Avaliação de professores

Avaliação de professores

Uma nova visão sobre a avaliação de professores

"A compreensão do objetivo da avaliação não está dada, porque na história da Educação geralmente ela serviu para classificar e excluir, e não para qualificar os processos e as pessoas", afirma Inge Suhr

Fonte: Gazeta do Povo (PR)  11 de junho de 2014

Recentemente li na Gazeta do Povo o artigo intitulado “O desafio de avaliar (bem) os Professores” e gostaria de apresentar algumas reflexões, tendo como referência minha formação acadêmica e experiência como coordenadora pedagógica no Ensino superior.

Com certeza, todos os processos humanos precisam ser avaliados! Avaliamos sempre, em todas as situações do dia a dia – quando, por exemplo, analisamos o fluxo de carros em determinada rua e escolhemos outro trajeto para não nos atrasarmos. Mas nem todos os processos avaliativos são tão simples, e avaliação do desempenho Docente se insere neste grupo.

Vários são os fatores que interferem no desempenho do Professor em sala de aula e, dependendo do modo como a avaliação desse processo se realiza, ela tende a empurrar unicamente para o Professor a responsabilidade do processo Ensino-aprendizagem.

Na verdade, a sala de aula é síntese de múltiplas determinações, não está isenta dos problemas e contradições que ocorrem na instituição de Ensino superior (IES) como um todo, e nem das determinações mais amplas da sociedade. Exemplifico: nossa sociedade difundiu o raciocínio do cliente no Ensino, dando a entender que o Professor presta um serviço ao Aluno, seu cliente. Se essa visão estiver presente na IES, será privilegiada a ação Docente que sempre se adapte aos desejos do Aluno. Mas será que o Aluno realmente sabe o que é necessário para ser um bom profissional?

Será que em alguns momentos ele não precisará aprender coisas que, aparentemente, são desinteressantes, mas essenciais para o exercício profissional? Nesse caso, será que um Professor que se mantenha firme nesse direcionamento será bem avaliado por seus Alunos? No entanto, se a IES difunde outra visão em relação ao papel do Professor como profissional, que não o de atender às necessidades imediatas do Aluno, mas de gerar novas necessidades a partir da área de atuação futura e das demandas da cidadania, teremos outra avaliação do mesmo Docente.

Outro aspecto relevante é a concepção de Ensino superior e o quanto ela está clara para quem avalia o Professor. Qual o objetivo do Ensino superior: profissionalização ou cidadania? O que é aula? Como deve ser a organização do espaço e do tempo em cada disciplina?

Avaliar sem antes refletir coletivamente sobre esses pontos fatalmente levará à análise do desempenho Docente a partir do senso comum, que espera um Professor transmissor de conhecimentos prontos e inquestionáveis, mas amável e cordato com os Alunos.

Também não podemos esquecer de que há especificidades por curso ou mesmo por disciplinas, sendo algumas de mais aprofundamento teórico, outras mais teórico-práticas. Neste caso, como avaliar os Professores pelos mesmos critérios?

Vale ressaltar ainda a interferência das condições concretas de trabalho na atuação do Professor: número de Alunos por turma, qualidade do espaço físico, disponibilidade de equipamentos (laboratórios, softwares, recursos audiovisuais), presença ou não de discussões coletivas sobre o projeto de curso alinhando as ações.

Finalmente, é preciso pensar o que é avaliar, entendendo que se trata de um processo de análise com vistas à sua constante melhoria. A compreensão do objetivo da avaliação não está dada, porque na história da Educação geralmente ela serviu para classificar e excluir, e não para qualificar os processos e as pessoas. Trata-se de uma mudança de paradigma, que poderá ser mais facilmente alcançada se a IES investir maciçamente na formação continuada dos Docentes.

Não pretendi afirmar que ao Professor não cabe a responsabilidade pela qualidade do seu trabalho, mas sim demonstrar que não se trata de uma tarefa individual e que, por isso mesmo, ela é complexa. Razão pela qual precisamos planejar cuidadosamente a avaliação do desempenho Docente, vendo-a como parte de um todo maior.

*Inge Suhr, doutora em Educação, é Professora e coordenadora pedagógica do Centro Universitário Internacional Uninter. 

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