Simplificando a ortografia e o ensino
"A simplificação de certas regras faz com que se aprenda ortografia com praticamente um terço do tempo e com muito mais facilidade", afirma Ernani Pimentel
Fonte: Estado de Minas (MG) 15 de junho de 2014
A princípio, pode parece simples, mas está longe de ser. A língua portuguesa tem inúmeras regras de composição de palavras, acentuação e uso de letras. Para dificultar, são incontáveis as exceções e os desvios inexplicáveis.
Encontrar quem saiba usar hífen, j, g, x, ch, s, z, por exemplo, é algo raro. Até Professores, cidadãos com notório saber e autoridades acadêmicas precisam recorrer constantemente a dicionários ou corretor ortográfico para confirmar como se escreve uma palavra ou outra, de tão complexo que é o nosso sistema. Acrescente-se aí, ainda, a diversidade de grupos culturais nos países que têm o português como língua oficial, cada um com suas características regionais.
Chegar a um resultado que facilite ao máximo o aprendizado da escrita e a intercomunicação desses falantes é um desafio a ser vencido. Notoriamente, há um desconhecimento de determinados aspectos da realidade ortográfica atual e dos benefícios que a simplificação de algumas regras pode trazer aos países de língua oficial portuguesa e aos seus povos. Engana-se quem pensa o contrário e, felizmente, o governo brasileiro atentou para a importância de prorrogar a implementação das novas regras, criando oportunidade de, num esforço conjunto, especialistas, Professores, estudantes e a sociedade civil como um todo contribuírem com sugestões para tornar a ortografia mais simples, objetiva e lógica.
A Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, depois de ter recebido vários sinais de alerta, realizou duas audiências públicas (em 2009 e 2012), convidando as autoridades responsáveis pelo encaminhamento do acordo ortográfico e representantes das opiniões críticas repercutidas na sociedade, perante senadores como Cyro Miranda, Ana Amélia, Cristovam Buarque, Lídice da Mata, Paulo Bauer, Flávio Arns, Marisa Serrano e Augusto Botelho.
Nas duas oportunidades, ficou evidente a necessidade de se trabalhar pela melhora de alguns pontos, motivo pelo qual solicitou e obteve, via audiência com a então ministra Gleisi Hoffmann, que a Presidência da República adiasse o prazo de implantação definitiva das novas regras para 1º de janeiro de 2016.
Em seguida, criou o Grupo de Trabalho Técnico (GTT) com o objetivo de reunir sugestões simplificadoras – coordenado por dois Professores de português que participaram ativamente das audiências públicas. A sociedade civil, por meio do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa (CELLP) e do www.simplificandoaortografia.com, está divulgando e recebendo sugestões de simplificação.
Não se trata de posicionamento contra o acordo ortográfico, mas existe a consciência de que algumas de suas regras (como o uso de certas letras, o hífen, os acentos de pára/para, fôrma/forma) continuam dificultando e encarecendo o Ensino.
Levantamento feito por Professores da Fundação Educacional do Distrito Federal indicam o gasto de 400 horas/aula com ortografia, do Ensino fundamental ao médio, para decorar muito e aprender quase nada.
É nesse interregno que nasce o desânimo e a crença de que português é muito difícil, criando o bloqueio gerador do Analfabetismo funcional e causador do fato de que apenas 20% da população pode ser considerada plenamente alfabetizada. Esses mesmos Professores calcularam que, com a simplificação de algumas regras, a ortografia seria ensinada mais eficazmente com apenas 150h/a, 250h/a a menos, o que representa uma forte economia de tempo e dinheiro (R$ 2 bilhões/ano).
E mais: levando-se em consideração que a simplificação de certas regras faz com que se aprenda ortografia com praticamente um terço do tempo e com muito mais facilidade, pode-se prever uma forte redução nos índices de Analfabetismo e na taxa de rejeição ao estudo da língua, simultaneamente fortalecendo a inclusão social. E ainda: a quantidade de cidadãos.