Um detalhe com Rubem Alves
m meados dos anos oitenta, quando Rubem Alves ainda não tinha muita fama, ele lançou um pequeno livro sobre educação, talvez o segundo livro dele, após um sobre “filosofia da ciência”.
Ele havia publicado já alguma coisa em educação e começava a despontar. Mas os marxistas da PUC-SP diziam que o que ele fazia carecia de … “fundamentos”. Um dos textos meus, na época, foi em defesa de Rubem Alves, mesmo dentro das fileiras do marxismo, onde quase todo mundo estava. Rubem Alves escreveu então um bilhete para mim, me agradecendo por ter ficado praticamente sozinho na sua defesa.
Naquele tempo iniciava-se o que hoje é a regra: cada time de intelectuais não fomentava a conversa direta com o outro, não lhe dava interlocução, para não “encher a bola do inimigo”. Ah, se soubéssemos quanta merda estávamos construindo com isso!
Olha só hoje: sou um dos poucos que falo de outros filósofos. A regra do passado hoje virou lei, mas sem time, só indivíduos: ninguém comenta o livro do outro ou o artigo do outro. Ninguém dá interlocução a ninguém. Cada um é o rei de seu quintal. São idiotas os que fazem isso. E estamos rodeados deles. Rubem Alves foi um dos primeiros a sofrer nas mãos desse tipo de gente.
Em parte, isso o fez distanciar-se do escrito pedagógico, indo para o escrito menos acadêmico, o dos contos e historietas. Ele fugiu dos que não queriam conversar e passou a conversar com os que gostavam de histórias, não de poses e títulos.
Paulo Ghiraldelli.