As pessoas e os números

As pessoas e os números

 

Sem ênfase na educação, é praticamente impossível  atingir Objetivos do Milênio

Jorge Werthein


Aproximadamente 57 milhões de crianças estão fora da escola em todo o  planeta. Esse número pode não assustar quem lembra que há cerca de sete bilhões  de habitantes no mundo, mas deveria preocupar — e muito.

Os motivos, tão evidentes quanto frequentemente esquecidos, são de ordem  individual e coletiva. Do ponto de vista coletivo, está provado que a educação  de qualidade ao longo de toda a vida é uma das bases — se não a principal — para  o desenvolvimento econômico-social sustentável. Dela derivam numerosos  benefícios coletivos, como equidade, coesão e justiça sociais; consciência  cívica e ambiental; saúde e segurança públicas etc. Do ponto de vista  individual, a educação favorece o crescimento pessoal e profissional, a  capacidade produtiva, a criatividade, o discernimento, o bem-estar.  Naturalmente, ambos os aspectos (coletivo e individual) complementam-se.

No ano 2000, a Organização das Nações Unidas estabeleceu os oito Objetivos do  Desenvolvimento do Milênio (ODM):

1 - Reduzir a pobreza;

2 - Alcançar a educação  básica universal;

3 - Garantir a igualdade entre os sexos e a autonomia das  mulheres;

4 - Reduzir a mortalidade infantil;

5 - Melhorar a saúde materna;

6 -  Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças;

7 - Garantir a sustentabilidade  ambiental;

8 - Estabelecer uma parceria mundial pelo desenvolvimento. No  entanto, sem a devida ênfase na educação, é praticamente impossível atingir os  demais objetivos.

O ano de 2015 é a data-limite para que as 189 nações que assinaram o  Compromisso do Milênio junto à ONU cumpram-no. No que diz respeito à educação,  nações desenvolvidas ou em desenvolvimento estão diante da responsabilidade de  melhorar ou manter a qualidade do ensino e do aprendizado (o acesso à educação  já não basta); reduzir ou erradicar a evasão escolar (ingressar na escola é  insuficiente); valorizar, qualificar e estimular os professores continuamente;  garantir a segurança e a saúde física e mental dos estudantes no ambiente  escolar; preparar professores e estudantes para as constantes e céleres  transformações no planeta, sobretudo em ciência e tecnologia.

Evidentemente, há milhares de pessoas no mundo refletindo e debatendo  caminhos para a educação: a própria ONU, governos, programas (como Educate a  Child), universidades, empresas, organizações não governamentais, indivíduos.  Parece haver consenso em torno da relevância da educação de qualidade para todos  ao longo de toda a vida.

Restam, agora, vontade política e ações concretas nos países menos  desenvolvidos. Os desenvolvidos e em desenvolvimento, por sua vez, não devem  contentar-se com vantagens estatísticas apenas. É preciso pensar nas pessoas por  trás dos números. Enquanto houver quantidade tão significativa de crianças fora  da escola, com tudo o que isso representa coletiva e individualmente, só parte  da missão estará cumprida. Quando se trata de educação, é preciso seguir em  frente e lidar com a incômoda, mas necessária, noção de infinito.

Jorge Werthein é sociólogo e foi representante da Unesco no Brasil e nos  Estados Unidos

 

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