Autonomia estimulada para deficientes
Estudantes com deficiência devem ter a autonomia estimulada
Juliana Crem
Tecnologia e formação do educador são essenciais para o desenvolvimento completo do educando
O uso de recursos tecnológicos para a educação dos alunos com deficiência foi tema de uma das palestras realizadas nesta quarta-feira (21) durante o primeiro dia da feira Educar Educador e Bett Brasil 2014. A apresentação destacou a necessidade da formação profissional técnica e humanista por parte dos educadores para poderem promover um desenvolvimento completo do educando.
Silvia Império, professora do Colégio Rio Branco, da capital paulista, foi uma das palestrantes e expôs seu trabalho com alunos surdos no qual foi preciso aprender com eles o melhor método de ensino. “Eu não tinha material ou referência anterior. Tive que descobrir a cultura surda e, com o contato com a criança, percebi que teria de apelar ao protagonismo, algo que a maioria dos professores ainda tem resistência, porque ou eu confiava nos meus alunos, ou não daria conta de ensiná-los.” Ela recorda que é preciso compreender que a primeira língua que os deficientes auditivos aprendem é a Libras, que é uma língua completa, com estrutura gramatical própria. Por isso, não segue os mesmos parâmetros do português, que vai se tornar a segunda língua desse educando.
A tecnologia, então, se torna uma aliada do método de ensino. Embora as crianças contem com intérpretes nas salas de aula, Silvia destaca que o registro da linguagem de sinais se dá por meio de vídeo: “se o aluno não tiver um bom domínio da língua portuguesa, ele vai ter que contar com a memória para poder estudar para uma prova”. Dessa forma, permitir o uso de celulares para fazer fotos e vídeos acaba sendo um recurso de grande valia para que esse aluno possa se recordar do que viu em sala de aula.
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“O protagonismo é tão importante que temos que apresentar a proposta pedagógica e deixar que o aluno encontre os próprios meios de cumpri-la – e aí entra o celular, o tablet, os aplicativos de edição de fotos etc. Isso melhora a autoestima. Eles percebem que são capazes e hoje tenho alunos que se preocupam em como vão passar no vestibular, quais universidades têm acessibilidade. Eles ganham uma expectativa que antes não tinham”, diz a professora do Colégio Rio Branco.
Eliana Cunha Lima, outra das palestrantes, trabalha há 13 anos na Fundação Dorina Nowill para cegos e lembra que muitos professores se sentem incapazes de lecionar para alunos cegos porque “a deficiência visual é permeada de mitos. Na verdade, uma pessoa que enxerga, um vidente, aprende o sistema Braille em 20 horas e a criança com deficiência visual precisa de menos aporte para aprender do que aquela com deficiência auditiva, por exemplo, porque não precisa aprender outra língua”.
Capacitação docente
O preparo do professor, todavia, deve ser feito tanto no âmbito técnico, para que ele aprenda o sistema Braille e a como utilizar os variados softwares que existem no mercado para este público, quanto humano, visto que ele precisa de paciência, amor e confiança para transmitir o conhecimento a essa criança.
Eliana cita dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2010, que dizem que há 6,5 milhões de brasileiros com deficiência visual, sendo 500 mil cegos e 6 milhões com baixa visão. Para atender esse público especial, os recursos da tecnologia são mais do que bem-vindos. Ela lembra que há desde lupas que auxiliam quem tem baixa visão a enxergar até recursos do Windows para aumentar as letras e tornar a leitura mais fácil. Para aqueles que são cegos, há sistemas como o Jaws, Virtual Vision e Dosvox que usam a voz para acessar dados. “Também contamos com livros falados para que o deficiente visual tenha acesso à educação e à cultura e enviamos gratuitamente às famílias que se cadastram no site da Fundação. Todavia é preciso preparo humano do professor para que ele use esse recurso. Se a escola receber um tablet, por exemplo, e ele ficar no armário, não vai estar ajudando esse aluno. O educando com deficiência visual precisa ter acesso ao computador e ao tablet para que seu potencial de desenvolvimento aconteça. Não pode ser uma única hora na semana”, defende.
Além disso, detalhes sutis que passam despercebidos no dia a dia dos profissionais fazem a diferença para quem tem baixa visão, como, por exemplo, a iluminação da sala, o uso de quadros brancos, entre outros.
Na rede municipal
A assessora pedagógica da Secretaria Municipal da Educação de São Paulo, Deise Tomazin, diz que as escolas da rede municipal contam com recursos para ensinar as crianças com deficiência e que, para algumas, o meio tecnológico é o seu contato com a realidade. “Temos 446 escolas municipais de ensino fundamental (Emefs) com laboratórios de informática e softwares de acessibilidade instalados. O professor já consegue transcrever seu texto ou outro de seu interesse para que o aluno com deficiência visual possa acessá-lo”, diz. A professora da rede municipal paulistana Andrea Aydar Generoso questionou a acessibilidade do educador a esses recursos, visto que em algumas localidades, nem mesmo a internet funciona corretamente, e pediu mais formação aos profissionais, visto que amor não lhes falta.
Em resposta, Deise justificou que muitos diretores não investem no desenvolvimento dos seus educadores e não utilizam os recursos tecnológicos que lhes são enviados e disse preocupar-se com a formação adequada dos professores. “Convido os profissionais a me procurarem nas redes sociais e, por lá, dizer o que lhe aflige. Temos encontrado soluções por esse meio também”.
Silvia concluiu que a inclusão do aluno com deficiência seja mais completa, visto que um aluno com deficiência auditiva poderia fazer suas provas na sua primeira língua – Libras – para dizer o que realmente sabe e ir bem nas avaliações. “Ela sabe o conteúdo, mas não domina o português. Para isso, basta filmar sua resposta e o intérprete passa-la ao educador.” Com boa vontade e criatividade, os recursos tecnológicos tornam-se ferramentas perfeitas para uma inclusão completa e uma educação de qualidade.
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