Copa do Mundo e Política

Copa do Mundo e Política

Copa do Mundo e Política - Minha posição

8 de junho de 2014 às 22:59

“O homem que pretende sempre ser coerente no seu pensamento e nas suas decisões morais é uma múmia ambulante ou, se não conseguiu sufocar toda a sua vitalidade, um monomaníaco fantástico” Aldous Huxley

“Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” Raul Seixas

“Não é triste mudar de idéias, triste é não ter idéias para mudar.” frase atribuída ao Barão de Itararé e a Francis Bacon

Para quem não é amigo próximo as minhas caminhadas de militância podem parecer bastante estranhas mas procuro ser honesto e transparente sempre. Por isso escrevo rapidamente este breve resumo para esclarecer alguns pontos caso alguém se interesse em tentar entender o que vêm acontecendo. Além de fazer constantemente a crítica da realidade na qual vivemos, procuro sempre fazer autocrítica, revendo posições. Em 2013, como em anos anteriores, participei da luta contra o aumento da passagem de ônibus. Mas 2013 foi diferente. Um bloco se formou, congregando democraticamente grupos políticos de esquerda diversos. Do PT a anarquistas, passando por PSOL, PSTU e movimentos sociais, sindicatos, estudantes, etc. No ano anterior um boneco inflável do mascote da Copa do Mundo foi defendido pela Brigada Militar com violência absurda contra manifestantes, em meio a protestos contra o projeto privatista da prefeitura de entrega de espaços públicos para grandes empresas, além do modelo de mobilidade que privilegia os automóveis. O movimento em Porto Alegre esfriou mas em junho ocorreram grandes manifestações em São Paulo, lideradas pelo Movimento Passe Livre, que foram duramente reprimidas pela polícia. Quando repórteres da grande mídia foram atingidos por balas de borracha e a juventude de classe média teve contato com a violência policial, a onda de protestos se espalhou pelo país. A grande mídia, que antes condenava as manifestações, mudou seu discurso, percebendo seu potencial para enfraquecer o governo Dilma, e ajudou a espalhar a onda de manifestações pelo país. A esquerda se assustou quando percebeu que a classe média que estava vindo para as ruas é reacionária, de direita, homofóbica, machista. A frustração com a política fortaleceu a postura anti-partidária. Esses novos manifestantes, os "coxinhas", rejeitavam as bandeiras dos partidos que tradicionalmente estavam nos protestos. Em alguns casos militantes partidários foram ameaçados com violência corporal caso não guardassem as bandeiras, evidenciando o caráter fascista da classe média, com sua ideologia alimentada durante anos pela grande mídia. Em Porto Alegre as manifestações também retornaram, com foco na luta pelo Passe Livre. Os manifestantes se dividiam entre quem apoiava o uso de máscaras e quem o rejeitava, entre as ações diretas dos black blocs e os pacifistas que gritavam "sem vândalismo" e, claro, entre militantes partidários e coxinhas que demonizavam os partidos e chegavam a defender um golpe militar. Ao retornar de uma manifestação que havia se encerrado com a típica repressão desnecessária e covarde da Brigada Militar, com muito gás lacrimogêneo, conversei com alguns adolescentes no trem. Me falaram que os problemas que existiam era por causa desses partidos de esquerda que só incomodavam e que depositavam grande esperança para mudar o Brasil em Aécio Neves. Com o tempo os coxinhas saíram das ruas, provavelmente porque geralmente os atos se encerravam com violência. Os protestos passaram a ser protagonizados novamente mais por militantes de esquerda, marxistas e anarquistas. A repressão policial continuava, inclusive com a polícia apreendendo materiais nas moradias de lideranças do movimento. A Câmara de Porto Alegre foi ocupada e projetos de lei foram escritos. Me envolvi mais no meio sindical. Passei a colaborar com a Mídia NINJA, transmitindo diversos atos ao vivo, por video, através do celular. Com a repressão da Brigada Militar, sob comando do governo Tarso, aumentou o sentimento de rejeição aos militantes petistas no bloco e em uma assembléia militantes foram expulsos. Tal sectarismo levou muitos ativistas a se afastar dos atos. Muito descontente com a repressão da Brigada, e motivado por outras questões, decidi romper com o PT mas também não me identificava nem com trotskistas e nem, muito menos, com anarquistas. Após conhecer Cuba não poderia militar com companheiros que não apóiem o processo revolucionário daquele povo. Na área sindical passei a militar com a Intersindical, ligado ao PSOL. Este partido viveu um período de polarização entre dois campos que disputam o partido e a candidatura à presidência da República: trotskistas, principalmente do MES e CST, em torno da candidatura de Luciana Genro e defensores de um partido mais popular, principalmente da APS, em torno da candidatura do senador Randolfe Rodrigues. A guerra interna cansou e me aproximei do PCB. Me identifiquei muito com as posições do Partidão no cenário internacional e concordo com boa parte das teses referentes ao Brasil. Nas ruas ecoava o grito de "não vai ter Copa", embora com uma quantidade cada vez menor de manifestantes. No Rio a morte do cinegrafista com a consequente identificação dos responsáveis chocou o país. O movimento que era de massas em 2013 se tornou uma referência para discursos inflamados porém o povo não se organizou. Chegamos às vésperas da Copa do Mundo e o sentimento anti-Copa permanece, inflamado pela grande mídia, porém os protestos nas ruas ocorrem apenas por parte de categorias grevistas ou movimentos sociais como o MTST. De fato, o discurso anti-Copa se misturou ao tradicional vira-latismo dos brasileiros que se envergonham de seu próprio país. Vemos em todo mundo a crescente onda de direita e até de extrema direita. O clima eleitoral me fez repensar posições. Os partidos da esquerda novamente ficam com 1% ou menos que isso nas pesquisas e a oposição aos governos petistas cresce. No meio sindical o Partidão tem se aliado aos grupos trotskistas mais radicais, como é o caso do CPERS, rompendo com a Intersindical. Incrivelmente vejo pessoas que já tiveram posições de esquerda depositando esperança na eleição de Ana Amélia Lemos ao governo do RS. Diante deste cenário sou obrigado pela minha consciência a me posicionar de maneira que parece contradizer as duríssimas críticas que fiz aos governos petistas no último ano. Pois as críticas eu mantenho. Porém, milito para que as coisas avancem e não para que retrocedam. Não coloco esperanças revolucionárias no sistema eleitoral burguês que temos hoje mas não posso deixar de reconhecer os avanços deste governo. Avanços ameaçados pelo projeto neoliberal que se apresenta novamente nas eleições, com sua velha receita de austeridade que tem resultados bem conhecidos. A crise na Europa é um exemplo atualíssimo das consequências do neoliberalismo. Quanto à Copa mantenho a posição de que os absurdos da FIFA, a Lei da Copa, as remoções violentas de milhares de famílias e demais ataques ao povo brasileiro devem ser denunciados. Quando se iniciaram as "jornadas de junho de 2013" realizei uma pesquisa para a disciplina de Sociologia do Desenvolvimento no qual analisei os números da Copa e concluí que é um bom negócio, do ponto de vista econômico. Certamente o país ganhará dinheiro e crescerá. No entanto, tendo contato com o lado podre do evento, passei à posição de que o preço a ser pago pelo povo era alto demais e por isso me opus ao evento. Nunca fui torcedor de futebol mas sempre compreendi e me emocionei com a competição entre as seleções do mundo todo. Trata-se de uma festa importante para boa parte dos povos do mundo. Agora chegamos na semana do início deste evento. Se o povo tivesse se organizado faria algum sentido a luta contra a Copa mas agora é certo que o evento irá acontecer. O mundo se reunirá no Brasil. Será uma linda festa. Os bastidores sujos precisam ser denunciados, é claro. Espero que a luta continue para que os abusos que aqui ocorreram não ocorram mais nas próximas Copas. Torcer pelo sucesso da Copa é torcer pelo Brasil. A imagem do país será divulgada ao mundo. Muito dinheiro entrará agora no evento e depois pela divulgação do país. Torcer para que seja um fiasco ou até mesmo contribuir para isto me parece absurdo. Este é o meu país, o qual amo. Neste momento o grito “Da Copa eu abro mão; quero é dinheiro pra saúde e educação” não me parece fazer sentido pois se ocorrer algum desastre na Copa o Brasil pode deixar de receber dinheiro que poderia ser investido nessas áreas. Tivemos a oportunidade nos últimos anos de visitar mais de 20 países, o que só aumentou nossa admiração e esperança no Brasil. Como sempre digo, há grandes problemas mas precisamos avançar e não retroceder. Somos um país rico, com grande potencial. Luto por um país mais justo e democrático para nossa filhinha Alícia Lotte. A síndrome de vira-latas me dá nojo. Espero ter esclarecido aqui um pouco da minha caminhada no último ano. Ao longo dela fiz diversos amigos que espero manter. Sei que alguns grupos mais sectários costumam defenestrar divergentes porém gostaria que ficasse claro que apesar das diferentes leituras que fazemos da conjuntura atual, estamos do mesmo lado na luta por um mundo mais justo. A revolução só acontecerá com a organização dos trabalhadores. A luta é de classes! Posso estar errado mas esta me parece ser a posição mais correta no contexto atual. Me mantenho sempre aberto ao debate construtivo.

Até a vitória sempre!

Rolf Jesse Fürstenau

8 de junho de 2014




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