Fatia do PNE para particulares
ProUni e Fies entram no Plano de Educação
Programas serão contados nos 10% do PIB que o País terá de obrigatoriamente investir em 10 anos
Fonte: O Estado de S. Paulo (SP) 04 de junho de 2014
Com a ajuda de partidos da oposição, o governo federal conseguiu evitar que programas de expansão do ensino e de entidades filantrópicas fossem retirados da base de cálculo de investimento mínimo no ensino previsto pelo Plano Nacional de Educação (PNE). Após três anos tramitando no Congresso, a redação final do projeto foi aprovada na noite de ontem e agora segue para sanção da presidente Dilma Rousseff.
O segundo PNE do Brasil prevê que, ao término dos próximos dez anos, União, Estados e municípios terão de alcançar um aporte mínimo para a educação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma emenda encampada pelo PSB, PCdoB e PDT, no entanto, queria excluir da composição dessa conta programas como o Fies, Pronatec, Ciência sem Fronteiras e o PROUNI,muitos dos quais envolvem parcerias com instituições privadas. A proposta acabou derrotada por ampla margem.
O argumento de aliados do governo é que, mesmo que um bolsista do PROUNI curse o ensino privado, seus estudos estão sendo subsidiados com recursos públicos e, por isso, devem entrar na conta. Por pressão do núcleo de educação do PT, o Planalto acabou recuando e retirou apoio a uma outra emenda, apresentada pelo ex- ministro Gastão Vieira (MA), que visava a desobrigar a União de cobrir Estados e municípios que não conseguirem alcançar o desembolso mínimo de um novo parâmetro de financiamento da educação básica, o Custo Aluno-Qualidade. O CAQ será criado por este PNE e será responsável por estipular uma aplicação mínima por estudante, mas deverá ser regulamentado por um projeto do Executivo.
O relator do PNE, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), disse que não há previsão de veto presidencial à proposta e destacou que, a partir de agora, haverá um padrão da qualidade do ensino no País. "E uma demanda antiga da sociedade brasileira." O primeiro PNE, ainda no governo Fernando Henrique Cardoso, previa um aporte mínimo do PIB de 7%. Na época, o dispositivo foi vetado.
Metas e diretrizes. O PNE coloca como objetivo alcançar em cinco anos investimentos de 7% do PIB. O texto também coloca uma série de diretrizes que deverão ser perseguidas no próximo decênio, entre elas a erradicação do analfabetismo, a universalização do atendimento escolar, a superação das desigualdades educacionais e a valorização dos profissionais da educação.
O novo PNE se propõe a universalizar até 2016 o ensino infantil na pré-escola para crianças de 4 e 5 anos e a ampliar a oferta em creches para 50% da população de até 3 anos. No fundamental, a meta será universalizar o ensino para todas as pessoas de 6 a 14 anos e que a taxa de conclusão chegue a 95%. O PNE tem a meta de universalizar o ensino médio.
ENTREVISTA: Fundamental não é gastar 10% do PIB, mas cumprir metas’
Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
A Campanha Nacional Pelo Direito à Educação foi a principal articuladora da sociedade civil na redação do Plano Nacional da Educação (PNE) e na pressão por sua aprovação. De acordo com o coordenador da campanha, Daniel Cara, "o fundamental é cumprir as metas".
Incluir PROUNI e Fies no cálculo dos 10% atrapalha o PNE?
Aprovaram 10%, mas hoje já sabemos que são menos de 9%, porque essa é a participação da transferência de recursos públicos para o setor privado. A expansão privada (do ensino superior) tem um problema, porque as instituições não ofertam qualidade, não aceitam controle social e transparência. O resultado é que o setor tem influência no Congresso.
Por que 10% são importantes?
A meta dos 10% do PIB para a educação só existe com as outras 19 metas, mas as outras estavam ancoradas em investimento. Vamos ter de fazer esforço contábil para garantir o cumprimento das metas. A gente vai ter de acompanhar o PNE. O fundamental nunca foi gastar os 10%, mas cumprir as outras metas. E daí veio o cálculo sobre o PIB.
Mas foi uma vitória que a União tenha de complementar recursos para atingir o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi)?
A complementação é dispositivo constitucional que nunca esteve a contento. Em dez anos poderemos resolver problema histórico, que é baixa participação da União no investimento em educação. É uma justiça federativa. O cálculo do CAQi leva em conta jornada de aula, número de alunos por turma, valorização do professor e infraestrutura. Tem devir corroborado com a justiça tributária. O Brasil tem previsão de viabilizar mais recursos, com o pré-sal, mas também precisa cobrar mais de quem ganha mais, fazendo com que os mais ricos contribuam mais.
Como conseguir cumprimento de todo plano?
O PNE vai exigir sacrifício da sociedade, não vamos resolver os problemas da educação de modo instantâneo. O mais importante é que a gente deu passo importante para um caminho inexorável, que é a valorização dos professores. Temos de pressionar o governo federal a ter um acompanhamento e avançar no controle social de Estados e municípios.
Fatia do PNE para particulares
Deputados governistas comemoram aprovação do projeto, que segue a sanção presidencial
Fonte: Correio Braziliense (DF)
O Plenário da Câmara dos Deputados terminou ontem a votação dos destaques do Plano Nacional de Educação (PNE), que orientará os esforços governamentais na área nos próximos 10 anos. A lei segue para a sanção presidencial.
As duas principais pendências decididas ontem foram a ajuda financeira da União para estados e municípios atingirem o Custo Aluno Qualidade (CAQ), um valor mínimo de investimento por Aluno — na qual o governo cedeu —, e a destinação de10% do Produto Interno Bruto (PIB) exclusivamente para a Educação pública, proposta que acabou derrotada com o incentivo do governo. De acordo com o texto, também contarão na meta dos 10% os repasses feitos a entidades privadas, seja em programas como o Prouni e o Fies, seja por meio das isenções fiscais concedidas a entidades filantrópicas, como as universidades católicas.
A proposta de que os 10% fossem apenas para a Educação pública foi apresentada durante a votação pelo PDT. Apesar das orientações de PSol, PCdoB e PSB a favor da proposta, o destaque foi derrotado por 296 a 118. “O texto como está traz uma leitura de ‘Educação pública’ abrindo para uma série de iniciativas privadas, por meio de isenções, incentivos e bolsas, contabilizando nesses 10% o Prouni, o Fies e o Pronatec, que já estão definidos em lei e tem recursos próprios. É um pulo do gato. Nas nossas contas, esses 10% viram 8,2% do PIB em 10 anos. Queremos os 10% para a Educação mesmo”, disse o deputado Chico Alencar (PSol-RJ).
Entidades ligadas ao setor também criticaram o texto saído da Câmara. “Esse dinheiro será dividido, sem limite, com a Educação privada. Isso é muito perigoso. Por exemplo, o Fies cresceu no governo Dilma mais de 1.000%. Então há uma ação das empresas da Educação privada no sentido de competir por esse dinheiro”, disse a secretária-geral da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iara Cassano Santos. “Todas as metas que nós calculamos precisavam dos 10% do PIB para a Educação pública.
A entrada do setor privado nesse bolo diminuirá a quantidade de recursos necessária para a viabilização das metas”, reforçou o coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.
As críticas foram rebatidas no plenário pelo relator da proposta, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR). “Tudo isso (as transferências a entidades privadas) representa um total de R$ 13 bilhões, enquanto nós estamos falando de um acréscimo de R$ 240 bilhões. Não há por que qualquer partido ou cidadão ter receio de falta de dinheiro. Noventa e oito porcento desses recursos estão diretamente vinculados através das metas”, detalhou o relator.
“Demagogia”
O vice-líder do PT, José Guimarães (CE), acusou os apoiadores do destaque de demagogos. “A União não pode contemplar tudo. Esse projeto é do governo. A maior vitória são os 10% do PIB nos 10 anos. Qualquer coisa além disso é fazer graça com o chapéu alheio, é fazer demagogia. O governo tem compromisso com a Educação pública, mas também com o equilíbrio fiscal”, disse. Guimarães lembrou que, na versão anterior do Plano, a meta relativa ao financiamento foi vetada integralmente pelo então presidente da república, Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Senado altera Lei dos Caminhoneiros
O Senado aprovou ontem o projeto conhecido como Lei dos Caminhoneiros, que flexibiliza a jornada de trabalho da categoria. Os parlamentares alteraram o texto aprovado pela Câmara. Em vez de fixar em 12 horas a carga diária, os senadores aprovaram 10 horas de jornada. Com a mudança, o texto volta para a outra Casa. Durante a aprovação do projeto na Câmara, há suspeitas de que parlamentares tenham pagado a funcionários da casa para aplaudirem na galeria. O Correio denunciou em 1º de maio uma fila de supostos caminhoneiros recebendo notas de R$ 20 e R$ 50 após a análise da proposta.