Derrota na Copa, vitória no Brics
Pode o Brasil sair de uma derrota na Copa para uma vitória no Brics?
Criador do acrônimo analisa a economia brasileira, e o futebol, às vésperas da reunião de cúpula
NOVA YORK - Os brasileiros tiveram emoções ambíguas sobre a Copa do Mundo antes mesmo da humilhação de sua seleção na semifinal contra a Alemanha. Agora terão que lidar com o que foi gasto na competição e o que terão como legado dela — um retorno em investimento bastante desanimador.
Enquanto o Brasil digere isso, o país vai sediar a sexta reunião dos países do Brics esta semana. Talvez se torne um alívio dar as boas-vindas às delegações de Rússia, Índia, China e África do Sul para discutir o futuro das maiores economias emergentes do mundo. Há realmente muito trabalho a ser feito neste encontro, por isso talvez o Brasil apresente uma imagem mais propositiva do que tem feito ultimamente. Mas também poderá abrir ainda mais as feridas.
Vamos falar primeiro da catástrofe no futebol. É difícil exagerar a frustração dos brasileiros neste momento. Vi a alegria dos torcedores em Copacabana após a seleção brasileira derrotar a Colômbia e ouvi seus cantos alegres em jogos onde o Brasil sequer estava jogando. Muitas coisas podem decepcioná-los, mas eles são orgulhosos de seu futebol. E então vi esse orgulho despencar após o jogo contra a Alemanha. Foi de cortar o coração.
O Brasil ainda tem um tanto para amadurecer no que se refere ao futebol. Já não possui jogadores do calibre daqueles de seus anos de ouro, entre os anos 1960 e o início dos 1980. Durante anos, sua seleção tem sido vencedora, mas não mais dominante como fora. Nesse sentido, as expectativas ficaram fora de alcance e o país caminhava para o infortúnio.
Não fariam mal um pouco mais de realismo e a percepção de que o futebol é apenas um jogo. Talvez esse tipo de maturidade seja o que estejamos vendo agora, apesar do desânimo. A vida continua. É isso, pelo menos, que me mantém torcedor do Manchester United.
Vale a pena lembrar que o Brasil não é o primeiro país — e não será o último — a gastar dinheiro num megaevento esportivo. Recurso que poderia ter sido melhor gasto em outras coisas. O mesmo foi verdade para a África do Sul na Copa de 2010, e provavelmente para Japão e Coreia do Sul, na Copa de 2002 (em 2006, a Alemanha já possuía praticamente tudo o que precisava para a competição).
Ou pense nas Olimpíadas, onde investimentos desperdiçados em grande escala são quase uma exigência. O Rio vai sediar os Jogos de 2016, e portanto seus organizadores podem ter aprendido uma coisinha ou outra nos últimos dias.
Embora seja correto que os brasileiros protestem contra o custo excessivo — aliás, uma bem-vinda expressão de expectativa democrática — o país não deveria se martirizar demasiadamente em relação aos gastos com a Copa do Mundo. E muito menos ser criticado por estrangeiros que cometeram o mesmo erro.
Enquanto isso, a economia do Brasil não está exatamente brilhando. Os últimos anos foram decepcionantes. Minha previsão anterior de crescimento de 5% nesta década é quase certo que não se confirmará. O fim dos anos turbinados pelas commodities não tem sido fácil.
Mas, novamente, é preciso pôr as coisas em perspectiva. O Brasil só cresceu tão fortemente na década passada por causa do altíssimo valor de sua moeda e do aumento dos preços das commodities. Isso se traduziu em aumentos rápidos na produção e gastos denominados em dólar. O crescimento real do Produto Interno Bruto foi menos de 4% por ano naquela década. E mais: por mais desapontador que seja o crescimento de parcos 2% nesta década, as crises típicas do Brasil são algo distante na memória.
Analistas que escrevem sobre a crescente e alta inflação do país — atualmente em torno de 6% — esquecem que os preços subiam algumas vezes 6% por mês nos anos 1970 e 1980. A moeda perdia valor tão rapidamente que precisou ser repetidas vezes ser anulada e substituída. Esses dias se foram.
Certamente o governo tem que sair do caminho e deixar de agir à chinesa, tentando dirigir a maior parte da economia (nem mesmo a China tem feito mais isso). O Brasil precisa ser mais competitivo e mais inventivo; precisa que suas empresas privadas invistam mais na criação de riqueza e elevação da produtividade.
Assim, esta reunião do Brics poderá ter um papel útil, embora pequeno. O Brasil pode pressionar pela tão discutida criação de um banco de desenvolvimento do Brics da forma correta. Onde será sua sede? Como será capitalizado? Quais grandes projetos ele poderá ajudar? Talvez algum financiamento para as Olimpíadas no Rio?
Como criador do acrônimo, tenho uma participação no Brics. Quero vê-lo prosperar, e tenho certeza que há o potencial. Por várias razões, agora seria a hora certa para o B do Brics tomar algumas decisões e calar os descrentes.