Metamorfose ambulante

Metamorfose ambulante

"Não adianta mais produzir reformas curriculares sem ouvir os jovens, o que eles pensam, o que querem e o que sonham",

afirma Mozart Neves Ramos

Fonte: Correio Braziliense (DF)   07 de agosto de 2014

O Brasil passa por um momento de grandes transformações, que ainda não são suficientes para colocar o país no trilho de um desenvolvimento sustentável. São tempos que nos revelam com muita força a real necessidade de ousar e de liderar processos em áreas estratégicas como a Educação. Nessa área em particular, não há mais tempo a perder.

Avançamos, não há dúvida, mas são ganhos insuficientes em função dos enormes desafios que o país tem pela frente, especialmente no que se refere à formação e valorização dos Professores, à Escola do jovem e ao currículo para uma Escola do século 21, entre outras questões. E é exatamente a este último tema que eu gostaria de dedicar este espaço de debate.

O país precisa oferecer, em escala, no sentido da universalização da oferta, uma Escola de qualidade para nossos jovens. Isso implica Escola que dialogue com seu mundo (o do século 21) e o acolha com paixão — Professores bem-formados, motivados, valorizados, que se façam respeitar, alinhados a currículo que responda aos desafios impostos pelos novos tempos de mudanças exponenciais, não mais lineares. Isso exige coragem e ousadia para pensar “fora da caixa”.

Não adianta mais produzir reformas curriculares sem ouvir os jovens, o que eles pensam, o que querem e o que sonham. Hoje oferecemos uma Escola sem sintonia com o mundo, em que o foco é o excesso de disciplinas em detrimento da criação e da inovação.

Não dá mais para pensar o futuro desses jovens olhando apenas pelo retrovisor. As descontinuidades tecnológicas têm sido dramáticas, não estamos sendo capazes de captá-las na velocidade do mundo juvenil. O currículo da nova Escola deve estar articulado com essas mudanças, saindo do formato rígido para o flexível.

Os jovens não são iguais e deveríamos permitir-lhes a flexibilidade de escolher aquilo que gostariam de estudar e aprender. Os dois últimos anos do Ensino médio seriam dedicados a essa flexibilidade, enquanto o 9° ano do Ensino fundamental e o 1° do Ensino médio representariam a base comum para todos, em termos de transição articulada entre um nível e outro.

Os cenários futuros estão a exigir maior integralidade do ser humano, capaz de alinhar o desenvolvimento cognitivo com o socioemocional ou não cognitivo, como alguns preferem chamar. E o Ministério da Educação, por meio da Capes, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, deu passo importante nessa direção ao lançar um programa de formação, pesquisas e estudos no campo das habilidades socioemocionais.

O programa, apresentado na forma de edital, prevê a criação de uma rede de universidades que terão a missão de gerar uma “massa crítica” qualificada nessa área em nosso país. Por sua vez, o Conselho Nacional de Educação (CNE) encontra-se empenhado na elaboração de um parecer e de uma resolução visando a sua regulamentação.

Observa-se também em nosso país enorme esforço no sentido de articular os novos conhecimentos no campo das neurociências com as práticas pedagógicas, como recentemente ocorreu na Universidade Federal do Rio Grande (Furg). No belo artigo intitulado “O diálogo entre a neurociência e a Educação: da euforia aos desafios e possibilidades”, a profa. Leonor Guerra, da UFMG, afirma com muita propriedade: “As neurociências não propõem nova pedagogia, mas fundamentam a prática pedagógica que já se realiza, demonstrando que estratégias pedagógicas, que respeitam a forma como o cérebro funciona, tendem a ser mais eficientes”.

Não há dúvida de que estamos em outro patamar em termos de pensar a formação do Professor e o currículo de uma nova Escola. Isso exige enorme responsabilidade daqueles que devem promovê-los. Uma política educacional inovadora, capaz de dialogar com os novos tempos, exige, como sugeri, pensar “fora da caixa”, ter disposição para mudanças. Parafraseando o saudoso Raul Seixas, é preferível “ser essa a ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Ou ousamos agora, ou pagaremos caro num futuro próximo. 




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