Reforma política ou reforma na Educação?

Reforma política ou reforma na Educação?

 

(*) Wolmer Ricardo Tavares - Revista Gestã]o Univeristária - 14/08/2014 - Belo Horizonte, MG


A crise da educação pública brasileira reflete em nossa política brasileira ou a atual política faz refletir a crise da educação? Parece ser uma pergunta sem resposta, estilo quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? Obviamente, em relação a educação e a política, é bem menos complexo que o ovo e a galinha, pois com toda certeza, a educação brasileira faz refletir a péssima política que temos e vice-versa.

Cabe aqui, entendermos o que é política. Embora muitos confundam política com político, o que é bem mais sujo e vil, a política de acordo com alguns sociólogos está relacionada ao poder. Para Russel, é o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados e segundo Hobbes, são meios adequados à obtenção de qualquer vantagem. Uma definição um pouco mais abrangente é a de Maquiável quando diz que é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o governo, ou seja, política está diretamente ligada ao poder.

Ela é uma arte de negociação visando a compatibilização de interesses, o que pode ser reforçado com uma conceituação moderna quando afirma ser uma ciência moral e normativa do governo da sociedade civil. Moral normativa? Onde os nossos políticos viram a moral?

A política se derivou de pólis (Cidade Estado, aquilo que é público) e politiké/politikós (cidadãos pertencente aos cidadãos), ou seja, eles são pessoas que deveriam representar nossa necessidade e não vontade, mas enquanto a educação estiver do jeito que está, nossas necessidades não serão demonstradas, por isso, faz-se necessário uma reforma na educação, pois se esta acontecesse, não lutaríamos por uma reforma política, porque o povo já saberia em quem votar e em quem não votar. Seria totalmente crítico e politizado, porque como podemos perceber, poder político é o poder do homem sobre outro homem, homem escolhido por seu povo para representa-lo, e neste poder, estão inseridos três características que são exclusividade, universalidade e inclusividade. Na primeira predomina uma força concorrente, a segunda está baseada na coletividade e a terceira que é inclusividade cabe a intervenção de modo imperativo.

Enquanto não vem a reforma da educação, cabe entender que a reforma política é um conjunto de pacotes de emendas constitucionais com o intuito de melhorar o sistema eleitoral nacional, isso porque parte-se da premissa de que se o sistema é ruim a participação do povo também fica ruim o que facilita a corrupção e improbidade dos políticos.

Cabe ressaltar que a primeira reforma implementada foi em 1997 que foi a implantação da re-eleição, o que foi denominada casuística, pois os políticos na época resolveram tirar proveito da situação criando essa “reforma” fazendo com que o governo continuasse no poder por mais quatro anos.

Hoje, outros itens são discutidos como voto único intransferível o que acarreta em dizer que uma pessoa com muitos votos não pode transferir os mesmos para outros políticos que não tiveram o número considerável para se elegerem, ou seja, isso eliminaria os puxadores de votos, pois muitos políticos se encontram no senado ou na câmara por este motivo.

Outra reforma que está sendo discutida está relacionada ao financiamento privado, ou seja, extinguindo este financiamento, fará com que políticos não fiquem com vínculos a empresas que o financiaram, evitando assim certos privilégios a essas empresas financiadoras.

A suplência de senador é outro fator a ser discutido, ela causa a ilegitimidade, pois o senador eleito ele tem o direto de escolher dois suplentes que nem sempre representam a vontade do povo que os elegeu. Isso passa a ser um problema, visto que muitos senadores podem ser chamados a ocupar secretarias e/ou ministérios, e estes cargos de senadores seriam ocupados por alguém não eleito através do voto do cidadão.

A fidelidade partidária é um fator interessante. Acontece o que muitos chamam de dança das cadeiras, ou seja, os pseudopolíticos aproveitam a ausência desta fidelização e se vendem a outros partidos para poder sentir o gosto do poder e quase sempre, mudam de partido como um mercenário, um prostituto. Falta a eles uma ideologia, uma ética e uma dignidade.

O candidato avulso é algo inovador em nossa democracia. Isso implica em dizer que para alguém se candidatar não precisaria estar necessariamente filiado a um partido. Isso o exumaria de qualquer podridão deste partido o que poderia macular sua imagem como cidadão e representante do povo.

Obviamente existem outras propostas levantadas por partidos que visam o bem do povo. Tais propostas são mais radicais e chegam até mesmo a querer mudar o sistema para o parlamentarismo, extinção do senado, redução de deputados federais, redução dos ministérios, redução dos salários para até 20 salários mínimos para os parlamentares estaduais e federais, fim das verbas de gabinetes, emendas e frotas, aumento do número de vereadores recebendo apenas ajuda de custo, e repensar na imunidade parlamentar.

Obviamente, essa reforma tão sonhada não acontecerá, exceto nas partes em que não afetará a vida deles, como por exemplo a data da posse dos chefes do Executivo.

Precisamos perceber que se tivéssemos uma boa educação, não precisaríamos entrar nesta peleja de reforma política, pois é justamente isso que estes corruptores querem. A precarização da educação é um fomento de uma política corruptora e virulenta.

Então, lutemos também pela boa educação, pelo reconhecimento dos profissionais da educação, pela dignidade do povo e destes profissionais, pelo resgate ao sonho de um país mais equitativo, e que a fala de Paulo Freire estivesse totalmente equivocada quando afirmava ser uma “atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”.

(*) Mestre em Educação e Sociedade. Atua como professor universitário, palestrante e escritor. Para mais informações vide www.wolmer.pro.br




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