Inteligência Emocional
Lisandra Pioner: Inteligência Emocional
Frustrem seus filhos. É preferível um "não" amoroso a vários "sim" omissos
17/05/2014 | 07h01
Sempre que tenho oportunidade de dar um conselho aos pais (mesmo sabendo que conselho nem sempre é bem visto ou recebido), me aventuro a dizer “frustrem seus filhos”. Na maioria das vezes, recebo um olhar de desaprovação e, em alguns momentos, até deixo de receber olhares por um tempo (o tempo de “digerirem” meu conselho), mas continuo aconselhando-os exatamente da mesma maneira. O motivo? Acredito (e pratico) o que digo.
Profissionais que modificam sua maneira de agir conforme o público que atendem me parecem inseguros quanto ao que eles mesmos pensam. Nem sempre tenho certeza absoluta do que digo, em diversos instantes me vejo hesitante entre falar e calar, porém minhas bases são sempre calcadas em estudos, pesquisas e um desejo imenso de ver a humanidade mais feliz. E o que os pais mais desejam a seus filhos? Felicidade! Tenho certeza de que há disparidade entre a visão de felicidade de uma ou outra família, mas, independentemente de acreditarem que ser feliz é ser bem-sucedido, ter dinheiro, ser admirado, construir uma família ou apenas ter boa saúde, todos almejam ver o sorriso no rosto dos pequenos, até mesmo quando deixam de ser pequenos.
É sabido pela ciência, através de importantes estudos, que quociente de inteligência (QI) não se sobrepõe à inteligência emocional (QE) no hall de habilidades indispensáveis ao sucesso. Equilíbrio emocional é uma competência que precisa ser trabalhada desde a mais tenra infância, na tentativa de criar seres mais preparados para os embates da vida – principalmente a moderna, que insiste em nos colocar frente a frente com o desconhecido e com nossos limites, quase diariamente.
Assim como estimulamos e exercitamos exaustivamente as habilidades relacionadas ao raciocínio das crianças, precisamos, com urgência, incitar sua capacidade de lidarem com suas próprias emoções. Enquanto as crianças acreditarem (e os pais ratificarem) que o problema é ou está no outro, estaremos dando continuidade a uma sociedade incapaz de lidar com situações extremas.
As crianças devem aprender aos poucos, e por meio de muito afeto e clareza, que a interação com o outro (esse outro sendo semelhante ou o oposto delas) é que permitirá o exercício eficiente e benéfico de habilidades como resiliência, tolerância, autoestima e vínculos reais - que só lhe trarão benefícios a longo prazo.
Não faço apologia ao desamor (porque frustrar não é sinônimo de falta de afeto), tento mostrar que amar vai além de proteger. Amar está muito mais atrelado a dar ferramentas para que a criança, sozinha, consiga lidar com os acontecimentos de seu cotidiano, de forma autônoma e confiante. É preferível um “não” amoroso a vários “sim” omissos.
Demonstrem amor, abracem, verbalizem esse carinho. Mas não satisfaçam todas as vontades, nem superprotejam. O futuro da humanidade agradece!
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/noticia/2014/05/lisandra-pioner-inteligencia-emocional-4502250.html