Da luta ao discurso moderado
Nova dirigente do Cpers tem discurso moderado
EM DISPUTA APERTADA, a professora Helenir Oliveira venceu a atual presidente do sindicato com o respaldo de diferentes correntes do PT
A professora Helenir Oliveira, filiada ao PT e apoiada por diferentes correntes do partido, foi eleita ontem a nova presidente do Cpers-Sindicato.
Considerada a candidata de perfil mais moderado do pleito, Helenir derrotou a atual líder da entidade, Rejane de Oliveira, postulante ao terceiro mandato, e outras duas concorrentes.
A mudança de comando ocorre em um dos momentos mais delicados da história do Cpers, marcado pela perda de representatividade. Apesar de apertada, a vitória de Helenir endossa o discurso governista, segundo o qual os professores estariam reconhecendo o esforço de valorização do governo Tarso Genro – que concedeu reajuste de 76,6% à categoria, embora continue sem pagar o piso.
Mas os motivos da reviravolta nos rumos do sindicato vão além. Entre as razões, estão o desgaste de Rejane à frente do Cpers, a falta de diálogo e o racha dentro da esquerda radical. Neida de Oliveira, que integrava a atual gestão até 2013, também concorreu e, com isso, dividiu os eleitores.
– Isso sem dúvida contribuiu para o resultado, mas o que mais pesou foi a campanha deliberada do Piratini a favor da chapa 2 (com Helenir à frente), algo nunca visto – alfinetou Rejane.
Professora de português com atuação na rede estadual desde 1987, Helenir tem 60 anos. Com tranquilidade, ela rebateu as críticas da adversária (leia a entrevista abaixo). É integrante do grupo Articulação Sindical, corrente do Cpers e da CUT, e também tem apoio da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), além de setores do PDT e do PTB. Deve assumir o cargo em agosto.
juliana.bublitz@zerohora.com.br
JULIANA BUBLITZ
ENTREVISTA
“Queremos que a capacidade de dialogar seja nossa marca”
HELENIR OLIVERA
Presidente eleita do Cpers
Logo depois de saber da vitória, a presidente eleita do Cpers, Helenir Oliveira, conversou com ZH por telefone. A professora planeja reconquistar a categoria, retomando o diálogo e mantendo-se à margem da política.
A senhora esperava esse resultado?
Nas nossas andanças pelo Estado, percebemos um alto grau de indignação na categoria. Muitos votaram em nossa chapa, mas nem todos participaram da eleição, justamente por esse sentimento. Sou da velha guarda, do tempo em que o sindicato ouvia os professores. Vamos retomar isso.
Como a senhora pretende reconquistá-los?
Ouvindo, discutindo com eles, indo até as escolas. Faremos com que a categoria volte a se sentir representada.
Como será a relação do Cpers com o governo estadual?
Queremos que a capacidade de dialogar e de negociar seja a nossa marca. Não achamos que, para ser combativo, o sindicato precisa fazer uma greve todos os anos. Vamos buscar avanços para a categoria e voltar a discutir a educação.
Para os adversários, a sua candidatura foi forjada pelo Palácio Piratini. O que a senhora tem a dizer sobre isso?
Fico triste ao ver educadores que deveriam estar formando jovens com olhar crítico fazerem esse tipo de comentário. Quando começaram a falar isso, eu decidi que não perderia tempo respondendo. Nós vamos fazer a luta sindical independentemente do governo e de partidos políticos. Aqueles que me chamam de governista são justamente os que enfraqueceram o Cpers.
A senhora se considera moderada?
Se alguém acha que ser moderado é ser capaz de negociar e não participar de baderna, então eu me considero moderada.
Existe a possibilidade de haver novas greves na sua gestão?
Quem poderá responder se deve ou não haver novas greves é a categoria. A iniciativa terá de surgir das escolas, e não da direção do sindicato.