Atenção à temática educacional

Atenção à temática educacional

É preciso avaliar o quanto a pesquisa acadêmica tem contribuído com as práticas


Vandré Gomes da Silva

Ilustração: Evandro Luiz da Silva

É notório o crescimento da pesquisa em educação no Brasil nas últimas décadas, como atestam a ampliação de associações de pesquisa – em especial a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) –, a diversificação de temas e linhas de pesquisa e o consequente aumento do número de periódicos científicos voltados à divulgação de estudos e de pesquisas relacionadas às temáticas educacionais. Contudo, essa ampliação exige, cada vez mais, a superação de alguns problemas históricos e o enfretamento de desafios tanto em relação à produção, como à consistência na divulgação da produção científica.

Destacam-se, aqui, os frequentes problemas de transposição de aportes teóricos de outras ciências humanas ou afins, sem as necessárias adaptações e precauções. Não se trata de desconsiderar as teorias e concepções de outros campos de conhecimento – aliás, a pesquisa em educação sempre foi tributária de matrizes conceituais próprias da filosofia, sociologia, psicologia – mas de destacar e delimitar objetos e questões de pesquisa que tenham como foco a temática educacional, não a tomando apenas como mero pretexto de pesquisa.

Por outro lado, é comum observarmos que boa parte das reflexões e pesquisas educacionais sucumbe aos atrativos ideológicos presentes no discurso educacional, como bem lembra Bernard Charlot. Descrever, por exemplo, ou mesmo afirmar que uma dada unidade escolar possui (ou não) uma “gestão democrática” não significa necessariamente ter descoberto ou comprovado características reais inerentes a uma dada escola. No termo “gestão democrática” repousam muitos e diversos significados, havendo, ainda, a possibilidade de criar outros mais. Contudo, o que parece ocorrer é o contrário. Essas expressões são tratadas como se fossem simples slogans educacionais esvaziados de significado ou de maiores pretensões descritivas.

Nesses termos, é inadiável avaliarmos o quanto a pesquisa educacional tem contribuído para a produção de conhecimento cientificamente rigoroso e como subsídio relevante às políticas e práticas educacionais. A tarefa é urgente face ao contexto atual no qual, a despeito do crescimento da pesquisa em educação, outros campos de saber específicos, como a economia, têm se dedicado, cada vez mais, às temáticas educacionais, com um evidente destaque e de forma bastante parcial e discutível. Talvez esse espaço esteja sendo ocupado por estar vago ou por substituir algum tipo de discurso e matriz de conhecimento que não seja forte o suficiente para ser reconhecido como fundamental.

*Vandré Gomes da Silva é pedagogo, mestre e doutor em Educação pela Faculdade de Educação da USP. É pesquisador da Fundação Carlos Chagas e professor do programa de mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos.

Especial aniversário - o leitor na revista

Para comemorar seus 17 anos, Educação convidou seus leitores para escrever na revista. Aqui  estão publicadas as opiniões de um professor, uma diretora de escola, um pesquisador e uma aluna de pedagogia (leia abaixo) sobre o que consideram os maiores desafios em suas áreas.


É preciso bagagem e técnica

O maior desafio é avançar nas dificuldades de um aluno, sem que isso desmotive o outro

Flávia Elisa Pereira

Ilustração: Evandro Luiz da Silva

 Alguns motivos me fizeram procurar a faculdade de pedagogia depois de quatro anos sem pisar numa universidade – formei-me em jornalismo em 2010. O diploma em outro curso já me permitira trabalhar como professora auxiliar de uma sala de aula, mas, conversando com muitos profissionais da área da educação, percebi que não adiantaria estar munida apenas de boa vontade; eu precisaria ter a bagagem e a técnica necessárias para atuar com as diferentes faixas etárias de crianças e poder realizar um trabalho com mais qualidade.

Iniciei as aulas na faculdade em fevereiro deste ano e, um mês depois, comecei a trabalhar em duas escolas: uma estadual, como professora auxiliar de uma sala de segundo ano do ensino fundamental, com crianças em processo de alfabetização; e outra particular, num estágio de observação com bebês entre 1 e 2 anos. Apesar do pouco tempo atuando, posso dizer que na pedagogia existe um casamento perfeito entre o teórico e o prático, o que tem me ajudado muito a compreender as dificuldades do trabalho de educar e a buscar recursos para superá-las.

Logo me deparei com o que, até o momento, enxergo como sendo o principal desafio da docência: trabalhar as particularidades de cada indivíduo dentro do grupo e avançar nas dificuldades de um sem que isso desmotive o outro.

Antes de mais nada, e em qualquer fase do aprendizado de uma criança, é preciso compreender que cada uma delas tem um ritmo que precisa ser respeitado.

Uma vez aceita a responsabilidade sobre o avanço de cada criança, com suas particularidades, todo o resto fica menos complicado, porque a necessidade de buscar alternativas para as atividades a serem realizadas dentro da sala de aula torna-se clara e urgente.

Se por um lado a minha falta de experiência e de recursos me atrapalhou nesse início, por outro, a disposição em plantar o melhor de mim em cada processo educativo e o desejo de realizar uma troca com aquelas crianças me ajudaram muito. Primeiro, a enxergar que todos, até os mais indisciplinados, estão cheios de vontade de aprender, só precisam ser compreendidos e receber a atenção e o incentivo necessários. Depois, a lidar com situações novas para mim, como solucionar conflitos entre as crianças dentro do espaço escolar. E, por último, e talvez mais importante: ajudou-me a enxergar que antes de qualquer coisa é preciso entender o que está por trás da vida de cada uma dessas crianças. Sem isso, o trabalho não sai do lugar.

*Flávia Elisa Pereira é jornalista e estuda Pedagogia no Instituto Singularidades. Escreve para o blogforadocastelo.wordpress.com

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/205/atencao-a-tematica-educacionale-preciso-avaliar-o-quanto-a-pesquisa-311312-1.asp




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