Antepenúltimo em Educação
É ultrajante a posição brasileira num ranking mundial que confirma a precariedade do nosso ensino
OBrasil continua distante dos países que, sem o nosso potencial econômico, transformaram a educação em ganhos sociais e prosperidade. Relatório produzido por duas conceituadas empresas britânicas a Pearson, ligada ao Financial Times, e a consultoria Economist Inteligence Unit confirma uma realidade que estigmatiza, compromete o futuro de gerações e degrada a imagem brasileira no mundo. No estudo, que define um ranking internacional, o Brasil está na 38ª posição numa lista de 40 nações analisadas pela proficiência em matemática, ciências e leitura, somada a taxas de alfabetização e índices de aprovação escolar. O irônico é que nesta segunda edição do levantamento o Brasil passou da penúltima para a antepenúltima posição, mas apenas porque o México apresentou queda maior e ficou junto com a Indonésia, a última colocada.
Para um país que vem se apresentando como potência emergente, é uma posição mais do que constrangedora, é ultrajante. Como enfatizam os responsáveis pelo relatório, nenhum país será evoluído se não conseguir traduzir seus avanços em indicadores educacionais. Foi o que afirmou Michael Barber, chefe de Educação da Pearson, ao ressaltar que os governos de todo o mundo são permanentemente pressionados a melhorar a aprendizagem, porque isso significa o sucesso das pessoas, das comunidades e de um país. Parece tão óbvio, mas não o suficiente para mobilizar políticas públicas e recursos que transformem a educação no Brasil, como ocorreu especialmente nos países asiáticos. São os povos da Ásia os que mais evoluíram nos últimos anos em educação, liderando o ranking. Não é à toa que, a partir da vigorosa opção pela qualificação do ensino, as nações do continente melhoraram produtividade e ganhos de renda e qualidade de vida.
Os líderes fazem com que performance econômica e educação sejam convergentes, para que o crescimento seja duradouro. No Brasil do antepenúltimo lugar, o aprendizado formal do ensino básico vem sendo desprezado por sucessivos governos – União, Estados e municípios. Contribuem para esse cenário as redes pública e privada, e não se pode ignorar a omissão da própria sociedade. É particularmente preocupante o fato de que, além da deficiência em leitura, os brasileiros se submetam a um ensino precário de ciência e matemática por falta de professores e pela falta de habilitação de profissionais dessa área.
A tradução dessa constatação é a de que os docentes são mal preparados e mal pagos e têm reduzidas chances de aperfeiçoamento, por sobrecarga de trabalho e por desalento. O retrato do Brasil no ranking é, lamentavelmente, o de um país em que todos são enganados por um sistema que democratizou o acesso ao ensino, com a inclusão escolar assegurada pela Constituição, mas descuidou da qualidade do aprendizado. Nações mais modestas economicamente provaram que este é um desafio que pode, sim, ser vencido num curto espaço de tempo.
Editoria ZH 09-05-14