EAD exige maturidade
Educação a distância exige maturidade e disciplina`, diz especialista
Fredric Litto - Por Júlia Marques - O Estado de São Paulo - 29/07/2014 - São Paulo, SP
Em entrevista ao `Estado`, o presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância, Fredric Litto, fala sobre desafios para a expansão da modalidade no Estado de São Paulo
A Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) promete oferecer mais de 21 mil vagas de cursos a distância nos próximos 4 anos. Neste ano, a Univesp abriu mais de 3 mil vagas em formações próprias nas áreas de Engenharia e licenciaturas.
Em entrevista ao Estado, o professor Fredric Litto, presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), comenta os desafios para a expansão da modalidade de educação semipresencial no Estado e destaca o perfil de aluno que cursos a distância exigem. `A educação a distância não é para todo mundo`, diz.
O ensino a distância é mais comum nas áreas menos técnicas. A Univesp está lançando agora cursos de Engenharia. Quais os desafios para o ensino de Engenharia a distância?
A área mais conservadora, que não gosta de entrar na educação a distância, que tem menos oferta de cursos a distância no Brasil é exatamente a engenharia. Os professores são conservadores, acham que só o presencial pode dar bons resultados. Mas a experiência que a gente vê no exterior mostra exatamente o contrário. Animações e simulações podem ser desenhadas ou gravadas em vídeo e colocadas na internet para que os alunos aprendam, até mesmo coisas que o livro texto não permite descrever. A Engenharia tem grande potencial de usar a educação a distância, mas há um conservadorismo das instituições e dos colegiados que faz com que seja a área que menos cresce no Brasil.
Você vê como um avanço a oferta de cursos de Engenharia pela Univesp?
A Univesp como uma instituição nova não tem todos os vícios que as instituições mais antigas têm. Se é para romper com preconceitos, começar da estaca zero é a melhor coisa. Agora que eles (a Univesp) estão estabelecidos oficialmente como a quarta universidade pública de São Paulo, podem se aventurar e romper esse viés contrário à educação a distância, que caracteriza as universidades brasileiras.
Isso não vai eliminar a necessidade de o aluno ir para o laboratório para certas coisas ou para a sala de aula para esclarecer dúvidas, mas uma grande parte do ensino e da aprendizagem pode ser feita na casa do aluno, através da educação a distância.
A Univesp passa a adotar a metodologia de Aprendizagem por Problemas e Soluções (PBL, em inglês). Como você avalia esse método?
As pesquisas sobre aprendizagem mostram que o aluno aprende com mais impacto, mais profundidade, se ele descobre o conhecimento e não recebe pronto pelo professor na sala. O novo papel de um professor é de arquiteto das atividades de aprendizagem do aluno. Pelo PBL, o aluno investiga, trabalha em colaboração e chega às formulas, às equações. Essa estratégia metodológica é a coisa mais moderna que existe. O aluno fica engajado porque pode escolher a sua praia em um leque de opções, de estratégias, todas levando à aprendizagem do mesmo conceito que o currículo e o professor querem oferecer.
O aluno de um curso a distância tem que ter algumas características específicas? Tem que ser um aluno diferenciado?
A educação a distância não é para todo mundo. Não é para aquele aluno que precisa ter um professor ao lado elogiando o seu trabalho, ou cobrando. Esse aluno precisa do presencial, ele não vai ficar bem na educação a distância porque ela exige maturidade, motivação, disciplina. No presencial, você pode dizer para o professor que não conseguiu entregar o trabalho a tempo, que o cachorro comeu o trabalho, enquanto na educação a distância o trabalho tem que ser enviado pela web e à meia-noite, por exemplo, se encerra o prazo.
Exige maior disciplina e quanto mais jovem o aluno, menos disciplina ele tem. Quanto mais maduro, mais disciplina e mais seriedade. Ele quer aquele diploma. São pessoas que trabalham, são casadas, têm filhos e querem subir na suas carreiras, querem aquele diploma de nível superior e estão dispostas a estudar à noite, nos finais de semana, para conseguir.