Ritmo lento
Veja o que ocorreu com oito demandas dos protestos de junho
Apesar de diversas promessas, apenas uma das principais exigências dos manifestantes foi plenamente atendida em um ano
Desde que eclodiram as grandes manifestações, em junho de 2013, cobranças populares e promessas oficiais se multiplicaram. De oito demandas selecionadas por ZH, apenas uma foi atendida por completo.
Confira abaixo, um resumo do que ocorreu com cada uma.
O andamento das reivindicações
Foto: Félix Zucco/Agência RBS
Rigor contra a corrupção - Não cumprida
A reivindicação: combate à corrupção com punições muito mais rigorosas aos envolvidos em escândalos.
A promessa: a presidente Dilma defendeu o endurecimento do combate à desonestidade, assim como o Congresso. Um projeto de lei transformaria a corrupção em crime hediondo.
O que ocorreu: o Projeto de Lei 5900/2013, que estabelece a corrupção como crime hediondo, foi aprovada no Senado ainda sob o clamor das ruas. Desde então, o tema esfriou. Na Câmara, a proposta foi tirada da pauta do plenário em 8 de abril e aguarda votação.
Reforma política - Não cumprida
A reivindicação: alterar as regras da disputa política no país, tornando as eleições mais transparentes, equilibradas e menos sujeitas a delitos como o caixa 2 e a troca de favores com financiadores de campanha.
A promessa: a presidente efendeu um plebiscito para avaliar a convocação de uma Assembleia Constituinte específica para tratar da reforma política.
O que ocorreu: um dos maiores fracassos entre as respostas às mobilizações populares. A proposta do governo federal foi considerada até ilegal por políticos e juristas, considerando que uma Constituinte não poderia ser limitada a um único tema, e faltou apoio político para levar adiante qualquer mudança até o momento.
Investigação do Ministério Público - Cumprida
Foto: Fernando Frazão/ABr
A reivindicação: os manifestantes queriam derrubar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, que pretendia limitar a possibilidade de o Ministério Público realizar investigações. Isso era visto como um estímulo à impunidade de corruptos.
A promessa: políticos se comprometeram a ouvir os gritos das ruas e derrubar a proposta no Congresso.
O que ocorreu: a PEC 37, apresentada em 2011, não resistiu à mobilização popular. Acabou derrubada com impressionantes 97% dos votos na Câmara dos Deputados.
Redução das passagens - Parcialmente cumprida
A reivindicação: a reivindicação que catalisou os protestos foi a redução significativa do valor das passagens de ônibus ou, até, a sua gratuidade.
A promessa: governos de diferentes esferas se comprometeram a buscar saídas para diminuir o custo do transporte público para a população.
O que ocorreu: o governo federal desonerou as empresas de transporte público de PIS/Cofins . Em municípios como Porto Alegre, houve desoneração do Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISSQN). Na Capital, a passagem foi reduzida de R$ 3,05 para R$ 2,85, mas voltou a subir para R$ 2,95. A gratuidade não avançou.
Investimento em educação - Parcialmente cumprida
Foto: Juan Barreto/AFP
A reivindicação: melhorar os investimentos a fim de elevar o nível da educação brasileira e colocar o país em condição de disputa com países desenvolvidos.
A promessa: o governo federal defendeu a aprovação, no Congresso, de projeto que destinaria 100% dos royalties do petróleo à educação, além de intensificar ações de alfabetização, educação em tempo integral, ensino profissional, pesquisa e inovação.
O que ocorreu: foi aprovada lei destinando 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para a saúde em setembro. Conforme o Tesouro Nacional, R$ 394,4 milhões já foram destinados ao Ministério da Educação em 201. Porém, conforme o professor de Política Educacional da PUC de Minas Gerais Carlos Roberto Cury, o cumprimento integral das metas exige longo prazo.
Investimento em saúde - Parcialmente cumprida
Foto: Valter Campanato/ABr
A reivindicação: melhorar os investimentos com o objetivo de qualificar o atendimento prestado à população pelo SUS.
A promessa: em seus cinco pactos, a presidente Dilma prometeu ampliar a presença de médicos nas cidades, investir em novos hospitais, unidades de pronto atendimento, ampliar vagas em residências médicas e abater dívidas dos hospitais filantrópicos.
O que ocorreu: a saúde foi contemplada com parte dos recursos dos royalties do petróleo, e o orçamento do Ministério da Saúde passou de R$ 100 bilhões em 2013 para R$ 106 bilhões este ano. O Mais Médicos levou mais 14 mil profissionais a 3,8 mil cidades. Porém, ainda é pouco para uma evolução significativa no atendimento. A dívida dos hospitais filantrópicos, que respondem por metade do atendimento SUS no país, saltou de R$ 13 bilhões para R$ 15 bilhões devido à baixa remuneração dada pela União, conforme a Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos do país.
Responsabilidade fiscal - Parcialmente cumprida
A reivindicação: não era um tema popular das ruas, mas estava implícito na preocupação com os gastos públicos e acabou citado nos cinco pactos anunciados pela presidente Dilma.
A promessa: União, Estados e municípios se comprometeriam a investir sem desrespeitar o teto da responsabilidade fiscal, garantindo estabilidade econômica e controle da inflação.
O que ocorreu: segundo o professor de economia da UFRGS Flavio Fligenspan, a promessa é vaga e de difícil análise. A inflação oscila próximo do teto da meta do governo, de 6,5% ao ano. Pode-se considerar controlada em relação a essa meta, mas distante do que seria o ideal para o país - ao redor de 2% -, segundo o especialista.
Melhoria no transporte - Parcialmente cumprida
Foto: Félix Zucco/Agência RBS
A reivindicação: além de baixar o preço do transporte, a população exigia melhorias na qualidade e na oferta do serviço a fim de torná-lo mais eficiente e atrativo.
A promessa: o governo federal se comprometeu a investir mais R$ 50 bilhões em mobilidade urbana e criar o Conselho Nacional do Transporte Público.
O que ocorreu: dos R$ 50 bilhões, R$ 29 bilhões foram anunciados até agora para financiar projetos. Das 211 iniciativas previstas, conforme o Ministério das Cidades, apenas 21% iniciaram o processo que permite a realização de licitação. Das obras de mobilidade urbana previstas no PAC2, 26% saíram do papel até o momento.
Zero Hora