Escolas sem computadores
48% das escolas públicas brasileiras não têm computadores para os alunos
Observatório do PNE mostra melhoria a partir de 2008, mas situação ainda é problemática
Do Todos Pela Educação 21 de julho de 2014
O número de computadores por aluno na rede pública brasileira vem progredindo desde 2008, quando havia um computador para cada 96 matriculados, somente 27,7% das escolas tinham acesso à internet e, entre estas, apenas 17,7% contavam com banda larga.
Hoje, apesar da melhora, as taxas ainda estão longe do ideal: 48% das unidades públicas ainda não têm computadores para uso discente; 50,3% têm acesso à internet e há um computador para cada 34 alunos. A banda larga está presente em 40,7% das unidades.
Além disso, os dados de acesso à banda larga e de laboratórios de informática do Ensino Fundamental são cerca de 40 pontos percentuais inferiores aos da etapa seguinte, o Ensino Médio.
As informações foram extraídas do Censo da Educação Básica de 2013, realizado anualmente pelo Ministério da Educação. Os dados foram tabulados pelo Todos Pela Educação para o Observatório do Plano Nacional de Educação (leia mais abaixo). Universalizar o acesso à internet em banda larga de alta velocidade e triplicar a disponibilidade de computadores por aluno nas escolas da rede pública de Educação Básica são estratégias para garantir o aprendizado adequado dos alunos, definido na Meta 7 do PNE. O plano tem prazo de dez anos para ser cumprido.
“Os números mostram que a tecnologia ainda não faz parte da escola pública no País”, sintetiza Andrea Bergamaschi, gerente de projetos do Todos Pela Educação. Os principais entraves, segundo ela, são o precário acesso a equipamentos e a falta de um olhar específico para a tecnologia nas políticas de formação continuada de professores e também nos cursos de formação inicial. “Existem escolas com infraestrutura básica muito ruim, sem energia elétrica, por exemplo, o que impossibilita o uso de aparelhos eletrônicos. Somado a isso, vemos que esse tema não é trabalhado com os professores em suas formações – grande parte dos docentes ainda não entende como a tecnologia pode apoiar o aprendizado.”
A mera existência dos equipamentos na escola de nada adianta, reforça Andrea. Deve haver integração entre a tecnologia e a proposta pedagógica do ensino público brasileiro. “O aluno de hoje já tem um contato frequente com computadores e com a internet – ele é um nativo digital. O professor precisa de formação para saber como trabalhar isso em sala de aula”, explica. “Esse não é um debate recente. Sabemos que o aluno tem mais acesso fora da escola e que ela não está preparada para tratar disso, tanto em termos de formação docente como de infraestrutura.”
Para Andrea, as escolas devem usar a tecnologia de forma transversal. “Não existe um modelo único. Mas o uso deve ser integrado. Não é ter uma aula de matemática, parar tudo e ir ao laboratório de informática realizar atividades como se as duas coisas estivessem dissociadas. Tem que fazer parte e a intencionalidade pedagógica deve estar presente”, ressalta.
Dados do questionário da Prova Brasil 2011, respondido pelos professores, ainda revelam que 67,7% deles afirmam usar computador na escola. 20,2% afirmam não utilizar porque a unidade de ensino não dispõe do equipamento. Já em relação à internet, 61,6% declaram usar a rede e 26,1% ressaltam que não há conexão na escola onde trabalham.
Os dados do questionário da Prova Brasil também foram tabulados e estão disponíveis no Observatório do PNE. Tanto em relação ao computador como em relação à internet, 12,2% dos docentes dizem não utilizar ferramentas tecnológicas por “não achar necessário”.
Regiões
Os dados de infraestrutura tecnológica nas escolas revelam abismos entre as taxas regionais. No Brasil, cerca de metade (51,9%) das unidades públicas contam com computadores para todos os alunos. Observando apenas os estados do Norte, essa taxa cai para 32,2% e, no Sul, sobe para 69,2%.
Além disso, o Norte e o Nordeste, apesar de ter a maior redução na relação número de alunos por número de computadores disponíveis (de 163 e 162, para 48 e 42, respectivamente), ainda são as regiões brasileiras com maior defasagem. Sul, Centro-Oeste e Sudeste, nesta ordem, apresentam os melhores dados, historicamente, como pode ser observado abaixo.
Número de alunos por computador nas escolas de Educação Básica da rede pública | ||||||
2008 | 2009 | 2010 | 2011 | 2012 | 2013 | |
Brasil | 96 | 75 | 55 | 42 | 37 | 34 |
Norte | 163 | 127 | 87 | 60 | 51 | 48 |
Nordeste | 162 | 115 | 72 | 53 | 45 | 42 |
Sudeste | 83 | 65 | 52 | 42 | 37 | 35 |
Sul | 55 | 45 | 35 | 26 | 23 | 21 |
Centro-Oeste | 85 | 66 | 45 | 36 | 32 | 30 |
Para Andrea Bergamaschi, as políticas públicas de incentivo à tecnologia nas escolas devem ter o cuidado para não aumentar ainda mais as disparidades regionais.
“Tivemos um salto no número de computadores por aluno muito impulsionado por programas federais como o Proinfo, por exemplo”, explica. “Deve haver um apoio extra para as regiões mais desiguais. Além disso, deve ser verificado o que a escola já tem e o que ela quer, tanto em questões de infraestrutura tecnológica como de objetivos pedagógicos com os equipamentos. Não podemos aumentar a desigualdade educacional de nenhuma forma.”
Para ter acesso aos dados completos do levantamento, clique aqui.
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