Escolas públicas de qualidade

Escolas públicas de qualidade

"Mudar o cenário é urgente, e uma discussão centrada nas boas práticas tem tudo para ser um bom caminho", afirma jornal

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)  31 de agosto de 2014

 

Estudo da Fundação Lemann constatou que 215 Escolas públicas no País, lidando com estudantes de baixa renda familiar, conseguiram melhorar significativamente a qualidade do seu Ensino. O estudo, que busca identificar as razões do sucesso dessas Escolas, mostra que é possível um Ensino público de qualidade.

No final de 2012, a Fundação Lemann, em parceria com o Itaú BBA, lançou o estudo Excelência com Equidade: as lições das Escolas brasileiras que oferecem Educação de qualidade a Alunos de baixo nível socioeconômico. Pretendia investigar as características comuns das Escolas que, mesmo em condições adversas, conseguem garantir o aprendizado de todos os Alunos. Os resultados estão disponíveis no portal QEdu (www.qedu.com.br). O primeiro passo do estudo foi identificar Escolas públicas, de todo o Brasil, que lidam com Alunos de baixo nível socioeconômico.

Deste grupo, filtraram-se as Escolas nas quais pelo menos 70% dos Alunos haviam participado da Prova Brasil – uma avaliação desenvolvida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) com estudantes do 5.º e 9.º anos do Ensino fundamental de todas as Escolas públicas, com mais de 20 Alunos em cada ano avaliado, das redes municipais, estaduais e federal – e haviam obtido um Ideb maior ou igual a 6, com pelo menos 70% dos Alunos no nível adequado de proficiência e no máximo 5% dos Alunos no nível insuficiente.

Depois, fez-se uma verificação para checar se os resultados eram consistentes ao longo do tempo, isto é, se o Ideb e os dados de aprendizado evoluíram de 2007 para 2009 e também de 2009 para 2011. Os cruzamentos resultaram em um grupo de 215 Escolas, sendo 109 em Minas Gerais, 31 no Paraná, 21 em São Paulo, 18 no Ceará e 8 no Rio de Janeiro. Delas, foram escolhidas seis para um relatório qualitativo, na busca das causas do bom desempenho. Constatou-se que o segredo do sucesso não está nos recursos tecnológicos. A receita passa pelo acompanhamento individual dos Alunos e o uso de resultados das avaliações para embasar ações pedagógicas.

O estudo mostrou a importância decisiva do cuidado com a implementação das práticas que a Escola almeja tornar realidade. Não basta escolher bem as práticas. É fundamental o acompanhamento da estratégia adotada para que essas políticas de fato produzam bons resultados. Em complemento ao estudo Excelência com Equidade, a Fundação Lemann investiga as boas práticas relativas ao aprendizado de matemática e de português.

As descobertas relativas à proficiência nessas disciplinas apontam para a importância de um ambiente Escolar favorável, instalações e equipamentos em boas condições, oferta de oportunidades de aprendizado, condições de trabalho dos Professores e a coesão intraEscolar (como, por exemplo, a troca de experiências entre os Docentes). Segundo Ernesto Martins Faria, coordenador de projetos da Fundação Lemann, diante do fato de o Ensino ser um processo contínuo e as salas de aula muito heterogêneas, são fundamentais a coordenação entre os Educadores e a troca de experiências.

O foco do estudo é descobrir características que possam ser replicáveis em outras Escolas, com baixo custo e probabilidade de ter resultados similares em curto prazo. Nem tudo, no entanto, são boas notícias. De acordo com o Censo Escolar 2013, mais de 8,5 milhões de estudantes da Educação básica (22,9%) estão com atraso Escolar de dois anos ou mais. Não estão na série correta 6,1 milhões de estudantes do fundamental (21%) e 2,4 milhões de estudantes do Ensino médio (29,5%). Entre as regiões, a Norte concentra o maior número de Alunos com atraso durante a Educação básica. No Ensino médio, o total de Alunos com atraso no 1.º ano da rede pública é mais da metade dos matriculados (50,6%).

Um Ensino público deficiente, como infelizmente se observa no Brasil, é sintoma claro de injustiça, pois se nega a milhões de jovens o direito à igualdade de oportunidades. Mudar o cenário é urgente, e uma discussão centrada nas boas práticas tem tudo para ser um bom caminho. 



 




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