Copa do Mundo não é prioridade

Copa do Mundo não é prioridade

Milton Hatoum: Copa do Mundo não é prioridade para o Brasil

Para escritor, governantes nunca olham para as necessidades reais da população

por O Globo

 O escritor amazonense Milton Hatoum, mundialmente conhecido por sua obra publicada em 14 países e traduzida em 12 idiomas, não está empolgado com a Copa do Mundo no Brasil, principalmente, em Manaus.

— A Copa não é prioridade para o Brasil, nunca foi. Essa foi uma decisão precipitada e irrefletida. Há uma enorme carência de cidadania nesse país que não será resolvida com partidas de futebol — afirma.

Hatoun, que passou boa parte da infância e da juventude na capital amazonense, reclama que os governantes nunca olham para as necessidades reais da população:

— Os governantes constroem um estádio em uma cidade como Manaus, que não tem tradição de futebol; gastam o dinheiro público que deveria ser investido para dar mais qualidade de vida à população e acham que fizeram o melhor em seu governo. Isso é irracional.

Para o escritor, Manaus, assim como tantas outras cidades que vão sediar o Mundial, possui problemas gravíssimos, como falta de saneamento básico, habitação, educação, transporte público e emprego.

— A Copa é, simplesmente, um absurdo. Não posso concordar com isso. Manaus é uma cidade que foi abandonada por muitas prefeituras. Uma cidade em que a maioria dos bairros não possui saneamento básico ou calçadas — desabafa.

Morando em São Paulo desde 1998, Hatoun conta que quando vem a Manaus não encontra progresso ou melhorias.

— Manaus tem zonas pobres e carentes em que você encontra pessoas passando fome. Não me digam que essa não é a realidade. Eu vi de perto, em minha última ida à cidade, pessoas passando necessidades em um bairro carente, o Nova Cidade. Bairros com escolas precárias, sem uma boa biblioteca. Qual a necessidade de uma cidade como Manaus ter um estádio luxuoso e caríssimo se a metros dele há um bairro, como o Alvorada, que não tem estrutura, calçadas e tratamento de esgoto? — questiona.

Hatoun também critica a falta de arborização na cidade, do cuidado com o meio ambiente. As altas temperaturas preocupam as seleções.

— Não dá pra dizer que isso é uma coisa da natureza, que Manaus é quente apenas pelo clima. Essa é uma cidade que não se planeja. Manaus é devastada, não possui árvores, uma sombra. Isso se resolve plantando, educando, cuidando. Coisa que os governantes não fazem, e a população também tem sua parcela de culpa.

Para a cidade, afirma, ficará a conta negativa:

— Os nossos impostos vão pagar os gastos desse Mundial. E as prioridades da cidade ficarão em segundo plano.


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