A chance perdida por Isadora
Luiz Araujo
Esta semana foi o lançamento do livro da jovem Isadora Faber, que ficou conhecida por divulgar em um blog o cotidiano de sua escola. Na época ela estudava em uma escola pública na cidade de Florianópolis, no estado de Santa Catarina.
Suas reflexões trouxeram à tona a precariedade do atendimento educacional público, suas mazelas e poderiam propiciar uma sincera reflexão acerca dos diferentes padrões de qualidade na garantia do direito à educação. Porém, no dia do lançamento do seu livro a menina Isadora afirmou que depois da experiência, provavelmente colocaria seu filho na escola privada.
“Não me arrependo de ter feito escola pública por tudo que aconteceu. Mas em relação ao ensino gostaria de não ter estudado”, afirmou em evento de lançamento de seu livro “Diário de Classe – A Verdade” (Ed. Gutenberg) em São Paulo.
A educação é um direito de todos e um dever do Estado. Temos 50 milhões de alunos na educação básica, sendo que 82,8% estudam em escolas públicas. A maioria delas em piores condições do que as vivenciadas por ela em Florianópolis, com certeza. A garantia do direito na sua integralidade ainda é um sonho distante, portanto.
A postura de Isadora de expor ao mundo as agruras de sua escola alertavam a sociedade para a necessidade de lutar por melhores escolas, por um padrão mínimo de qualidade, pelo tão sonhado "padrão Fifa" nos serviços públicos.
O seu último comentário representa uma saída individual para o problema. é a alternativa usada pela maioria da classe média, que tendo condições financeiras para tal, resolve pagar duas vezes pelo mesmo serviço: uma como cidadão ao pagar impostos para ter educação, saúde, transporte, segurança e outra como individuo privado, que vai ao mercado comprar um produto.
Não sei das atuais condições da família de Isadora, nem sei se refletindo melhor ela irá reconsiderar este meio conselho que acabou oferecendo aos leitores do seu blog e do seu livro. Sei que a maioria dos 40 milhões de brasileiros que possuem filhos na escola pública possuem o direito de ter uma escola de qualidade e que tirar os seus filhos e colocá-los em escolas privadas não é uma hipótese plausível.
O comentário infeliz representa uma chance perdida por Isadora de fortalecer os que lutam por uma educação pública de qualidade. E representou água no moinho nas posições publicadas semana passada pela Folha de São Paulo e defendida por parte significativa da elite brasileira, que sonha em privatizar tudo que é público.