Os jovens podiam estar trabalhando

Os jovens podiam estar trabalhando

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O governo tem comemorado as menores taxas de desemprego da história deste País. Com razão, mas nem tanto. Por baixo dos números festejados, se esconde uma realidade que num futuro muito breve vai mandar sua fatura: os bons índices deixaram de ser reflexo apenas do aumento de postos de trabalho, mas também pela baixa procura do brasileiro por vagas. E isso é mau, muito mau.

Essas conclusões são possíveis a partir de dados divulgados pelo IBGE, relativos ao último mês de março. Mais de um terço da população inativa nesse período era formada por jovens de 10 a 24 anos e pessoas de 50 anos ou mais.

É olhando para a juventude que um aspecto inédito ganha relevância: por uma série de fatores, nossa sociedade deixou de estimular o trabalho entre os jovens, principalmente os menores de 18 anos. Mais grave: considerável, para não dizer majoritária, parcela da classe média passou a ver filhos trabalhando como motivo de vergonha. Isso nunca foi assim. Estamos criando uma geração de desocupados.

Entre as classes mais abastadas, a adolescência pode se estender ociosamente até os 28, 30 anos. Eu teria vergonha de um filho encostado nessa idade. Mas os pais se esfolam, se sacrificam para impedir ao máximo a chegada de seus rebentos ao mercado de trabalho. Isso é muito estúpido e cafona. E vai custar caro.

Num passado nada distante era o contrário. Em algum momento, nossa escala de valores subverteu uma lógica que nasceu junto com a humanidade: é o trabalho que dignifica o homem. E filhos ajudando no sustento de casa sempre foi algo bem mais que natural. Não por acaso, tem sido comum filhos com qualidade de vida econômica inferior a dos pais, encerrando um cíclico histórico de mobilidade social para cima.

Obviamente que não estou falando de trabalho infantil, muito menos aquele que nos remete ao cenário de Os Miseráveis, de Victor Hugo. Crianças não devem trabalhar, mas apenas brincar e estudar. E o Estado tem que dar condições para que todas as famílias possam educar seus pequenos em paz, com saúde e educação de qualidade.

O mesmo raciocínio não deve se aplicar ao trabalho juvenil. Principalmente entre os mais pobres. E tudo tem conspirado para que seja cada vez mais difícil inserir rapazes e garotas na economia ativa. As leis tratam como criminosos os empregadores que aceitam mão-de-obra adolescente. E o tráfico de drogas, evidentemente, agradece pelo exército de desocupados à sua disposição.

Com um ensino médio sucateado - e só podendo se ocupar em turnos reduzidos, diante das poucas oportunidades que conseguem se adequar a uma legislação que deveria vigorar em países escandinavos - o que resta ao jovem? Nada, a não ser perambular pelas ruas e voltar para casa como um parasita.

Quem mais perde com isso, insisto, é o pobre. Essa lógica paternalista e hiperprotetora já faz mal aos mais afortunados, que se tornam adultos infantis e inseguros. Já os que não têm suporte financeiro familiar, esses sim, além de não poderem sequer desfrutar do ócio, têm muitos motivos para olhar ao redor e sentir revolta e frustração. Podem roubar, matar ou se drogar. Podiam estar trabalhando.

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