Inclusão pela metade
"Brasil teve méritos ao aumentar o número de alunos com deficiência estudando em classes comuns, mas a maioria não chega ao Ensino Médio", afirma Antônio Gois
Fonte: Coluna Antônio Gois - O Globo (RJ) 18 de agosto de 2014
Nos últimos 15 anos, o Brasil vivenciou um feito notável na educação especial: as matrículas de alunos com deficiência, transtornos de desenvolvimento e altas habilidades mais que dobraram entre 1998 e 2013. Não apenas conseguimos colocar mais dessas crianças na escola, como também fomos capazes de garantir que a maioria delas hoje estude nas mesmas classes que os demais alunos.
Em 1998, o Censo Escolar do MEC registrava 337 mil matrículas de alunos com algum tipo de deficiência, sendo que apenas 13% deles conviviam nas mesmas salas de aula com os demais. A imensa maioria, portanto, estudava em colégios exclusivos para deficientes, ou em classes separadas. Em 2013, o total de alunos com deficiência matriculados em escolas da educação básica chegou a 843 mil, e o percentual de incluídos em classes comuns passou para 77%.
Dados tabulados pelo movimento Todos Pela Educação a pedido da coluna mostram, no entanto, uma tendência preocupante: o número de matrículas desses alunos cai consideravelmente até o final do ensino médio.
Nos primeiros cinco anos do ensino fundamental, o censo do MEC registra 433 mil alunos com deficiência, e eles representam 2,7% do total de estudantes desse nível de ensino. No segundo ciclo, que vai do 6º ao 9º ano e é destinado a crianças de 11 a 14 anos, este número cai para 190 mil, ou 1,4% do total de matriculados. Já nas três séries do ensino médio, são apenas 48 mil alunos com deficiência no sistema, o que representa somente 0,6% do total de jovens estudando no antigo segundo grau. Há, claro, alunos com deficiência tão extrema que dificilmente conseguiriam concluir o ensino médio, mas esses casos são mais exceção do que regra.
Números do Censo do IBGE tabulados pela coluna retratam o mesmo problema, por outro viés: o de crianças com deficiência fora da escola. Dos 10 aos 14 anos, faixa etária incluída no grupo etário de matrícula obrigatória, o percentual da população com deficiência que não estuda chega a 7%. É mais que o dobro da taxa de 3% verificada entre as demais crianças. No caso de alguns grupos específicos, como o de pessoas com deficiência mental, essa taxa chega a 24%, e aumenta para 41% dos 15 a 17 anos, faixa etária que passará a ser também de matrícula obrigatória a partir de 2016.
Uma das hipóteses levantadas por Alejandra Velasco, gerente da área técnica do Todos Pela Educação, para explicar esse perverso funil do sistema é a transição do modelo do primeiro para o segundo ciclo do ensino fundamental. No primeiro, destinado a crianças de 6 a 10 anos, há um vínculo maior entre os professores e seus alunos. Na segunda etapa, o antigo ginásio, a figura do professor praticamente único é substituída por vários profissionais que dão aula, cada um, apenas de sua disciplina. Essa transição, que já não é fácil para alunos que não apresentam nenhum tipo de deficiência, é ainda mais complicada para estudantes que necessitam de atenção individualizada.
O esforço feito especialmente pelo sistema público de ensino para garantir a matrícula e a inclusão de crianças com deficiência em classes comuns não deve ser minimizado. É uma boa notícia, digna de comemoração. Mas não podemos nos dar por satisfeitos. O desafio da qualidade, que já é evidente para todo o ensino básico no Brasil, é ainda mais urgente no caso da educação especial.
Projeto garante cuidadores para atender alunos com deficiência
Texto também estabelece um piso para esses cuidadores, equivalente a 70% do piso salarial nacional dos professores
Fonte: Agência Senado 15 de agosto de 2014
A presença de cuidadores nas escolas para assegurar assistência aos alunos com deficiência é o objetivo do Projeto de Lei do Senado (PLS) 228/2014, do senador Vicentinho Alves (SD-TO). O texto também estabelece um piso para esses cuidadores, equivalente a 70% do piso salarial nacional dos professores de educação básica.
Para Vicentinho, a sociedade inclusiva exige ampla acessibilidade às pessoas com deficiência, não só com a adaptação dos ambientes físicos, mas também com suporte humano. Por isso, o senador considera imprescindível para a materialização da acessibilidade que, além da oferta de equipamentos e ajudas técnicas, sejam contratados cuidadores nas instituições de ensino.
“Tais profissionais poderão viabilizar o ingresso e a permanência nas escolas de alunos que apresentam necessidade de auxílio em razão de limitações para a prática de atividades da vida diária, tais como locomoção, higienização, alimentação ou comunicação”, disse o senador. Ele, lembrou, ainda, que os professores não têm condições de trabalho que lhes permitam exercer a função de cuidadores.
Para justificar o projeto, o senador cita a Constituição, que garante atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Além disso, Vicentinho cita a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/1996), que determina a disponibilidade de serviços de apoio especializado para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.
O texto tramita na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), onde tem como relator o senador Anibal Diniz (PT-AC). Depois, será analisado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE).
Educação Inclusiva cresce na rede pública, mas poucos alunos chegam ao Ensino Médio
Fonte: Todos Pela Educação e Observatório do PNE 18 de agosto de 2014
Um levantamento do Todos Pela Educação para o Observatório do PNE, com base nos dados do Censo da Educação Básica (MEC/Inep), mostra que a matrículas de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação em classes comuns, ou seja, com alunos que não têm essas características, têm crescido gradativamente desde 2007, passando de 46,8% nesse ano para 76,9% em 2013. Contudo, o número de matrículas diminui consideravelmente desde os anos iniciais do Ensino Fundamental até o Ensino Médio, indicando que muitos desses alunos não chegam à etapa final da Educação Básica.
Clique aqui para ver a matéria do Todos Pela Educação sobre o tema.
Os dados completos do levantamento para todo o Brasil, regiões e unidades da federação estão disponíveis no Observatório do PNE, como indicadores auxiliares: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/4-educacao-especial-inclusiva/indicadores. Para ver as desagregações, clique em “Adicionar regiões e estados”, e escolha as localidades a serem exploradas.
*Sobre o Observatório do PNE
O Observatório do PNE (www.observatoriodopne.org.br), iniciativa de 20 organizações ligadas à Educação, sob a coordenação do Todos Pela Educação, é uma plataforma online que tem como objetivo monitorar os indicadores referentes a cada uma das 20 metas do Plano Nacional de Educação (PNE) e de suas respectivas estratégias, e oferecer análises sobre as políticas públicas educacionais já existentes e que serão implementadas ao longo dos dez anos de vigência do Plano.
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