompatível com as exigências de escolarização e de trabalho. Historicamente, no Brasil, não houve investimentos substanciais na profissão de professores _ afirma Liliana Soares Ferreira, pedagoga e professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM.
Liliana ainda explica que qualquer ação com relação à modificação desse quadro exige que se repense a escola:
_ Defendo que, a partir da elaboração de comunidades escolares, os professores possam reestabelecer os sentidos de seu trabalho e de sua profissão, reorganizá-los, e, assim, trabalhar com base em princípios de autonomia e tendo o pedagógico como critério para designar seu trabalho.
DIÁRIO DE SANTA MARIA