Pais dão mais valor à Educação

Pais dão mais valor à Educação

Pais brasileiros são os que dão mais valor à Educação

Estudo do banco HSBC mostra que 79% dos entrevistados no País acreditam que pagar pela Educação é o melhor investimento

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP) 16 de abril de 2014

Os pais brasileiros são os que mais apostam no gasto em ensino para garantir o sucesso dos filhos. Um estudo global elaborado pelo banco HSBC mostra que 79% dos entrevistados no Brasil acreditam que pagar pela educação é o melhor investimento que podem fazer para a próxima geração.

Depois do Brasil, a importância é maior na China (77%), Turquia e Indonésia (cada um com 75%), sendo a média mundial de 58%. A pesquisa foi realizada com 4.592 pessoas de 15 países entre dezembro de 2013 e janeiro deste ano (ver mais ao lado).

No recorte com dados apenas dos brasileiros, os entrevistados apontaram a educação como destino ideal de recursos alocados para o suporte financeiro dos filhos. No Brasil, 44% aportariam preferencialmente o dinheiro para os estudos - resultado também acima da média mundial (42%). A segunda opção é o fundo de investimento (15%), seguida pela ajuda para iniciar um negócio (10%).

A relevância do Brasil na pesquisa pode ser explicada por dois grandes motivos. Primeiro, educação de qualidade no País se tornou sinônimo de ensino privado - segundo o levantamento, 66% dos entrevistados brasileiros acreditam que a escola particular é melhor do que a pública. Em segundo lugar, é inegável que há uma mudança comportamental, com aumento da importância dada para a educação.

Os dados do estudo do HSBC mostram que 97% dos pais desejam que os filhos frequentem a universidade, 84% que frequentem uma pós-graduação e 77% esperam que os filhos tenham um nível de educação melhor do que a deles.

"Cada vez mais o brasileiro quer se destacar no mercado. Talvez o brasileiro nunca tenha se preocupado com educação como antes", afirma Augusto Miranda, diretor de gestão de patrimônio do HSBC.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) - compilado pelo Centro de Políticas Públicas do Insper - revelam parte dessa mudança cultural. De 1992 a 2012, o porcentual de brasileiros com mais de 22 anos com 0 a 4 anos de estudo caiu pela metade: de 60% para 33,1% da população. Na outra ponta, a parcela dos que têm 12 anos ou mais de estudo subiu de 7,6% para 15,9%.

"Foram vários os fatores que levaram a esse aumentou do tempo de escolaridade. Tudo começou com a Constituição de 1988. Ela descentralizou o cuidado com a educação para os municípios com a transferências de recursos", afirma Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.

O aumento da escolaridade média também foi impulsionado pela criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef)- depois transformado no Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) - e pelos programas de transferência de renda e de facilidade ao crédito.

Gastos com Educação são prioridade no orçamento familiar

Um ano depois de concluir a faculdade, Guilherme, de 23 anos, dá os primeiros passos no mercado de trabalho. Agora, com renda própria, ele consegue dimensionar melhor o tamanho do investimento de seus pais durante toda a sua vida Escolar e acadêmica.

O irmão, Eduardo, 22, a um ano da formatura em Administração na ESPM-SP, também sabe o peso da mensalidade de seu curso nas contas da casa. Enquanto financiavam a Educação dos dois filhos, Homero, que é administrador de empresas, e Ester Mendes, advogada, comprometeram mais de 40% da renda da família.

Homero explica que eles optaram pela Educação privada desde que os filhos iniciaram a vida Escolar. Os gastos se tornaram mais robustos quando o filho mais velho decidiu fazer a graduação fora do Brasil.

Os três anos cursando Ciências Políticas e Cinema em Paris, ao mesmo tempo que o irmão frequentava uma universidade privada em São Paulo, foram os mais apertados do orçamento da família. "Nós matávamos um leão por dia para dar Educação aos dois", lembra Homero. Ele explica que os gastos com lazer foram cortados imediatamente. "Paramos de viajar para manter o Guilherme na França e garantir a faculdade do Eduardo aqui", completa.

Ainda assim, o pai pretende continuar auxiliando os filhos na formação acadêmica. "Se eles quiserem uma pós-graduação, nós vamos ajudar". Para Homero, investimento em Educação é o melhor a se fazer pelos filhos. "O Guilherme voltou da França falando mais de seis idiomas, com uma formação maravilhosa, coisa que ele não teria no Brasil", avalia.
Já Maria Luísa, de 10 anos, Maria Eugênia, 8 anos, e João Francisco, 5 anos, podem não saber, mas seus pais investem de 15% a 20% da renda para a Educação deles. A mãe, Fabíola Cammarota de Abreu, e o pai, Cláudio de Abreu, advogados e pós-graduados, esperam que os filhos tenham uma formação equivalente ou superior à que tiveram.

Eles acreditam que um futuro profissional promissor depende de uma boa formação no Ensino básico, o que os levou a escolher uma Escola particular de São Paulo. "Infelizmente o Ensino público é complicado. Eu queria um lugar com boa qualidade de estudo e boa infraestrutura", conta Fabíola. Línguas estrangeiras também são um grande investimento: os filhos são fluentes em inglês e a mais velha já fala espanhol.

Os pais esperam que os meninos cursem uma universidade e façam um intercâmbio, mas não têm preferência pelo Ensino superior público ou privado. Como a maioria dos brasileiros, os pais não poupam especificamente para os gastos com Educação no futuro, mas há uma poupança geral para a família.

Fabíola afirma que os gastos são elevados, mas não interferem no modo de vida deles. "Se o custo fosse menor, talvez nós poupássemos mais e viajássemos mais", reflete a mãe, que não acredita que esse seja um problema. Ela pensa na Educação como um investimento constante: "Se tem algo de valor que eu possa deixar para os meus filhos é a Educação".

Falta planejamento para investir no futuro dos filhos

O investimento em Educação consome boa parte da renda familiar. De acordo com o estudo do banco HSBC, 83% dos pais que utilizam a Escola particular financiam a Educação sozinhos e utilizam principalmente a renda própria (90%).

A pesquisa também mostra que há pouco planejamento para o investimento educacional: 67% dos entrevistados afirmaram que deveriam ter começado a poupar ou planejar os gastos com os filhos mais cedo. “A maioria das pessoas não tem noção de quanto custa manter um filho estudando numa Escola privada. É um valor alto e, por isso, precisa existir planejamento”, afirma Augusto Miranda, diretor de gestão de patrimônio do HSBC. “Para esse âmbito educacional, a gente sempre tenta fazer com que o cliente diversifique essa parte num investimento mais conservador.” Nos últimos anos, o planejamento financeiro com os gastos na Educação se tornou essencial no País por causa do aumento dos custos.

Em 12 meses encerrados em fevereiro, a inflação do item Educação aumentou 8,72%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No mesmo período, a inflação oficial foi de 6,15%. “Educação é um dos itens mais caros do orçamento familiar”, diz Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.

Na avaliação dele, o ideal é que o planejamento para esse tipo de gasto comece antes do nascimento da criança. “Mas essa não costuma ser a regra, e as pessoas acabam tirando o dinheiro de outros lugares, como do lazer.” 

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