Classe política e professores

Classe política e professores

O que realmente pensa a classe política sobre os professores

"Se dependesse do governo, a Lei do Piso teria sido sepultada, a fim de não garantir aos professores o direito ao piso salarial nem à redução da carga horária", afirma Antonio de Souza Matos

Fonte: Folha de Boa Vista (RR)  05 de junho de 2014

Os discursos de valorização do magistério feitos pelos políticos, sobretudo em período eleitoral, não podem ser levados a sério, em hipótese nenhuma, pois as condições em que vivem os Professores brasileiros revelam exatamente o que pensam os dirigentes do País sobre a categoria.

Os salários do magistério, de norte a sul do Brasil, não atraem ninguém, razão pela qual a demanda por cursos de licenciatura vem diminuindo nas universidades públicas e privadas. Os que optam pelo magistério o fazem por não querer abrir mão da sua vocação profissional ou por falta de alternativa, ou seja, por não conseguirem aprovação no vestibular para cursos mais atrativos. Não é por acaso que boa parte dos profissionais da área educacional tem dois ou três contratos de trabalho.

Muitos Professores, por conta disso e da atual conjuntura de violência que adentra o ambiente Escolar, desenvolvem um altíssimo grau de estresse, responsável pelo desencadeamento de diversas doenças: síndrome do pânico, síndrome de esgotamento mental e físico, nódulos nas cordas vocais, problemas cardiovasculares, entre outros.

O incentivo à progressão funcional é pífio. Alguns se matam para concluir uma especialização para receber a mais um valor que não cobre o esforço mental e o dispêndio financeiro empregados durante o processo de formação. Além disso, têm de esperar meses ou anos para receber esse irrisório valor. Em 2007, por exemplo, os trabalhadores em Educação de Roraima só conseguiram receber 14 anos de progressões horizontais devidas pelo governo depois de uma greve que durou mais de trinta dias.

Os direitos trabalhistas da categoria são continuamente desrespeitados sem o menor escrúpulo. O percentual de aumento das receitas do Fundeb não é repassado aos salários dos Docentes nem dos demais profissionais da Educação, como deveria ser feito, ou seja, levando-se em consideração o custo-Aluno anual.

Mudam-se as regras do jogo o tempo todo para subtrair direitos adquiridos com sangue, suor e lágrimas. Em Roraima, a data-base da categoria foi mudada em total desrespeito à lei que rege o magistério público estadual. Se dependesse do governo, a Lei do Piso (Lei nº 11.738/2008) teria sido sepultada, a fim de não garantir aos Professores o direito ao piso salarial nem à redução da carga horária.

Os reajustes anuais, que deveriam repor as perdas salariais, quando são cumpridos, ficam sempre abaixo da inflação. Isso tem contribuído para elevar o nível de estresse e o endividamento da categoria. Raros são os Professores que não têm seus contracheques cheios de empréstimos consignados.

Nem é preciso falar das péssimas condições de trabalho a que são submetidos diariamente. Negam-lhes recursos didáticos e estrutura física mínimos para o desenvolvimento do trabalho pedagógico, mas querem exigir o máximo de qualidade.

A entrevista do governador de Roraima que vem sendo compartilhada nas redes sociais não deveria, portanto, causar estranheza aos Professores. Ela revela o que de fato pensa a classe política sobre aqueles que são responsáveis pela formação intelectual e profissional dos filhos da classe trabalhadora.

Monteiro Lobato disse que “uma Nação se constrói com homens e livros”, porém a classe política brasileira prefere manter o povo na dependência e no cabresto com uma série de programas assistencialistas.

*Professor




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