E o protesto popular não se cala
Estado de exceção: Dezenas de ativistas são presos em casa no Rio de Janeiro
Na madrugada de hoje, dia 12 de julho, ao menos 20 ativistas foram presos em casa, no Rio de Janeiro, por policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil. Depois de presos, eles foram levados para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Os mandados começaram a ser cumpridos antes mesmo de amanhecer. As vítimas, trabalhadores, professores e estudantes, tiveram suas residências violadas e vários pertences apreendidos, incluindo computadores, celulares, máscaras de gás, roupas pretas, bandeiras e panfletos.
Um dos jovens guardava fogos de artifício em casa e outro possuía gasolina. O material também foi apreendido. Um revólver calibre 38 foi achado na casa de um dos dois menores de 18 anos apreendidos pela polícia. A arma pertencia ao pai da jovem e possuía registro na polícia federal. No entanto, o documento estava com o prazo de validade expirado e, por isso, ele também foi preso. Apesar de mal se conhecerem, todos estão sendo enquadrados no crime de formação de quadrilha armada e serão transferidos para Bangu ainda hoje.
E o protesto popular não se cala
Estima-se que mais de 200 mil militares estejam envolvidos na “segurança” da Copa da Fifa, a maioria voltada a reprimir a parte do povo que protesta contra o evento. Oficialmente são 60 mil efetivos das forças armadas, 10 mil da Força Nacional de Segurança, mil policiais federais; o restante se refere a policiais militares dos estados-sede dos jogos.
Cerca de 1,9 bilhão de reais foram gastos pelo governo federal em equipamentos e logística dessa tropa de sítio, fora o que foi gasto pelos governos estaduais. O sistema que integra os comandos das forças de “segurança” foi comprado de Israel.
As PMs compraram armaduras de robocop, blindados, caminhões com jatos d’água, armas de choque, ampliaram o arsenal de armas de bala de borracha, bombas de efeito moral e gases de vários tipos. Batalhões foram treinados por militares franceses e mercenários da Blackwater, que hoje atende pelo nome de Academi.
Toda essa operação de guerra levantada para impedir que os protestos do “Não vai ter copa!” ocorressem. Todo esse aparato para garantir os lucros financeiros da Fifa e os dividendos eleitorais do oportunismo. Os lucros da Fifa e corporações transnacionais “patrocinadoras” do evento, bem como os privilégios da Rede Globo, foram garantidos. Já os votos, grande parte deles foi para o ralo pela vitoriosa luta popular que tomou o país em protestos combativos desde junho de 2013 e jogou água no chopp da campanha ufanista que os governistas ensaiaram para estes dias.
Os gerentes do velho Estado não conseguiram parar os protestos com repressão e comprando as organizações de seus “movimentos sociais” oficiais. Então cassaram o direito de manifestação através de táticas militares para impedir até mesmo a concentração de atos políticos na rua, como as operações de kettling, ou “envelopamento”, criada pelas SS de Hitler, batizadas de “Caldeirão de Hamburgo”.
As PMs cercam os atos com efetivos muito maiores que o número de manifestantes. Fecham o cerco e impedem o ato de se deslocar. Procedem a revistas humilhantes a todo o momento, seguidamente, muitas vezes na mesma pessoa. Constrangem as pessoas que desejam integrar o ato. Prendem indiscriminadamente durante as manifestações e perseguem os manifestantes que ficam sozinhos ao fim delas.
Toda aquela conversa mole de que os “protestos pacíficos são legítimos” e que as forças da repressão só combatem “vândalos e baderneiros” já não pode ser encoberta, porque a ordem é impedir qualquer manifestação contra a farra da Copa. Além disso, colocam barreiras por quilômetros em volta dos estádios e dos eventos externos da Fifa, impedindo até mesmo moradores de circular no perímetro.
É um rol enorme de arbitrariedades e direitos revogados pela gerência oportunista, no seu afã de manter a boa vida dos capi da Fifa e impedir que os protestos contra o governo se ampliem. Toda essa gente defensora do velho Estado se esmera em brandir a “constituição cidadã”, o “Estado democrático de direito”, mas enfurecida com as massas rebeladas não faz qualquer cerimônia para rasgar suas vestes, mandando baixar o pau para nos tomar as migalhas de direitos de livre manifestação e aquele, tão propalado por eles mesmos como sagrado, de “ir e vir”.
O problema, para eles, é que o direito de manifestação é garantido pelo próprio povo nas ruas, e não por letras escritas num papel. Os protestos seguem durante toda a Copa, praticamente em todas capitais, maiores ou menores, mas seguem, enfrentam a repressão, denunciam a sua brutalidade, defendem seus presos políticos e comovem os trabalhadores e explorados do mundo, que manifestam sua solidariedade.
Esse é um direito fundamental e sua retirada só prova o grau de degenerescência do velho Estado e de seus atuais gerentes de turno. Só atesta que não se pode esperar democracia para o povo em nenhum país nessa situação e que mesmo “protestando nas urnas”, como essa canalha que governa o país gosta de dizer, não pode mudar a sociedade.
E se hoje a repressão pode “envelopar” protestos, só o faz porque agora tem mais policiais que manifestantes, numa operação de guerra nunca vista em evento esportivo nenhum, em lugar algum, em época alguma. Mas chegará o dia em que de novo seremos milhões e será impossível deter a força do povo. Enquanto isso, os revolucionários e democratas se organizam e se preparam para as grandes batalhas que estão por vir.
E quanto à “Copa das Copas”, vença quem vença, o que é certo é que, como representantes dessa velha ordem aqui e no mundo, o senhor Blatter e senhora Rousseff, presentes ou não, falando ou calados, serão retumbatemente vaiados. E tal vexame não será nada diante das lutas que se levantarão com a crise do país.
http://www.anovademocracia.com.br/no-133/5443-editorial-e-o-protesto-popular-nao-se-cala
Abaixo a farra da Fifa! Viva a liberdade de manifestação!
Os gastos para a Copa da Fifa no Brasil já ultrapassaram os R$ 30 bilhões. Para se ter uma comparação, as copas na Coréia do Sul e Japão, Alemanha e África do Sul juntas gastaram R$ 25 bilhões. E os lucros, já divulgados pela Fifa, somam fabulosos 4,2 bilhões de reais, isentos de qualquer tipo de imposto.
Para a realização dessa copa, foram erguidos verdadeiros elefantes brancos, como o estádio Mané Garrincha, em Brasília, cuja capacidade é de 71 mil pessoas. Para se ter noção do tamanho absurdo, o jogo de abertura do campeonato brasiliense do ano passado teve um público de 1.956 pagantes.
Em Manaus, o Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário, ligado ao Tribunal de Justiça do Amazonas, levantou a hipótese de transformar o recém-construído estádio em um ‘presídio’ temporário após a Copa! A reforma do Maracanã custou quase dois bilhões de reais e apenas sete jogos da Copa do Mundo serão realizados no estádio. Gastou-se um valor maior do que construir um novo!
Os brasileiros que tinham o hábito de ir aos estádios torcer pelos seus times, de comprar ingressos para arquibancada ou “geral” e levar as suas famílias já sentiram, desde a inauguração dos novos estádios, agora chamados de “arenas”, o preço amargo imposto pelos monopólios. Dificilmente os trabalhadores poderão torcer com suas famílias e certamente muitos, a maioria absoluta, não irá assistir os jogos da Copa, pois um trabalhador não tem como pagar um ingresso que chega a custar 50% (ou mais) do salário mínimo.
A atual Copa só ocorre no Brasil porque nenhum governo ofereceu mais o país na bandeja para a máfia da Fifa do que o do PT/Lula. O governo da Suécia abriu mão de sua candidatura como sede para realização das olimpíadas devido à previsão de enormes gastos.
Na Europa em crise, os povos se levantam contra o desemprego, o arrocho e as medidas antipovo ditadas pelos Estados reacionários para postergarem o agravamento ainda maior da crise do capitalismo em seus respectivos países. Os povos se levantaram em protestos em todo o Norte da África e Oriente Médio e seguem com novas rebeliões na Ásia, América Latina e nos próprios países imperialistas.
A Fifa e os monopólios necessitavam de um gerenciamento servil, submisso como o governo Dilma Rousseff, que permitisse a farra dos monopólios, que abrisse passagem para a imposição do “território Fifa”, sem cobrar impostos, proporcionando lucros exorbitantes aos sanguessugas de nosso povo, que cumprisse à risca a ordem de remover populações, de intensificar a instalação das UPPs, de reprimir com bestialidade os protestos, de perseguir e encarcerar os ativistas mais combativos.
Nem o futebol que mexe com as multidões e desperta paixões entre bilhões de habitantes em todo o mundo pôde aplacar a revolta do povo brasileiro transformando em fiasco o plano do PT/PCdobê de manipular os sentimentos das massas para encobrir a grave crise que ameaça o país e pavimentar seu continuísmo no gerenciamento de turno do velho Estado na farsa eleitoral de outubro próximo.
Mas o debate surgido das jornadas de lutas da juventude contribuiu para a elevação da consciência de nosso povo, que separa sua paixão pelo futebol da podre política eleitoral das classes dominantes e seus agentes. Até mesmo a torcida que vai aos estádios, pagando caríssimos ingressos, está vaiando a gerente Dilma Rousseff e os representantes da Fifa, como foi na Copa das Confederações e agora na abertura, não permitindo que proferissem seus planejados discursos ensebados. E as vaias não são somente para Dilma Rousseff e o PT. No Rio de Janeiro, a palavra de ordem da Frente Independente Popular – FIP, organização combativa surgida das lutas independentes e classistas, é “Fora Cabral e a farsa eleitoral”. Nas manifestações mais combativas que ocorrem em todo o país, é marcante a posição classista, independente dos partidos eleitoreiros, repúdio aos governantes de PT, PSDB, PMDB, PSB, PCdobê, DEM, etc., e a decisão de resistir à repressão policial e responder com a justa resistência popular a violência do velho Estado e seus gerentes de turno.
Operação de guerra é medo das massas rebeladas
Ao longo dos últimos meses os monopólios da comunicação e os governos municipais, estaduais e federal desenvolveram intensa campanha para desqualificar os protestos contra a farra da Fifa. Formularam projetos de lei que visam tipificar o crime de terrorismo no Brasil, utilizam as leis antipovo já existentes para criminalizar e enquadrar movimentos populares e manifestantes como “organizações criminosas”, “vândalos” e “bandidos”. Polícias federal, militar e civil, Força Nacional de Segurança e exército, todo o arsenal do velho Estado está sendo utilizado contra os protestos e para isolar os estádios onde são realizados os jogos.
Os governistas e aqueles que ainda não compreenderam o significado da palavra de ordem das multidões dizem agora: “Viram só, tem Copa sim!”. Os jogos da Copa só estão ocorrendo porque impuseram um verdadeiro Estado de Sítio, que sem toda essa verdadeira operação de guerra a Copa das Copas prometida por Lula, Dilma, PCdobê e a máfia da Fifa teria que ser adiada e levada para qualquer outro lugar longe do Brasil.
Aqui em Belo Horizonte, no dia 14 de junho último, a polícia militar sitiou a cidade, bloqueou as ruas num raio de mais de três quarteirões, revistou toda a população que circulava nesse bloqueio, tudo na tentativa de impedir protestos contra a Copa da Fifa no dia do primeiro jogo na cidade. Mas o tal “envelopamento”, termo técnico utilizado pela PM para impedir o direito de livre manifestação e de ir e vir dos cidadãos, não foi capaz de barrar o protesto, que se manteve até o fim do jogo no centro da capital, denunciando a farra da Fifa e a repressão policial.
A bravata da polícia de que criaram a tática do “envelopamento” para acabar com o “vandalismo” não é nada mais do que o desmascaramento da demagogia cacarejada pelas autoridades reacionárias e essa imprensa mentirosa de que são a favor das manifestações pacíficas. Todos eles tremem quando as massas tomam as ruas e nada podem fazer senão que desatar sua covarde brutalidade. Queremos ver seu “envelope” quando dezenas e centenas de milhares voltarem a tomar as ruas. A resistência e persistência dos manifestantes sitiados hoje são o anúncio dos novos combates que virão! Voltaremos e seremos milhares e milhões para varrer toda exploração, opressão e podridão dessa velha e carcomida ordem.
O protesto segue: boicotar a farsa eleitoral
Os protestos de hoje são a demarcação do terreno da resistência e o anúncio que a revolta popular prepara para novas batalhas nos dias vindouros quando a inevitável crise econômica explodir e lançar suas chamas por todo o país, de forma mais organizada e consciente dos objetivos e programa de um novo Brasil que as jornadas do ano passado clamaram. Em todas as cidades que sediam jogos, principalmente, debaixo do mais pesado cerco repressivo e da calúnia dessa imprensa venal da burguesia, o protesto não para e não será calado. A patifaria montada com a trágica morte do cinegrafista da Band no RJ, em fevereiro deste ano, e a desabalada campanha de terror e intimidação sobre a juventude combatente não puderam deter o espírito de combate e a decisão de levar o protesto popular à frente.
E já durante a Copa os movimentos mais combativos e independentes estão levando o combate contra a farsa eleitoral que seguirá chamando o povo a boicotar as eleições e não votar! Nas últimas eleições 35 milhões de brasileiros disseram não à farsa eleitoral boicotando as eleições, votando nulo ou em branco. Como já temos afirmado, a maior resposta do nosso povo a toda essa farra da Fifa, dos oportunistas e dos monopólios, a toda podridão do velho Estado, a repressão policial, ao péssimo transporte, ao arrocho, etc., será boicotando as eleições, não votando, não participando dessa farsa de democracia.
Convocamos a população desde já, todos aqueles que apoiam o protesto popular, que não aceitam viver como escravos num país subjugado pelos monopólios e pelo imperialismo e “governado” por essas ratazanas a levantar a sua voz e juntos gritarmos: O povo prepara sua rebelião, se abre um novo tempo para a revolução!
Belo Horizonte, junho de 2014.
http://www.anovademocracia.com.br/no-133/5441-abaixo-a-farra-da-fifa-viva-a-liberdade-de-manifestacao