Não me mande e-mails!
03/09/2014
A história foi divulgada na revista eletrônica Slate: Spring-Serenity Duvall, professora de comunicação na Carolina do Norte, proibiu alunos de uma turma de lhe enviar e-mails, exceto para marcar reunião com ela.
O motivo? Ela estava cansada de perder tempo com mensagens cujas perguntas já haviam sido respondidas na aula ou constavam do plano do curso.Nas suas palavras, "os professores têm sido tomados de assalto pelos e-mails dos alunos, escritos muitas vezes com informalidade inadequada e com a ideia de que eles têm que ser respondidos na mesma hora."
Ela tinha tentado estabelecer regras para o uso dos e-mails. Como não adiantou, decidiu dar um basta e vetou o correio digital. Quem quisesse falar, que o fizesse pessoalmente, na classe ou na sala da professora. Caso contrário, que estudasse sozinho.
A estratégia foi adotada em uma classe e os resultados foram positivos. A professora parou de perder tempo com questões já respondidas, os alunos melhoraram sua conduta na sala de aula e seu rendimento acadêmico.
A mudança no comportamento na classe ou em relação aos trabalhos, pode valer tanto nos EUA como no Brasil. Situação bem diferente está no tempo remunerado para atendimento dos alunos fora da sala de aula, que não existe na contratação por hora-aula.
De qualquer forma, o tema traz a debate o sobretrabalho acrescido à atividade docente em razão do uso da tecnologia na educação.
Veja como a professora descreveu sua experiência:
Banir os e-mails dos alunos - sim, nós podemos!* Spring-Serenity Duvall
No semestre passado, tentei algo novo: proibi meus alunos de ensino superior de estudos de mídia de me enviar e-mails por qualquer outro motivo que não fosse para marcar uma hora para nos encontrarmos pessoalmente. Durante anos, os e-mails dos alunos têm tomado de assalto os professores, às vezes contendo uma informalidade inapropriada, às vezes simplesmente porque os alunos não compreendem que os professores não têm que responder imediatamente. Na maioria das vezes, os e-mails dos alunos são um desperdício de tempo para todos porque as perguntas são tão básicas que as respostas simplesmente já estão no programa de aula.
Em meu esforço para ensinar aos alunos o uso adequado de e-mails, tentei cobrir todos os cenários possíveis - quando enviar o e-mail, quando não, como escrever no campo “assunto” - , gastei aulas discutindo uma política para uso de e-mails e passei horas e horas respondendo e-mails que desafiavam essa política.
Como forma de autopreservação, decidi: chega! Este é o lugar onde eu faço minhas regras! No meu curso de gênero e mídia de nível sênior, instituí a política do “não-email” e (aqui é a parte difícil) a sigo religiosamente. Expliquei aos meus alunos que havia algumas razões muito sólidas para adotá-la:
1. Eles precisavam ler e conhecer o programa e prestar atenção na aula, ao invés de usar o e-mail como uma muleta para fazer perguntas superficiais. Pequenas medidas como estas fariam esses alunos mais conscientes e engajados.
2. Ler as instruções das tarefas com cuidado e fazer perguntas na classe ou no horário de trabalho os forçariam a trabalhar a ideia de responsabilidade e eliminaria os e-mails de última hora.
3. As nossas conversas seriam feitas pessoalmente, na minha sala ou na classe e não por e-mail, o que nos permitiria conhecer melhor uns aos outros e promover um ambiente mais educativo.
Fico feliz em informar que foi um sucesso absoluto. É difícil dizer como foi maravilhoso para os estudantes pararem mais vezes para fazer perguntas sobre os trabalhos durante as aulas e ter alunos que superaram as expectativas do programa do curso. Suas (dos alunos) produções acadêmicas foram melhores e eles estavam mais preparados para as aulas, mais do que qualquer classe em que havia lecionado.
Também é difícil contabilizar o tempo que eu economizei por não responder às centenas de e-mails sem importância ao longo do semestre. Posso dizer que a diferença na minha caixa de entrada foi perceptível e bem-vinda.
Pretendo expandir e adaptar minha política para e-mails nos próximos semestres e estou curiosa para saber o que os alunos irão escrever em suas avaliações. Eles foram surpreendidos no início, mas ao longo do semestre a única observaçãos que fizeram foi dizer (pessoalmente!), antes de fazer suas perguntas: "Eu sei que você não quer e-mails, então ..."
A experiência atendeu as minhas expectativas. Como disse aos meus alunos, não me oponho ao e-mail em geral e eu sou uma das pessoas mais conectadas que conheço. Mas como estudiosa da comunicação, acredito ser fundamental tomarmos decisões sobre o uso consciente da mídia.
Na condição de professora de comunicação, o meu esforço de ensinar uma etiqueta para o uso de emails utilizando políticas abrangentes falharam. A substituição do email por uma relação direta entre professor e aluno foi o ato mais poderoso que poderia ter tomado e isso levou a conversas produtivas sobre como temos explorado hábitos de comunicação.
ATUALIZAÇÃO
Como escrevi acima, eu realmente queria ver se os alunos usariam as avaliações do cursos para reagir à política de e-mails que limitava a comunicação. As avaliações relevantes finalmente chegaram esta semana e tenho o prazer de relatar alguns resultados positivos. Em primeiro lugar, a pontuação geral dessa classe superou a minha média e os comentários sobre o curso foram esmagadoramente positivos. Em particular, as afirmações: "O professor era acessível para ajudar fora da sala de aula", "A aparente preocupação do professor para o progresso dos alunos no curso era:", e "Em geral, o ensino deste curso foi:" foram todas classificadas como excelente. Dos 48 estudantes do curso, divididos em duas turmas, apenas um escreveu um comentário mencionando a política de e-mails. O comentário, transcrito textualmente é: “Eu queria ter podido enviar mais emails para ela em vez de apenas agendar encontros. Muitas vezes eu tinha perguntas que demandavam apenas um ‘sim’ ou ‘não’ como resposta. Além disso, ficava difícil para agendar um tempo entre os compromissos dela, minhas aulas e minha agenda de trabalho para algo tão pequeno. Eu preferiria ter me encontrado pessoalmente com ela, mas para fazer algumas perguntas rápidas isso parecia tedioso”. Francamente , eu simpatizo com o ponto de vista do aluno, mas não o bastante para mudar minha opinião sobre o peso positivo dessa política para mim e para os meus alunos.
Estou começando o semestre numa nova instituição, onde vou tentar, mais uma vez, restringir o uso dos e-mails. Levo dois pontos-chave da minha própria experiência e avaliações do curso. Primeiro, os alunos podem adaptar-se a uma política que está claramente explicada e implementada de forma consistente e pedagógica. Em segundo lugar, se o professor está disponível fora da classe e realmente se preocupa com o desenvolvimento dos alunos, os alunos valorizarão as interações cara a cara. Eu também estou curiosa para saber o que os outros pensam sobre as políticas de e-mails, por favor, deixe um comentário!
Boa sorte para todos nós que vamos começar um novo semestre!
E você o que pensa sobre isso? Você tem uma política de e-mail e gostaria de ter uma classe livre de e-mail?
*Tradução de Kyra Piscitelli. Clique aqui para acessar a versão original, em inglês.
http://www.fepesp.org.br/ensino-superior/noticias/nao-me-mande-e-mails