A escola vai desaparecer
“A escola que conhecemos vai desaparecer”
Daniel dos Santos
António Nóvoa, doutor em ciências da educação pela Universidade de Genebra, diz que o velho prédio escolar será substituído por uma instituição que vai muito além da sala de aula
Olhe bem para a escola que você conhece. Ela vai desaparecer. E não é algo para um futuro distante. Os educadores atuais serão responsáveis por esse processo de transição. É o que acredita António Nóvoa, doutor em ciências da educação pela Universidade de Genebra e doutor em história pela Universidade de Paris. Durante sua palestra na Educar Educador, que teve como tema “A construção coletiva do projeto educativo na escola” ele afirmou que “debaixo dos nossos olhos e perante uma certa indiferença da nossa parte, estão acontecendo três revoluções”.
Segundo ele, a primeira delas é a revolução na aprendizagem, que será impulsionada pela tecnologia. “Não se trata de transformar a revolução digital em uma coisa mágica, que vai resolver todos os nossos problemas. É uma mudança histórica de grande significado. Ela está mudando a nossa maneira de sentir, o nosso modo de viver e nossa maneira de aprender”, explicou.
De acordo com Nóvoa, a tecnologia tem potencial para colocar nas mãos dos professores as ferramentas com as quais ele tem sonhado nos últimos anos. “A ironia é que nós pedagogos e educadores humanistas, que sempre fomos céticos em relação a tecnologia, vemos que ela pode finalmente colocar em nossas mãos as ferramentas necessárias parar concretizar o nosso ideário pedagógico”, afirma ele, referindo-se a questões como a individualização do ensino, diferenciação pedagógica e autonomia dos educandos, entre outras.
A segunda revolução está relacionada à sala de aula. A mudança nos ambientes de aprendizagem está transformando a estrutura da escola e acentuando as dinâmicas de interação, de partilha e de construção coletiva de um projeto educativo. Segundo ele, o modelo atualmente utilizado na grande maioria das salas de aula, com professor que transmite para os alunos a informação em uma via de mão única foi criado em 1867 e não atende mais as nossas necessidades. “Nunca pensamos a escola como um espaço integrado, ele está mais para uma soma de salas de aula”, destaca.
Em sua opinião, veremos nos próximos anos uma multiplicação de espaços de compartilhamento do conhecimento, com professores trabalhando em conjunto para produzir um projeto escolar muito diferente atual.
Finalmente, a terceira revolução está relacionada ao que ele chamou de cidade educadora. “Chegou o tempo de pensar a educação para além da escola, de compreender todas as dimensões educativas que existem na cidade, na sociedade”, explica. De acordo com o palestrante, quando o modelo atual de instituição de ensino foi criado, as escolas eram pequenos prédios no meio do nada, com pouca gente nas cidades.
“A escola vivia num deserto cultural e dominado o conhecimento. Hoje, a paisagem dos nossos países mudou muito. Mas a escola continua a trabalhar como se não fizesse parte de um conjunto imenso de possibilidades educativas”, explica. “Precisamos de uma escola mais modesta, que entendam que as cidades têm um potencial educativo imenso”. Segundo ele, a escola como um prédio está com os dias contados. “Teremos uma instituição que vai além da dimensão física”, completa.
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