Por dentro do Pisa

Por dentro do Pisa


A partir de agora, o Brasil passa a fazer parte do Conselho Diretor do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), conforme foi anunciado, em outubro, pelo ministro da Educação Aloísio Mercadante. O Brasil é o primeiro País não membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que promove o programa, a integrar o conselho. O nome do representante brasileiro, Luiz Cláudio Costa, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), já consta no site do Pisa, que é uma iniciativa internacional de avaliação que compara o desempenho escolar de alunos de diversos países, com os objetivos de produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação e subsidiar políticas de melhoria do ensino básico. A avaliação,  aplicada a cada três anos a alunos de 15 anos, abrange três áreas do conhecimento: leitura, matemática e ciências.

Nos últimos resultados divulgados em dezembro de 2013, referentes a 2012, dentre 65 países, o Brasil ficou em 58º lugar no ranking. Apesar de estar entre os últimos colocados, o País conseguiu os maiores ganhos no desempenho em matemática desde 2003: de 356 pontos, passou para 391. No entanto, o Brasil ainda está atrás de outros países da América Latina, como Chile, Uruguai e México. Em termos gerais, na avaliação anterior, relativa a 2009, o Brasil ficou na 54ª posição.

Mas o que significa fazer parte do Conselho Diretor do Pisa nesse contexto? Significa que o Brasil poderá propor mudanças na forma de avaliação, uma vez que acompanhará mais de perto todo o processo. Para Alejandra Meraz Velasco, gerente técnica do movimento Todos pela Educação, a escolha para o conselho representa reconhecimento da importância do País, ainda mais pelo fato de o Brasil não ser um membro da OCDE, o que indica um sinal de notoriedade no ambiente internacional. Esse seria um primeiro ponto. Alejandra ainda afirma que a intenção do Brasil, de acordo com declarações do ministro Aloísio Mercadante, é acompanhar mais de perto a metodologia de apuração do Pisa, o cálculo e a aplicação das provas. “É importante para aproveitar melhor esses resultados, para que a gente consiga usá-los para transformar a prática na sala de aula. Esse é um grande objetivo do Pisa e de outros métodos de avaliação, ou seja, não apenas observar e analisar os dados, mas utilizá-los na mudança das práticas”, ressalta Alejandra. Ela ainda lembra que na educação não há uma medida ou algo pronto para resolver os problemas; caso houvesse, tudo seria mais fácil. Para ela, a existência de um currículo que deixasse bem claro para todas as escolas o que se espera que cada criança aprenda a cada ano já ajudaria muito. “Nós temos os Parâmetros Curriculares Nacionais, mas eles são muito amplos”, completa a especialista.

O grande mérito brasileiro apontado pelo Pisa foi a inclusão de muitas crianças que estavam fora da escola. Entretanto, de acordo com Alejandra, a taxa líquida de matrículas no ensino médio é de cerca de 50%, o que significa um número alto de evasão. Já para o professor Célio Cunha, da Universidade de Brasília (UnB), é importante que o Brasil participe do Conselho Diretor do Pisa, assim como de qualquer outro colegiado de organizações internacionais. Para ele, essa participação viabiliza a colocação de problemas que muitas vezes são deixados à margem e que são relevantes não apenas para o Brasil, mas também para os países em desenvolvimento. O professor é otimista: “historicamente – e ainda continua assim –, somente têm assento nos lugares mais importantes os países hegemônicos. Mas o mundo está mudando. Por isso, acredito que não vai demorar muito para o grupo dos G7 [as sete nações desenvolvidas mais influentes] mudar para o G20 [grupo das maiores economias do mundo]”. Cunha também acredita que a presença do Brasil no Conselho Diretor do Pisa pode mudar o rumo da avaliação feita pelo programa. “O Pisa vem sendo objeto de inúmeras críticas feitas por especialistas de vários países. Algumas dessas críticas chegam a afirmar que se trata de uma avaliação ‘tamanho único’, que deixa de considerar a enorme diversidade dos países, de suas histórias e de sua cultura”, completa o especialista da UnB. 

O último resultado do Pisa, mesmo com a classificação baixa do Brasil, não deixa de revelar avanços na educação brasileira. Os especialistas alertam, porém, que ainda não há o que comemorar, pois existe um enorme percurso até o País atingir a posição dos países com melhor resultado na avaliação. O professor da UnB observa que os resultados do Brasil estão sendo alcançados simultaneamente ao fenômeno de grande inclusão. “Leitura, matemática e ciências são áreas críticas, fato que as avaliações nacionais vêm mostrando bem antes da existência do Pisa. Para melhorá-las, torna-se necessário uma escola em condições de ensinar e fazer com que os alunos aprendam”. E, para isso, Cunha enfatiza que são necessários bons professores e boa gestão. Segundo ele, para ter bons professores, é preciso valorizar a carreira docente, recrutar para o magistério pessoas mais exigentes, intensificar  a capacitação – de acordo com os programas escolares – de grande parte do contingente de docentes em exercício, que se ressente de conhecimentos e práticas pedagógicas mais modernas.

Países membros da OCDE:

Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Coreia, Luxemburgo, México, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suíça, Suécia, Turquia, Reino Unido, Estados Unidos.

Como estamos em cada área avaliada pelo programa:

Matemática

* São 6 níveis de proficiência em matemática. O Brasil atingiu, em média, apenas o nível 1.

* Pouco mais de 60% dos estudantes brasileiros que participaram do exame estão no nível 1 ou abaixo.

* Pouco mais de 20% atingiram o nível 2.

* A porcentagem que atingiu os níveis de 3 a 6 não chega a 20%.

Leitura

* O Brasil subiu de 396 pontos, em 2000, para 410 pontos, em 2012, mas continua abaixo da média da OCDE.

* 49,2% dos estudantes brasileiros conseguem, no máximo, entender a ideia geral de um texto que trata de um tema familiar ou fazer uma conexão simples entre as informações lidas e o conhecimento cotidiano.

* Apenas 1 em cada 200 alunos atinge o nível máximo de leitura.

Ciências

* O desempenho brasileiro também ficou abaixo da média, aproximando-se da pontuação obtida por Argentina, Colômbia, Jordânia e Tunísia. O País ficou atrás de outros países da América Latina, como Chile, Costa Rica, Uruguai e México.

* A performance brasileira saiu dos 390 pontos, em 2006, e chegou aos 405 pontos, em 2012.

Fonte: Agência Brasil

http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/internacional/648-por-dentro-do-pisa




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