Analfabetismo: desafio histórico
Problema afeta 668 mil paraibanos. Número corresponde à população com mais de 5 anos de idade no Estado
Fonte: Jornal da Paraíba (PB) 14 de agosto de 2014
Dando continuidade à série 'Educação em Pauta', o Jornal da Paraíba aborda hoje um problema que afeta 668 mil paraibanos: o analfabetismo. O número corresponde à população com mais de 5 anos de idade no Estado e representa um desafio histórico, que precisa ser encarado com seriedade e urgência pelos gestores públicos e pela sociedade como um todo. O analfabetismo na Paraíba é maior na zona rural, mas também está presente nas principais cidades do Estado, como João Pessoa e Campina Grande. O maior índice de analfabetismo está entre os paraibanos com 60 anos ou mais. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), referentes ao ano de 2012.
Encontrar exemplos desse problema na capital não é tarefa difícil. Em uma comunidade do bairro do Róger, a reportagem conversou com a aposentada Antônia Pedro dos Santos, 69 anos, que nunca frequentou uma sala de aula. O máximo que aprendeu em toda a vida foi assinar o nome, o que faz com muita dificuldade e sob supervisão de uma pessoa alfabetizada.
Antônia não sabe diferenciar letras, nem fazer cálculos simples, como as quatro operações básicas da matemática.
A aposentada disse que na época em que era criança, a família enfrentava dificuldades econômicas e escola nunca foi prioridade em casa. “Meu pai dizia que se eu quisesse aprender, bastava colocar um livro na cabeça”, contou. Aos dez anos de idade ela se viu obrigada a trabalhar na roça e só aprendeu a assinar o nome perto dos 30. Na identidade, a ausência da assinatura denuncia o problema do analfabetismo.
Antônia é mãe de cinco filhos, que também não estudaram, segundo ela.
A história de Maria Francisca de Oliveira é parecida. Ela começou a trabalhar cedo por ordens do pai e também não frequentou a escola, quando morava, ainda criança, no município de Alagoa Grande. O tempo passou, Maria cresceu, casou e veio morar em João Pessoa, mas nunca se alfabetizou.
Nem o nome sabe assinar. A maior alegria de sua vida, conforme ela contou, foi no ano passado, quando uma das netas fez vestibular. Não passou, mas o simples fato da neta tentar uma vaga no ensino superior, já foi motivo de sobra para Maria comemorar.
Com Maria da Penha Francisca da Silva, a história se repete.
Ela contou que estudou até o 5° ano (antiga 4ª série), mas não aprendeu nada, nem mesmo escrever o nome. “Eu ia para a escola para namorar, não gostava de estudar. Hoje eu me arrependo de não ter estudado, mas não posso fazer mais nada, já estou nessa idade”, comentou Penha, que também tem a inscrição 'analfabeta' na carteira de identidade. Ela disse que já teve vergonha de não saber ler nem escrever, mas que hoje não tem mais.
A dona de casa Edvânia Vieira, 35 anos, estudou até o 2° ano, e decidiu largar os estudos por conta própria. “Preferia ficar brincando com as amigas”, declarou. Mãe de seis filhos, dos quais três abandonaram a escola antes dos 12 anos, Edvânia disse que só sabe mesmo escrever o nome, mas prefere evitar porque acha a letra feia. “Não sei assinar direito, minha letra é torta, feia”, afirmou.
Dificuldade de ler e compreender Além do analfabetismo propriamente dito, no qual se incluem Antônia, Francisca e Penha, a Paraíba também tem o desafio de vencer o analfabetismo funcional (veja quais os tipos do analfabetismo funcional no quadro mais adiante). Um exemplo disso é quando uma pessoa consegue realizar tarefas simples, mas tem sérias dificuldades de leitura e compreensão. É o caso de Daniela (nome fictício), 13 anos, que está matriculada no 5° ano do ensino fundamental e nunca leu um livro sequer, conforme ela relatou.
Daniela assina o nome, lê bilhetes curtos e até os escreve, se necessário, mas não consegue compreender textos nem interpretar. Na escola, tem notas baixas; em casa, não revisa os assuntos vistos em sala de aula. “Não ligo para isso, minha avó é analfabeta, meus pais também, eu estou na vantagem”, disse a adolescente, sem ter noção da gravidade que é o analfabetismo funcional.
Outro exemplo dessa realidade é do adolescente Jefferson Gomes da Silva, 16 anos, que admitiu não saber ler direito. “Só leio placas de carro, livro eu não sei”, afirmou. Jef- ferson entrou tarde na escola – aos 9 anos – e foi reprovado três vezes, segundo ele, motivo pelo qual ainda está no 2° ano. Após passar dois anos longe da escola, resolveu se matricular em uma turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA), mas só frequenta as aulas, no máximo, duas vezes por semana. “Só vou quando não tenho nada para fazer”, frisou.
A gerente-executiva da Educação de Jovens e Adultos, Maria Oliveira, da Secretaria Estadual, disse que por uma década a Paraíba teve índices de analfabetismo entre 20% e 21% e que de 2011 para cá, conseguiu reduzir o problema em 16,83%.
“Consideramos uma baixa significativa no analfabetismo. Temos muitas parcerias que ajudam na permanência dos alunos na sala de aula”, declarou.
Tipos de analfabetismo funcional
Analfabeto
Conseguem realizar tarefas simples, como a leitura de palavras e frases, e números familiares (como números de telefones, preços, etc).
Básico
Aqui estão os funcionalmente alfabetizados, pois já leem e compreendem textos de média extensão, leem números na casa dos milhões e têm noção de proporcionalidade. Mostram limitações quanto a operações que envolvem maior número de elementos, etapas ou relações.
Rudimentar
Leem textos curtos, como anúncios ou cartas, leem e escrevem números usuais e realizam operações simples, como manusear dinheiro para o pagamento de pequenas quantias.
Pleno
Corresponde ao grupo de pessoas que não têm restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, distinguem fato de opinião.