Faculdades de Educação correm

Faculdades de Educação correm

Faculdades de Educação correm atrás do próprio rabo

"Quase não se fala de um aluno conectado, que vê na tecnologia um novo atrativo na escola; tampouco fala-se de um professor capaz de transformar aulas com o auxílio da tecnologia", afirma Alexandre Le Voci Sayad

Fonte: Estadão.com 16 de abril de 2014

Há um certo exagero, devo admitir, nas reportagens que colocam na internet a panacéia da Escola e Educação brasileiras. Na verdade uma visão superficial e míope costuma prevalecer nesse tipo de comentário: o foco está estagnado nos meios e não no fim.

Explico: quase não se fala de um Aluno conectado, que vê na tecnologia um novo atrativo na Escola; tampouco fala-se de um Professor capaz de transformar aulas e misturar papéis no aprendizado com o auxílio da tecnologia. Diz-se, sim, de uma espécie de “modus” milagroso de funcionamento com o qual a tecnologia funciona, capaz de melhorar a qualidade de Ensino – algo quase místico.

Por outro lado, tem me assustado artigos e opiniões retroativos de acadêmicos da área, publicados nos mais variados veículos. Sem perceber, eles acusam um duro golpe sofrido pelas faculdades de Educação e cursos de pedagogia: eles se posicionaram nas últimas décadas de forma tão antiquada, abraçando disputas ideológicas, e agora parecem totalmente perdidas, sem papel na Educação deste século.

Tudo é “passado” na maioria dos cursos superiores ligados à Educação do Brasil. Se fala de pensadores que já se foram, de métodos do século passado e muito de política. Nessa linha quase arqueológica, descobertas da neurociência, tecnologia e experimentação são palavrões. Formam-se bons pesquisadores e péssimos Educadores - adentre a alguma Escola de aplicação para verificar isso na prática. Cheguei a ler aqui mesmo no Estadão algo como “Carlos Drummond de Andrade viveu sem internet”. Completo: minha avó não conheceu o voto, meu bisavô viveu sem a penicilina. Mas também andavam de bonde, numa São Paulo bem menor e com poucos empregos qualificados, escutavam rádio numa época que o Analfabetismo no mundo era assombroso. Era essa uma época melhor? Uma Educação melhor?

Internet, tecnologia e Educação dizem respeito a algumas questões: direito ao acesso a informação, atração do jovem para uma Escola mais conectada a seus anseios e aproximação de Educadores e educandos. Mas a academia parece não querer saber de direitos, opinião de estudantes e resultados reais de aprendizado. A disputa entre “opressores” e “oprimidos” vale mais e parece não passar por essas questões.

Números raramente mentem: as últimas pesquisas da FGV-Rio apontam para o desinteresse do Aluno como principal fonte da evasão da Escola. Uma pesquisa feita pelo Centro Ruth Cardoso apontou que 97% dos Alunos participantes de um dos programas da ONG tinham conta e acesso às redes sociais pelo celular. Posso escrever dez artigos recheados de pesquisas sobre a relação direta entre uso de tecnologia e melhora de indicadores no Ensino no Brasil e no mundo.

As faculdades de Educação têm de parar de correr atrás do próprio rabo, ou vão se perder ainda mais espaço nos debates e práticas educativas transformadoras. Começo a temer, lá no fundo, que alguns Educadores de cátedra acreditem que a Escola não seja criada para ensinar e que resultados não são tão importantes quanto debates ideológicos. Isso sim é alarmante e irresponsável.

* ALEXANDRE LE VOCI SAYAD É JORNALISTA E Educador. É FUNDADOR DO MEL (MEDIA EDUCATION LAB) E AUTOR DO LIVRO IDADE MÍDIA: A COMUNICAÇÃO REINVENTADA NA Escola, PUBLICADO PELA EDITORA ALEPH.

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