Programa oferece aulas no campo
Por Bruno Alfano* - O Globo - 27/08/2014 - Rio de Janeiro, RJ
Marcelo Roma, de 24 anos, achava aos 19 que o campo não lhe traria futuro. Morador de Gendiba, comunidade rural da cidade baiana Presidente Tancredo Neves, o jovem quase quebrou a tradição da família de agricultores, mesmo sem perspectivas na cidade grande. Até que um primo o convenceu a fazer o ensino médio numa das unidades do Casa Familiar Rural, do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Sul da Bahia (PDCIS). Já no primeiro semestre, Marcelo tinha a capacidade de criar a própria colheita, e os resultados o animaram.
— Eu era desacreditado na minha comunidade e agora tenho meu próprio negócio — resume ele, que se formou no ensino médio como técnico em agropecuária no ano passado.
O Casa Familiar Rural é um dos 40 casos de sucesso que serão apresentados no encontro internacional Educação 360, realizado por O GLOBO e “Extra”, em parceria com o Sesc, a Prefeitura do Rio e a Fundação Getulio Vargas, com o apoio do Canal Futura.
O modelo pedagógico do projeto combina a formação escolar com técnicas agrícolas e de empreendedorismo: os alunos ficam uma semana, em período integral, com aulas na sala e no campo, e duas na propriedade da família, aplicando os novos conhecimentos. Além de Presidente Tancredo Neves, o programa conta com mais duas unidades em funcionamento em Igrapiúna e em Nilo Peçanha. São 327 jovens que fazem parte das casas, e 424 já foram beneficiados.
— Eles agora veem o campo de uma maneira diferente. O jovem vira a força produtiva e é a solução — explica Joana Almeida, assessora educacional da Fundação Odebrecht, que financia o projeto.
Marcelo agora conseguiu, em cooperativa com os dois irmãos, um financiamento para a terra própria, onde planta banana, mandioca e abacaxi.
— A escola criou em mim o desejo de ser meu próprio patrão — revela Marcelo, que pagará as terras em 20 anos.
Soluções criativas
O Casa Familiar Rural foi um dos projetos visitados pelo jornalista Caio Dib, de 23 anos, que passou seis meses viajando atrás de iniciativas inovadoras em educação e agora vai lançar o livro “Caindo no Brasil — Uma viagem pela diversidade da educação”.
No total, foram 58 cidades visitadas, de 12 estados diferentes. Na obra, Dib escolheu falar sobre nove escolas e projetos e mais quatro histórias de pessoas que conheceu durante sua pesquisa. Sua experiência também será contada no Educação 360.
— Eu queria encontrar soluções criativas para a educação. E consegui. A escola, em minha opinião, tem que desenvolver as competências que a sociedade pede hoje: trabalho em equipe, responsabilidade, empatia... Essa é a nova tendência — explica o jornalista.
No projeto baiano, ele se surpreendeu com a capacidade do PDCIS em fazer os jovens firmarem raízes no campo e transformarem a realidade local.
— Esses jovens acabam se tornando empresários rurais e ficam empoderados a ensinar a comunidade, passar essas técnicas agrícolas para outros jovens. Eles tiveram mais do que educação.
As inscrições para Educação 360 devem ser feitas exclusivamente pelo site www.educacao360.com. O evento acontece nos dias 5 e 6 de setembro, na Escola Sesc de Ensino Médio. (*Do “Extra”)