Mais rigor no Enem

Mais rigor no Enem

Da redação - O Estado de São Paulo - 12/08/2014 - São Paulo, SP

A revelação, feita pelo Estado graças à Lei de Acesso à Informação, de que houve um número expressivo de examinadores despreparados na correção das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 é motivo de apreensão. Como a prova foi convertida pelo Ministério da Educação (MEC) em processo seletivo das universidades federais, sob a justificativa de democratizar o acesso ao ensino superior público, qualquer problema nas correções põe em risco a credibilidade do sistema.

Há dois anos, os critérios de correção do Enem foram questionados por especialistas em educação, depois da descoberta de que uma redação reproduzindo uma receita de macarrão instantâneo e outra transcrevendo o hino de um clube de futebol haviam sido aprovadas pelos examinadores. Diante da repercussão negativa, o MEC alterou os critérios de correção, montou uma força-tarefa para garantir mais segurança e objetividade nas avaliações e determinou que as redações deveriam ser anuladas automaticamente caso apresentassem `parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto`.

As redações do Enem são avaliadas por profissionais da área de Letras, com formação em Língua Portuguesa, que recebem R$ 3,61 por prova corrigida. Cada redação é examinada por dois corretores independentes, e um não tem conhecimento da nota atribuída pelo outro. Uma vez escolhidos pelo órgão encarregado de aplicar o Enem, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os corretores têm de passar por um processo de treinamento e capacitação, num total de 136 horas, compreendendo módulos presenciais e a distância. Nesse processo, eles se submetem a uma prova com cem questões, analisam redações diferentes e são obrigados a escrever um texto como se fossem alunos do ensino médio.

Também são monitorados durante o processo de correção por coordenadores e supervisores, que verificam se eles dão notas excessivamente altas ou muito baixas e se são lentos ou rápidos demais nas correções. Os avaliadores são excluídos automaticamente quando obtêm uma nota de desempenho inferior a 5, numa escala de 0 a 10. Caso fiquem entre 5 e 7, têm duas oportunidades para se recuperarem. Na terceira vez em que a nota for inferior a 7, são excluídos e as redações por eles já corrigidas têm de ser revistas.

Para fiscalizar os avaliadores, o Inep desenvolveu uma estratégia: de cada lote de 50 redações que têm de corrigir, há uma excelente redação - a chamada `redação de ouro` -, já examinada pela equipe de especialistas do órgão, e uma segunda redação - conhecida como `redação múltipla` -, que também foi submetida a vários outros corretores. A estratégia permite aos supervisores e coordenadores do órgão verificarem equívocos e desvios cometidos pelos avaliadores nas correções do lote. `Cito a Bíblia: `Pelos teus frutos te conhecerei`. Só posso saber se um avaliador corrige bem quando produz resultados adequados`, diz o estatístico José Francisco Soares, que assumiu a presidência do Inep há seis meses.

Segundo as informações obtidos pelo Estado, dos 7.121 avaliadores contratados para corrigir as redações no Enem do ano passado, 845 - o equivalente a 12% do total - tiveram de ser afastados. O porcentual vem aumentando de forma preocupante. No Enem de 2011, foram excluídos 277 dos 3.188 examinadores - cerca de 8,7% do total. Na prova de 2012, dos 5.558 corretores selecionados, apenas 52 - ou 0,9% - foram reprovados. `Tínhamos um monitoramento mais leniente. Agora, temos um monitoramento mais duro. Só corrige redação no Enem quem tiver sido certificado. Dá segurança ter alguém que é excelente para corrigir, dar orientações e acompanhar todo o processo`, afirma o presidente do Inep, justificando o aumento do número de examinadores reprovados.

Com o aumento do rigor na seleção e na fiscalização dos avaliadores, resta esperar que o Enem não venha mais a ser desmoralizado com a aprovação de receitas de macarrão e hinos de times de futebol nas provas de redação.

Enem: Inep monta grupo para criar banca de supervisores

O Estado de São Paulo - UOL Educação - 11/08/2014 - São Paulo, SP

O Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC que cuida do Enem, montou uma força-tarefa com o objetivo de capacitar pessoas para supervisionarem o processo de correção das redações do exame neste ano. Ao todo, 969 pessoas, entre supervisores, auxiliares e avaliadores que atuaram em banca, participaram do processo de certificação - 677 foram aprovadas.

`Eu vou citar a Bíblia: `Pelos teus frutos te conhecerei`. Eu só posso saber se você corrige bem se você me mostrou corrigindo redações e produziu resultados adequados`, disse o presidente do Inep, José Francisco Soares.

Os candidatos foram submetidos a um curso de capacitação, responderam a cem questões de uma prova em que foram analisadas vinte redações diferentes - e eles mesmos tiveram de escrever um texto, como se fossem alunos do Enem. `Nós iniciamos um processo: só vai corrigir redação no Enem quem tiver sido certificado. Dá segurança a gente ter alguém que é excelente na correção para dar orientações e acompanhar o processo.`

Enem tem 12% dos corretores de redação reprovados

O Estado de São Paulo - UOL Educação - 11/08/2014 - São Paulo, SP

Cerca de 12% dos corretores de redação foram `reprovados` na última edição do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), conforme dados obtidos pelo jornal `O Estado de S. Paulo` via Lei de Acesso à Informação. Ao todo, 845 pessoas de um universo de 7.121 avaliadores foram excluídas durante o processo de correção dos textos do Enem 2013 por não apresentarem uma nota de desempenho superior a 7 - numa escala de 0 a 10.

O Enem 2013 `reprovou` muito mais corretores do que a edição 2012, quando apenas 52 de 5.558 corretores (0,9%) foram dispensados. No Enem 2011, foram afastados 277 de 3.188 corretores (8,69%). As redações do Enem são corrigidas por profissionais da área de letras com formação em língua portuguesa que passam por um processo de capacitação.

Conforme o jornal `O Estado de S. Paulo` revelou em outubro, os corretores são mantidos sob monitoramento constante de coordenadores e supervisores. É verificado, por exemplo, se os avaliadores aplicam notas altas demais, muito baixas, se há lentidão na correção ou rapidez - aspectos considerados na nota de desempenho.

De cada lote de 50 redações enviadas pelo sistema ao corretor, há duas `pegadinhas`: a `redação ouro`, já corrigida pela equipe de especialistas; e a `redação múltipla`, que passa pelo conjunto de corretores. O objetivo é verificar se há desvios.

`Nós tínhamos um monitoramento do corretor mais leniente, agora eu tenho um monitoramento um pouco mais duro`, disse o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), José Francisco Soares.

Durante o processo de correção, o avaliador é excluído automaticamente se a nota de desempenho for inferior a 5. Caso fique entre 5 e 7, ele tem até duas chances de recuperação. Na terceira vez que a nota de desempenho for inferior a 7, o corretor é eliminado, as redações por ele corrigidas retornam ao sistema e são examinadas novamente.

`À medida que o sistema começou a funcionar, nós tivemos um número maior de corretores que foram excluídos. Não é que a gente queira excluir. Mas a gente está dizendo: na medida em que criei critérios objetivos, eu tenho pessoas que estão sendo consideradas não habilitadas. Nosso sistema está funcionando`, avaliou Soares.

Atuação

Cada corretor recebeu R$ 3,61 por redação examinada no Enem 2013, ante R$ 2,35 em 2012 e R$ 2,25 em 2011, segundo o Serviço de Informação ao Cidadão do Inep. Os corretores excluídos foram pagos pelo serviço e podem voltar a se capacitar para atuar nas próximas edições do Enem.

`Se eles se capacitarem de novo, eles podem (voltar a corrigir as redações). Não cabe o banimento. Ele não fez nada ilegal`, observou Soares. `É um trabalho tenso. Imagina uma pessoa que está submetida a algum constrangimento, ela pode simplesmente naquele período não ter tido a tranquilidade, pode ter uma boa justificativa, como `tenho uma doença na família`.` Todas as redações do Enem são corrigidas por dois corretores independentes, que não têm conhecimento da nota atribuída pelo outro.

No Enem 2012, a redação foi levada a um terceiro corretor quando a discrepância entre os dois corretores superou 200 pontos. No Enem 2013, a nova correção ocorreu se a discrepância era de 100 pontos, o que aumentou o número de textos com três avaliadores.

`A sociedade ainda acha que se eu pegar a redação que eu tive e der para a minha tia que fez mestrado em linguística na universidade X a nota da minha tia é a nota que deveria ser. Então a gente se pergunta, `olha, calma lá!`. Essa sua professora, se ela viesse para o nosso processo (de capacitação), lesse o manual (de correção) e passasse (pelo monitoramento), ela seria classificada?`, questionou Soares.

O treinamento dos corretores do Enem 2013 se estendeu por um período de 136 horas, compreendendo módulos a distância e presenciais. Em 2012, a capacitação levou 100 horas e, em edições anteriores, apenas oito.

A correção das redações do Enem virou alvo de questionamentos após a polêmica na edição de 2012 envolvendo texto com receita de macarrão instantâneo (que tirou nota 560, de 1.000 pontos possíveis) e com o hino do Palmeiras (500).

A repercussão do episódio levou o MEC (Ministério da Educação) a alterar os critérios usados na correção, prevendo que na edição seguinte seriam anuladas dissertações que apresentem `parte do texto deliberadamente desconectada com o tema que foi proposto`.




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