Escola: para que serve?

Escola: para que serve?

Escrito por Anna Veronica Mautner


O que uma criança vai se tornar e, talvez seja melhor dizer, o que uma criança encontra em seu caminho para se tornar um adulto são duas forças muito fortes: a família, que a torna humana, e o Estado, que a torna cidadã. No núcleo familiar, em que estão as sementes a serem germinadas, também é transmitido um sentimento orientador inestimável: a fé. Desse mesmo núcleo, também pode sair o ceticismo. A questão é crer ou não crer: ter esperanças, expectativas, desejar ou apenas aceitar e receber o que acontece.

Assim como a caverna era o refúgio do homem primitivo, selvagem, a família e a coletividade em que a criança está inserida, além do Estado e de suas ramificações que englobam tudo isso, constituem a caverna do homem civilizado. Toda essa trama de mil ramos e múltiplos caules está presente no meio ambiente que recebe o nascituro desde os seus primeiros momentos de vida.

Ao colocar fraldas em um bebê, estamos falando de quais coisas de nosso organismo devem ser descartadas. Da mesma forma, a lágrima, a cera e o suor também são dejetos. Nosso corpo é um complexo filtro que se transforma e se desfaz permanentemente. Mesmo o ar faz parte desse sistema de filtragem. Como realizar essas complexas tarefas é função que a caverna familiar deve ensinar. É muito difícil – se não impossível – que um nascituro possa vingar sem um adulto a lhe treinar na função de filtro.

Depois aprendemos a dizer, a dominar a linguagem – que pode ser de sons e gestos –, cuja compreensão é comum ao grupo. Pais e filhos se entendem mesmo que, muitas vezes, não possam atender à demanda. Quando isso ocorre, estamos sozinhos, incomunicáveis. Cabe à família, esse núcleo de caverna, habilitar o novo ser para trocar com os oriundi de outras cavernas. 

A família nuclear ou a família extensa pode até ser de longa vida, mas não é suficiente para toda uma vida. A procriação e a consequente eternização da humanidade dependem de encontros e compreensão mútua.

Algumas coisas se aprendem na “caverna família”; outras, ao se juntar muitos núcleos: eis a escola. Dois e dois são quatro, grande é maior do que pequeno, entre outros exemplos, são afirmações que precisam ser testadas pelas interações entre vários núcleos. Quando eu digo “não”, quero ser entendido. Ai! é resposta à dor. Salvar uma vida, às vezes, depende de entender esse “ai”. Depois que sabemos o que é o “ai”, vamos para a escola, onde aprenderemos a transcender sensações e sentimentos e chegamos ao pensamento. A escola vai ensinar o que não é sensível e evidente aos cinco sentidos. Ao entrar na escola, afastamo-nos da origem e seguimos em direção às consequências. Vamos do ser sensível ao ser humano padrão, o único que pode vir a constituir uma nação, ou seja, grupos com história comum.

A escola é a olaria da nação. Será que ela o está sendo ou pode apenas vir a ser? Não dá para construir uma casa sem no mínimo ter intenção de formar tijolos padronizados.

 

Artigo publicado na edição de maio de 2014.

http://www.profissaomestre.com.br/index.php/colunistas-pm/anna-veronica/859-escola-para-que-serve




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