Impacto dos profissionais com Down
Estudo revela impacto dos profissionais com síndrome de Down nas empresas
Ator do filme "Cromossomo 21", trabalha no Hospital Mãe de Deus
Fernando Barbosa, de 25 anos, trabalha em um hospital na Capital Crédito: Samuel Maciel |
Para tentar combater a desinformação, que é uma das causas da falta de inserção das pessoas com deficiência física e intelectual no mercado de trabalho, o Instituto Alana encomendou um estudo que revela o impacto dos profissionais com síndrome de Down na saúde organizacional. Confirmando que a oportunidade de emprego é um ato de inclusão, benéfico para ambas as partes, o levantamento revela que a presença dos deficientes impacta positivamente em, pelo menos, cinco fatores essenciais para as empresas, entre eles, liderança, respeito às individualidades, tolerância, maleabilidade para lidar com imprevistos, motivação, controle, o que ocasiona um impacto positivo na satisfação do cliente.
De acordo com Claudia Moreira, que coordena o projeto "Outro Olhar" do Instituto Alana, a organização não governamental (ONG) solicitou à consultoria McKinsey&Company um estudo qualitativo com mais de 20 líderes de RH de empresas nacionais e estrangeiras, além de diretores de instituições de apoio a pessoas com deficiência (PcD) intelectual no Brasil, nos EUA, no Canadá e na Europa. Dados da pesquisa indicam que encontrar PcD e que sejam profissionalmente qualificadas não é tarefa fácil, mas traz benefícios.
Segundo Claudia, o primeiro desafio é lidar com pessoas com síndrome de Down que não tiveram a oportunidade de desenvolvimento através do convívio social. No entanto, elas costumam apresentar um grande potencial, muitas vezes inexplorado por falta de estímulos corretos para poderem adquirir e aprimorar habilidades. "As empresas precisam ter clareza dos desafios a serem superados para a inclusão de PcD. Preparar os colaboradores para recebê-las e criar oportunidade de crescimento para elas são algumas ações. Elas podem apresentar produtividade mais baixa que a média. Porém, a qualidade das tarefas executadas parece superar a possível menor produtividade", constata.
A motivação vem dos sonhos
Na vida de Fernando Barbosa, de 25 anos, não há espaço para limitações. O morador de Porto Alegre, além de trabalhar há um ano e meio no Hospital Mãe de Deus como auxiliar administrativo, também é ator do filme "Cromossomo 21", que deve ser lançado em setembro deste ano e retrata algumas particularidades de quem é portador da síndrome de Down.
"Tenho esta deficiência, mas sou uma pessoa normal, faço tudo o que os outros fazem. Eu penso, falo e faço tudo o que qualquer outra pessoa faz", fala o jovem Fernando, com um sorriso no rosto, mas com a firmeza de quem luta pela inclusão de quem tem esta alteração genética. "Ainda vejo poucas pessoas como eu nas empresas, estamos avançando, mas ainda há muito o que caminhar. Todos temos qualidades e precisamos ser valorizados", avalia.
Na instituição de saúde, o jovem Fernando atua na área de diagnósticos e faz encaminhamentos de pacientes para exames. Ele relata que se sente valorizado na função que exerce e feliz por poder auxiliar as pessoas. "Atendo e direciono quem faz tomografia, raio X e ressonância, por exemplo. Recebo auxílio dos meus colegas e ajudo quem chega à instituição. Aqui é um ambiente muito agradável", comenta Fernando, ao destacar que a carreira de ator é outra atividade que faz seu o coração bater mais forte. "Gosto de atuar e este filme é muito importante para que possam entender a deficiência", observa.
A motivação de Barbosa vem dos sonhos que ele acalenta. Após ter concluído o Ensino Médio, planeja contribuir ainda mais com a mudança do Brasil. Para isso, já projetou o diploma do ensino superior que pretende também conquistar. "Quero ser um cientista político e futuramente presidente do país', diz orgulhoso.
Colaboradores dão lições de solidariedade e trabalho em equipe
Embora exista a Lei das Cotas, que estabelece a obrigatoriedade da contratação de pessoas com deficiência por empresas com cem funcionários ou mais, a adesão varia entre 2% e 5%, de acordo com o quadro de empregados, ainda persistem a falta de conhecimento e a dificuldade de adaptação desses profissionais ao ambiente de trabalho. Conforme a auditora fiscal do Trabalho, que coordena o Projeto Estadual de Inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD) da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no RS, Ana Maria Machado da Costa, "dados do Censo de 2010 demonstram que ¼ da população brasileira tem deficiência intelectual".
Já a presidente da Federação Brasileira das Associações Síndrome de Down, Gecy Klauck, destaca a pesquisa da Ong Alana e confirma que a contratação de PcD agrega valores. "Nossa caminhada, ao longo dos anos, se resume em estimular nossos filhos, para que eles de fato sejam reconhecidos como cidadãos, protagonistas da própria vida. Tão importante quanto inseri-las no mercado de trabalho é dar suporte para que permaneçam neste ambiente", aponta. E é também neste âmbito que a Faders atua para promover a formação continuada de trabalhadores em parceria com universidades, institutos e organizações, destaca a psicóloga e educadora especial, Silvana Rosseto. "Com a presença delas, olha-se a vida sobre outra perspectiva. Todos ganham", avalia.
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Fonte: Wagner Machado / Correio do Povo