Formas de ensino alternativo
Documentário mira formas de ensino alternativo
Renovar a escola exige mais do que uma mão de tinta e outros reparos para esconder rachaduras. Com a ideia de retratar a educação que tenta romper com o passado, dois jovens decidiram conhecer dez colégios que seguem modelos diferentes do tradicional. O resultado das visitas é Quando Sinto Que Já Sei, documentário financiado coletivamente que estreia depois de amanhã em São Paulo.
Amigos da adolescência, o jornalista Raul Perez e o documentarista Antônio Lovato, ambos de 24 anos, se reaproximaram pelo interesse em educação. Do reencontro, surgiu a ideia do filme. `Nossas inquietações eram parecidas. Passamos por várias escolas e não gostamos de nenhuma delas`, conta Perez. `Todas seguiam um modelo do século 19: os alunos só copiam o que o professor escreve na lousa`, critica.
As gravações começaram em janeiro de 2012, com dinheiro próprio da dupla. Por meio de um Crowdfunding - espécie de `vaquinha online` -, eles conseguiram quase R$ 50 mil para custear a produção, doados por 480 apoiadores. As doações foram essenciais para pagar as viagens - quatro escolas são de fora do Estado de São Paulo.
Nos dez colégios, públicos e privados, eles encontraram formatos múltiplos: salas de aula sem paredes, turmas com várias idades, alunos que decidem o que vão aprender. Nas diferenças, Perez identifica um ponto em comum. `Todos formam para a autonomia, emancipação. E a educação é mais importante que o conteúdo`, completa.
Só na metade de 2013, Perez e Lovato trocaram as câmeras pela ilha de edição. Além de disponível para download no site quandosintoquejasei.com.br a partir da data de estreia, o filme pronto será exibido em escolas, universidades, empresas e onde mais forem convidados.
Educação democrática.
Aos 9 anos, Luísa Carneiro já estudou em três colégios. Hoje está no preferido: a Politeia, na Água Branca, zona oeste da capital, um dos exemplos citados no documentário. `Aqui as aulas são mais divertidas`, conta. `Também fazemos muitas atividades fora da escola`, diz Luísa.
A proposta da Politeia, particular, é de educação democrática. Os estudantes participam da gestão - há assembleias para debater até os conflitos internos. Parte do conteúdo é escolhida pelas crianças, que fazem pesquisas sobre temas do próprio interesse. E sem as temidas provas: a avaliação, segundo os educadores, é contínua.
Para Osvaldo de Souza, educador da escola, o formato aumenta o engajamento dos estudantes. `Não precisamos torcer para que todos aprendam ao mesmo tempo, do mesmo jeito`, aponta. `Eles aprendem com assuntos que gostam`, diz.
Não há salas de aula, mas grupos de estudos com poucas pessoas, acompanhados por tutores, com a tarefa de estimular reflexões e orientar pesquisas. Os alunos trabalham com colegas de diversas faixas etárias. `A gente aprende com os meninos mais velhos`, garante Luísa.
A veterinária Carolina Carneiro, mãe de Luísa, não se arrepende da opção pelo modelo alternativo. Recorda, porém, que a escolha foi difícil. `Como estudei em colégio tradicional, tinha medo de como seria`, lembra. `Mas percebi que ela se desenvolveu tão bem ou melhor do que as outras crianças.`
Outra semelhança entre os projetos, segundo Perez, é o envolvimento das famílias dos alunos e das comunidades onde estão as escolas. `Esses projetos só funcionam com o apoio de fora, quando todos entendem a proposta`, destaca. `É uma educação que se dá na relação, na troca, no olho no olho.`
Victor Vieira/O Estado de São Paulo
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