Salários e qualidade

Salários e qualidade

"Melhorar a remuneração dos professores tem pouco impacto no desempenho dos alunos, mas torna a carreira mais atrativa", afirma Antônio Gois

Fonte: O Globo (RJ) 26 de maio de 2014

Em vários estados, sindicatos de Professores novamente fazem greves para cobrar melhores salários. Como em toda a paralisação, o risco é que o movimento se arraste por um longo período e, ao final, a reposição das aulas, quando houver, seja precária. Os Alunos, como sempre, são os maiores prejudicados neste caso, e pouco se discute o que eles, razão principal de a Escola existir, teriam a ganhar caso seus Professores recebessem os reajustes pedidos.

No curto prazo, estudos mostram que aumentar o salário Docente tem pouco ou nenhum efeito no desempenho dos estudantes. Tal constatação, como era de se esperar, é rechaçada por muitos Professores e sindicatos, que, não raro, reagem a essas evidências denunciando nelas uma tentativa ideológica de enfraquecer suas reivindicações. Não se trata, no entanto, de uma conspiração de acadêmicos para atacar o magistério. A lógica por trás do argumento, em geral, se aplica a qualquer profissão. Ganhos imediatos na remuneração de uma categoria não elevam, de forma imediata, a produtividade do trabalho. Ou, por outro prisma, nenhum empregado se torna mais qualificado apenas porque recebeu aumento.

Há quem conclua, diante dessas evidências, que reajustar o salário dos Professores não deve ser uma prioridade. Só que o problema maior não está no curto prazo. Em 2007, um relatório da consultoria McKinsey ficou famoso por investigar características comuns aos países com melhor desempenho educacional do mundo. Uma das constatações mais importantes do estudo foi que, nessas nações, a carreira Docente tinha status e atratividade, entre outras razões, por oferecer um bom salário inicial.

No Brasil, ocorre justamente o oposto. Após o relatório da McKinsey, um estudo da Fundação Lemann, coordenado por Paula Louzano, mostrou que o perfil dos matriculados em cursos de pedagogia era, em geral, de Alunos que estudaram em Escolas públicas, de menor renda, e de pais com menor Escolaridade. Em 2009, uma pesquisa das fundações Victor Civita e Carlos Chagas também mostrou que um terço dos Alunos do Ensino médio chegou a cogitar seguir a carreira Docente no Brasil, mas no fim das contas só 2% efetivamente continuaram com esse objetivo. Entre os que desistiram, a maior parte, 40%, citava a baixa remuneração como o motivo.

Hoje, segundo pesquisas levadas a cabo pelo IBGE, o magistério segue sendo a carreira universitária de pior remuneração. Em 2012, a renda média de um Professor de Ensino médio correspondia a 70% do recebido, também em média, pelos demais profissionais com nível superior completo.

A situação já foi pior. Em 1995, essa proporção era de 51%. Os dados do IBGE mostram também que essa desvantagem dos Professores em relação às demais carreiras universitárias aumenta à medida que o profissional vai ficando mais velho.

Pagar melhores salários aos Professores não é simples, custa caro, e certamente não pode ser a única estratégia para melhorar a qualidade do Ensino. No entanto, faz sentido no longo prazo. Resta a dúvida se a banalização das greves, frequentemente incapazes de mobilizar a categoria e atrair a simpatia da opinião pública, são mesmo o melhor meio para atingir esse objetivo. 




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