Alunos abandonam as bibliotecas

Alunos abandonam as bibliotecas

Por que os alunos abandonam as bibliotecas conforme crescem?

Levantamento do Todos pela Educação mostra que porcentual de alunos que nunca ou quase nunca utiliza a biblioteca escolar salta de 18,5% para 35,1% do 5.º para o 9.º ano do Ensino Fundamental

Fonte: Blog Estante de Letrinhas - Estadão.com   04 de julho de 2014

O hábito da leitura é um prazer a ser descoberto e conquistado – e não há melhor fase para adquiri-lo do que a infância e a adolescência. Parte das crianças tem o privilégio de ter pais leitores, livros em casa e muito estímulo. Mas, infelizmente, essa não é realidade de todas. Por isso as bibliotecas escolares e comunitárias são tão importantes.

Apesar da importância, nem todas as escolas conseguem fazer um bom uso desse equipamento – que não é apenas uma sala com livros e deve dialogar com o projeto pedagógico da instituição. Levantamento feito pelo movimento Todos pela Educação para o Observatório do Plano Nacional de Educação (PNE), com dados da Prova Brasil 2011, mostram que o porcentual de alunos da rede pública que nunca ou quase nunca utiliza a biblioteca de sua escola salta de 18,5% para 35,1% do 5.º para o 9.º ano do ensino fundamental no País. Em contrapartida, o número de estudantes que sempre ou quase sempre usa a biblioteca despenca de 57,4% para 29,9%, entre as mesmas séries.

Outro dado também chama a atenção: o porcentual de professores que leva seus alunos para a biblioteca para “momentos de leitura literária e estudos em geral”. A taxa cai de 40,1% entre professores do 5.º ano para 23% entre os do 9.º. Clique aqui para ver outros dados do levantamento.

Por que o interesse dos alunos cai do fim do fundamental 1 (1.º ao 5.º) para o 2 (6.º ao 9.º)?
Alejandra Meraz Velasco, gerente técnica do Todos pela Educação e responsável pela coordenação do Observatório do PNE, afirma que a biblioteca costuma ser mais utilizada como recurso pedagógico no fundamental 1 e, nesse período, as escolas não estão conseguindo desenvolver a capacidade de pesquisa e de leitura autônoma dos alunos.

Para Alejandra, a estrutura das duas etapas de ensino é diferente e também pode explicar, em parte, a questão. “No fundamental 1 há um professor regente (ou polivalente), que utiliza recursos mais lúdicos para ensinar. No fundamental 2, a estrutura já é mais parecida com o ensino médio, e o professor fica mais limitado à sua disciplina”, afirma.

Integrante do Movimento Brasil Literário (MBL), a coordenadora da rede de bibliotecas públicas da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, Fabíola Farias, também chama a atenção para o papel do professor. “Na educação infantil e no ensino fundamental, o aluno é levado pelo professor à biblioteca para desenvolver uma série de projetos. Mas, quando não há uma ação propositiva em torno do livro e da leitura literária, o estudante não assimila e depois abandona a biblioteca.”

O desafio tanto das bibliotecas escolares como das comunitárias, afirma Fabíola, é mostrar às crianças e aos adolescentes que nesses espaços estão parte da produção escrita da humanidade. “É um convite de acesso ao conhecimento. As bibliotecas não têm conseguido mostrar que a leitura é uma prática que extrapola a fase escolar.”

Castigo. O levantamento do Todos pela Educação retrata ainda que 3% dos professores do 9.º ano do fundamental costumam mandar para a biblioteca os alunos que atrapalham as aulas, contra 1% do 5.º ano. O porcentual não é alto, mas deveria ser menor ainda. Para Alejandra, a mensagem é contraditória. “Faz o aluno associar a biblioteca à uma experiência desagradável”. “O próprio professor muitas vezes não compreende o espaço da biblioteca, não tem o valor da leitura constituído”, diz Fabíola.

Censo: 65% das escolas brasileiras não têm biblioteca

Em três anos, parcela de unidades de ensino equipadas com espaços adequados para leitura passou de 33,5% para apenas 35%

Fonte: O Globo (RJ)  25 de maio de 2014

“Não pedem para eu ler muito aqui, não. Mas também não faço tanta questão assim. Acho meio chato”. Assim, Adriel Ferreira, 11 anos, Aluno do 5º ano de uma Escola municipal de Belford Roxo (RJ), um menino como milhões de outros país afora, resume espontaneamente o desinteresse pela leitura, reforçado por um dado preocupante, mas nada surpreendente: a Escola dele integra o gigantesco grupo de 65% de unidades de Ensino, públicas e privadas, sem bibliotecas no Brasil.

Os números, presentes no Censo Escolar 2013 e compilados pelo portal Qedu, mostram que, desde 2010, quando entrou em vigor a lei 12.244 — que obriga todos os gestores a providenciar, até 2020, espaços estruturados de leitura em seus colégios —, a situação praticamente não evoluiu. Naquele ano, só 33,1% das Escolas tinham bibliotecas; em 2013, eram 35%.

A situação em alguns dos estados
— Uma vez até fui mexer ali na sala de leitura (repleta de caixas de papelão e sacos plásticos), mas o pessoal da Escola falou que não era para tocar em nada. Disseram que era para os Professores — lembra Adriel.

Embora em melhor situação, as Escolas particulares ainda estão longe da universalização dos espaços de leitura: apenas 59% delas os têm, ante 28,9% das públicas. Há também grande disparidade regional. Sul e Sudeste têm a maior concentração de bibliotecas, enquanto Norte e Nordeste enfrentam dificuldades. Rio Grande do Sul (63,41%), Minas Gerais (60,52%) e Paraná (58,05%) ocupam as três primeiras colocações; Acre (18,29%), Maranhão (13,88%) e Pará (15,83%), as últimas. O Rio está em sexto, com 46% de unidades equipadas. São Paulo tem só 24%, na 19ª colocação.

Fora do orçamento das Escolas
Os baixos percentuais de cobertura levam Educadores a não acreditar que a lei será cumprida até 2020. Christine Fontelles, diretora de Educação e cultura do Instituto Ecofuturo, defende a extensão do prazo. Ela trabalha no projeto Eu Quero Minha Biblioteca, que ajuda Professores, diretores, pais e Alunos a requisitar e implantar bibliotecas nas Escolas. Seu trabalho envolve articulações com secretarias de Educação e o MEC:

— Há pouco conhecimento sobre o texto da lei e pouquíssima referência sobre o impacto que uma boa biblioteca pode causar. Não há ainda uma tradição no país de incluir as bibliotecas no orçamento das Escolas. O que não pode haver é um improviso. É preciso haver lugares adequados para a leitura, não adianta ter livros num caixote.

Na rede municipal do Rio de Janeiro, segundo o Censo de 2013, apenas 21,71% das bibliotecas Escolares podem ser consideradas como tal. O índice já foi melhor: há quatro anos, eram 34,28%. O que ocorre é que muitas possuem espaços dedicados a atividades de leitura, inclusive com amplos acervos, mas que não obedecem à lei.

Um exemplo é a Escola Municipal George Pfisterer, no Leblon, Zona Sul da cidade. O acervo da sala de leitura é de 10 mil títulos para aproximadamente 1.300 Alunos, sendo a grande maioria proveniente da Rocinha. Lá, Professores trabalham atividades com livros, como adaptação de obras literárias para o teatro, resenhas e até concursos de poesias. No entanto, diferentemente do que preconiza a lei, quem trabalha no local não são bibliotecários, mas sim Docentes, os chamados “Professores regentes”.

Mesmo assim, os gestores da Escola garantem que a fórmula é mais eficiente do que o modelo de uma simples biblioteca. Há dois anos na sala de leitura, a Professora de História Isabel Gonçalves Lepediano conta que o número de empréstimos solicitados voluntariamente por Alunos chegou a 3.529 só até agora em 2014, mais que o total de 2013.

Uma das frequentadoras da sala de leitura, a estudante Raquel de Araújo Silva, de 12 anos, diz que o local a estimula a ler. Mas sustenta que o gosto pela leitura surgiu em casa:
— Comecei com livros de poesia do meu pai.

Metodologia explicaria queda
A explicação para a queda no número de Escolas com bibliotecas na rede carioca está na metodologia do Censo Escolar. Essa é a opinião de Simone Monteiro, coordenadora do Programa Rio, Uma Cidade de Leitores da Secretaria municipal de Educação. Segundo ela, a Prefeitura tem projetos de incentivo à leitura nas Escolas que, às vezes, podem ser desconsiderados por gestores na hora do preenchimento do questionário do Censo.

— Os dados do Censo não condizem com a realidade. Nossa oferta é muito maior do que está ali.
No bairro popular de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, a situação é bem mais drástica. As Escolas municipais Casa Amarela e Córrego de Areia simplesmente não têm qualquer coisa que se assemelhe a uma biblioteca. Os livros são ofertados de forma improvisada — numa caixa de papelão, como ocorre na primeira, ou em pequenas estantes, como na segunda. Das 232 Escolas da prefeitura, mais da metade não tem espaços adequados de leitura.
Há 12 anos lecionando na rede, a Professora Vânia Costa lamenta a situação:

— Temos títulos interessantes, uns 50, mas não há espaço adequado. As crianças manuseiam os livros, mas, como eles ficam na caixa, acabam danificados.
Na Córrego da Areia, a direção criou “cantinhos da leitura” nas salas de aula, onde foram instaladas prateleiras. Ao todo, há 500 títulos.

— Já tive oportunidade de trabalhar em uma Escola sem biblioteca, no Córrego da Bica, e depois, quando ela foi instalada, percebi a diferença. A disputa pela biblioteca, onde também tinha um laboratório de informática, era grande — conta Sílvia Patrícia Bezerra Rocha, coordenadora pedagógica da unidade.

Apesar de estarem em situação melhor que as públicas, as Escolas particulares vêm perdendo espaços qualificados. Em 2010, eram 60,24%; ano passado, 58,68%. No Estado do Rio, a queda foi de 66,23% para 60,24%. De acordo com a presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares, Amábile Pácios, há uma “percepção por parte dos colégios de que a lei está ultrapassada”.

— Alunos trazem celulares e tablets para a sala. É evidente que preferem bibliotecas virtuais. A biblioteca (física) ainda é importante, mas agora não podemos mais dizer que é essencial — alega. 

Estado tem 2,6 mil escolas públicas sem biblioteca

Se quiser cumprir a legislação que obriga toda instituição brasileira de Ensino a ter uma biblioteca até 2020, pelo menos uma biblioteca por dia terá de ser criada nos próximos seis anos

Fonte: Diário Catarinense (SC)   04 de maio de 2014

Assinada há quatro anos, a lei federal que obriga toda instituição brasileira de Ensino a ter uma biblioteca até 2020 impõe um desafio diário a Santa Catarina. Se quiser cumprir a legislação, pelo menos uma biblioteca por dia nos próximos seis anos terá de ser criada.

Dados do Censo Escolar 2013 do Ministério da Educação mostram que das 6.161 Escolas de SC, 2.981 não possuem biblioteca. Até 2020, cerca de 497 bibliotecas Escolares terão de ser implantadas anualmente. A lei ainda determina que o acervo mínimo seja de um título por Aluno matriculado.

O maior déficit de bibliotecas está nas redes municipais. Das 3.937 Escolas municipais de SC, 2.475 não têm biblioteca, ou 62% das unidades. A presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Cleuza Repulho, observa que, por precisar atender à Educação infantil, os municípios muitas vezes usam espaços da biblioteca para criar novas classes. A presidente ainda pondera o uso do espaço para os livros na Educação infantil:

– Fica sem sentido a Creche ter apenas a biblioteca sem uma brinquedoteca ou um cantinho de leitura.
Para chamar a atenção para o déficit e mobilizar a sociedade, o Instituto Ecofuturo de São Paulo, uma organização da sociedade civil (Oscip), relançou em abril a campanha Eu quero minha biblioteca.

Diretora de Educação e cultura do instituto, Christine Fontelles defende que a biblioteca Escolar é fundamental para que a criança e o jovem entrem em contato com um acervo diversificado, já que muitas vezes a Escola é o único equipamento de comunicação e cultura dos estudantes. Ela acredita, porém, que a lei é um avanço.

– Agora vamos atrás para a legislação ser cumprida. O Brasil ainda não compreendeu que temos que ser educados para ler e a biblioteca é um lugar central para a leitura – diz.


 




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