Inclusão passo a passo

Inclusão passo a passo

Para dar início ao processo de implantação da educação inclusiva é preciso fazer um levantamento da situação e engajar a comunidade escolar; outras ações importantes são oferecer formação para os professores sobre o tema, contratar profissionais e reformar as unidades de ensino. Mas vale lembrar o "passo zero": ter a convicção de que todas as crianças merecem aprender juntas

1 Conheça o ambiente

Antes de iniciar o trabalho, promova o levantamento dos recursos disponíveis na rede/escola e as barreiras para inclusão: avalie quais os serviços educacionais já oferecidos, número de alunos com deficiência (potenciais e atendidos), adultos com deficiência não escolarizados, instituições de apoio no município, profissionais existentes e necessários, demandas de formação, aceitação da educação inclusiva e tratamento dado às pessoas com deficiência na comunidade. Quanto maior for o conhecimento sobre os aspectos educacionais e culturais do município, mais fácil vai ser para engajar as pessoas na inclusão. Nessa fase também pode ser feita a caracterização das necessidades de obras e equipamentos nas escolas, com o apoio de profissionais de engenharia e arquitetura.

2 Conquiste adeptos
A inclusão das pessoas com deficiência depende de mudanças de percepção na comunidade. Para obter sucesso na transição, é preciso cooptar lideranças, tanto dentro das escolas quanto fora delas: profissionais que vistam a camiseta da inclusão e se tornem disseminadoras dessa ideia. Se não houver engajamento dos gestores, o plano não decola. Ter o apoio dos pais e das entidades de apoio a pessoas com deficiência também pode fazer a diferença.

3 Estabeleça prioridades
Não é possível fazer tudo de uma hora para outra, seja pela necessidade de verbas, seja pela gradual mudança de conceitos na comunidade escolar. O ideal é que se tracem planos de curto, médio e longo prazo, com metas claras - isso facilita a compreensão do processo pelos envolvidos e o acompanhamento das ações.  "Constrói-se o caminho possível, mas situações transitórias não podem permanecer, não se deve limitar simplesmente ''ao que dá e como dá''. Tendo claro aonde se quer chegar, é preciso buscar mais avanços a cada ano", destaca a educadora Ana Maria Barbosa, da USP. Carla Mauch, cordenadora-geral da Mais Diferenças, lembra que não são necessários anos de preparação. "O importante é organizar a gestão da secretaria, da escola. A inclusão tem de ser uma pauta transversal, que esteja presente em todas as discussões."

4 Promova a formação e contratações
Na experiência das redes que realizam o trabalho há mais tempo, fica claro que a maior necessidade de formação se dá no início do trabalho, quando o conteúdo técnico ainda depende de engajamento. Na etapa inicial, vale investir em palestras, cursos e debates frequentes, que incluam funcionários e famílias, para tirar dúvidas e explicar o novo momento. Pode ser necessário também promover a capacitação da equipe de obras da prefeitura para as questões de acessibilidade. Com o tempo, a formação assume caráter mais especializado, e também como atualização, destinada aos professores, principalmente de AEE. Para algumas atividades, pode ser necessário contratar novos profissionais, como cuidadores e intérpretes. A formação inicial de professores para a educação inclusiva ainda pode ser um desafio, pois nem todas as universidades têm seus cursos preparados para essa condição. Na formação continuada, há opções de cursos intensivos para professores de AEE e classes regulares. O MEC oferece formação on-line e presencial por meio do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) e da Universidade Aberta do Brasil (UAB), bem como da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores na Educação Básica (Renafor). Muitas prefeituras desenvolvem seus próprios programas de formação, conjugando conteúdos teóricos com estudo de casos da rede.

5 Garanta a acessibilidade
A partir da caracterização inicial dos recursos e barreiras da rede/escola, é possível fazer as adequações necessárias para receber a todos os alunos de forma igualitária. As obras mais óbvias dizem respeito a rampas e banheiros acessíveis, mas diversos outros recursos, como piso tátil, quadro-negro até o chão e alargamento das portas, podem ser necessários. "Para a sala de recursos multifuncionais, o MEC oferece os equipamentos e mobiliários, e a contrapartida do município é ceder o local e os profissionais necessários. Há recursos ainda por meio do Programa Dinheiro Direto na Escola - Escola Acessível, para reformas de acessibilidade física e compra de materiais e equipamentos", esclarece Rosângela Machado, gerente de educação inclusiva de Florianópolis.
É preciso também, de acordo com os alunos matriculados, investir na produção de materiais especiais, como engrossadores de lápis e livros em braile. No decorrer das atividades, as equipes de AEE devem estar aptas para produzir as peças de uso cotidiano e de comunicação alternativa conforme as necessidades educacionais.

6 Coloque no papel
Não há um momento específico em que isso deva ser feito, mas a consolidação da educação inclusiva no Projeto Político-Pedagógico (PPP), no regimento e nos currículos é uma prerrogativa para a afirmação da política. "O PPP é a instância instrumental das escolas para decisões, sua espinha dorsal, e a educação inclusiva precisa estar lá", ressalta a professora Anna Augusta Sampaio de Oliveira, da Unesp. "No currículo, é preciso repensar conteúdos e objetivos."

7 Articule iniciativas
Por muito tempo a educação especial deu conta de tarefas que fogem à prática do ensino, cuidando também de aspectos de saúde e assistência social. Para que as pessoas com deficiência não fiquem apartadas da sociedade, é preciso que todas as áreas governamentais estejam envolvidas com seu bem-estar. Buscar apoio e articular ações com as demais secretarias e com o governo federal distribui responsabilidades e dá mais força à mudança. Essas conexões também podem ser úteis para buscar as pessoas com deficiência que estão fora da escola.

Materiais acessíveis

A tecnologia assistiva engloba estratégias, materiais e serviços para dar às pessoas com deficiência as habilidades necessárias para executar diferentes tarefas. Conheça alguns materiais mais comuns - parte deles pode ser feita na própria escola

- Engrossador de lápis: pode ser feito com materiais de baixo custo como o EVA e permite que pessoas com dificuldades motoras manejem um lápis.

- Pranchas de comunicação: são utilizadas para a comunicação com pessoas que apresentam dificuldade para falar ou escrever. Podem conter desenhos, letras, números ou símbolos e têm diversas utilizações, como tratar de sentimentos e fazer atividades pedagógicas. Podem ser impressas em papel comum e coladas em papelão, plástico ou madeira e utilizadas de forma móvel ou fixa nas mesas e também nas paredes da sala.

- Pastas e fichários: na mesma lógica das pranchas, agrupam imagens que servem como estímulo para a comunicação. Aqui, além de desenhos e símbolos, é possível reunir fotografias. É importante estar atento para a manuseabilidade dos materiais, que precisam oferecer fácil acesso aos alunos.

- Jogos pedagógicos: brincando com cores, relevos e quantidades, diversos jogos podem ser elaborados de acordo com as necessidades da turma, favorecendo atividades em grupo. Quanto mais coloridas e táteis forem as peças, mais facilitarão o acesso de pessoas com defi­ciência visual, intelectual ou motora. Entre os produtos que podem ser elaborados estão dominó, jogos de memória e quebra-cabeças simples.

- Mouse e teclado adaptados: as crianças que apresentam limitações na mobilidade podem ter maior dificuldade para operar computadores. Equipamentos com adaptação são vendidos por empresas especializadas, mas pequenos arranjos podem ser feitos na escola.

- Atividades físicas: piso tátil, bolas com guizos, chocalhos e outros recursos táteis, visuais e sonoros permitem realizar as aulas de educação física de forma inclusiva e divertida. Os materiais a serem utilizados vão depender das necessidades dos alunos.

http://revistaescolapublica.uol.com.br/textos/37/inclusao-passo-a-passo-308491-1.asp




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