Divulgar os resultados do Enem
Há algum mal em divulgar os resultados do Enem?
Escrito por Hamilton Werneck
Se formos procurar as razões para a criação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), encontramos que a função precípua desse exame era fazer uma avaliação do ensino médio. No momento em que o Ministério da Educação transformou-o em um novo tipo de vestibular, começamos a olhar o semblante dessa “criança” e percebemos que a sua fisionomia era muito parecida com o bisavô dela, o vestibular da década de 1970.
Alegam os mentores dessa nova ideia implantada no Brasil que era possível fazer as duas coisas: avaliar o ensino médio e selecionar para os cursos do ensino superior. Em um aspecto foi bom, quanto à seleção, porque se unificou o sistema e a maioria das universidades públicas passou a usar essa ferramenta. Além disso, quase todas as faculdades particulares aderiram – embora para cursos de grande concorrência ainda haja uma peregrinação de jovens pelo país, caso tenham condições econômicas para fazer mais de dez vestibulares.
Instalou-se, então, a discórdia. As escolas de ensino médio começaram a usar os resultados para fazer uma comparação entre si, tanto nos estados quanto nos municípios, e essa competição resultava em mais ou menos matrículas, subida ou descida do conceito dos estabelecimentos de ensino.
Parece-me que setores do Ministério da Educação, sobretudo os que não leem direito a Constituição brasileira, acham que a competição é tipicamente capitalista e deveria ser evitada. Mas, como não podem deixar de divulgar resultados, inventaram de separar a divulgação dos pontos em redação, pensando que evitariam a danosa competição que se instalou.
O desfecho foi rápido: as escolas passaram a observar os resultados das provas de múltipla escolha e estabeleceram, na prática, uma competição quanto a esse aspecto. De nada adiantou.
O mais sensato – dado que, enquanto houver menor quantidade de vagas em relação aos candidatos, sempre haverá competição – seria que os resultados fossem todos divulgados. Não adianta com pequenas medidas querer a derrubada do sistema capitalista por meio do adiamento dos resultados das redações.
Afinal, se nossa Constituição estabelece os limites do equilíbrio entre o empreendimento público e o privado, siga-se a Constituição. Qual, afinal, é o grande mal que se faz quando o poder executivo provoca competição para privatizar uma rodovia ou a exploração de petróleo?
Mas houve, neste início de ano, uma falha grave: publicaram os resultados das provas de múltipla escolha e, não se sabe a razão, algumas escolas não tiveram seus nomes contemplados. Essa falta de competência ou essa maldade gerou problemas em vários lugares, visto que as famílias queriam saber – e com razão – qual o resultado do colégio onde o filho está matriculado.
Precisamos encarar a realidade tal qual ela é. Não adianta querer “tapar o sol com a peneira”. Porém, quando essa “peneira” tem aberturas diferentes para uns e para outros, quando as informações são truncadas, elas causam um mal-estar gerado pelo próprio poder que deveria estimular o contrário, ou seja, exatamente o bem-estar geral.
Há questões muito mais importantes para serem analisadas. Elas são direito do cidadão que paga impostos. E, por fim, pergunta-se: Faz mal publicá-las?
Artigo publicado na edição de março de 2014.