Prejuízos causados pela indisciplina

Prejuízos causados pela indisciplina

Pesquisa mostra prejuízo ao ensino  causado pela indisciplina no país

  • Segundo números do Pisa, problemas como interrupções de aulas, atrasos e  ausência de professor são mais frequentes no Brasil

  • Levantamento da Fundação Lemann mostra que "clima escolar" no país é pior  que a média internacional em todos os itens

Os professores Cristiane Vera Cruz e Ivan Macedo, do Colégio estadual Operário João Vicente, em Caxias Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

Os professores Cristiane Vera Cruz e Ivan Macedo, do Colégio estadual  Operário João Vicente, em Caxias Cléber Júnior / Agência O Globo

Uma pesquisa com diretores de escolas que participaram da última edição do  Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2012 sugere explicações  para o mau desempenho do Brasil, que ficou entre as 10 últimas posições na lista  de 65 países pesquisados. Dados tabulados com exclusividade pela Fundação Lemann  para O GLOBO mostram até que ponto 19 fatores sobre clima escolar atrapalham o  aprendizado de matemática, leitura e ciências, disciplinas avaliadas na prova,  aplicada a alunos de 15 anos. Entre esses fatores estão evasão, atraso e falta a  aulas por alunos e professores, uso de álcool e drogas por estudantes, bullying  e falta de respeito com os docentes.

Cerca de 800 diretores de escolas brasileiras responderam a um questionário  com 19 perguntas, como parte do Pisa 2012. A intensidade com que os problemas  atrapalham o aprendizado nas escolas brasileiras é maior do que a média dos  países da Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) em  todos os itens da pesquisa. As possibilidades de resposta foram divididas em  quatro opções (“nada”, “muito pouco”, “até certo ponto” e “muito”) para  perguntas como: “até que ponto a interrupção de aulas por alunos impede a  aprendizagem?”.

Nessa questão, aliás, o Brasil é o último do ranking de 65 países avaliados.  Para 24,57% dos diretores de escolas nacionais, interrupcões de estudantes  atrapalham muito o aprendizado. Já a média dos países participantes da OCDE é de  apenas 2,54%. Em países como Reino Unido, Canadá, Tailândia e Polônia, menos de  1% dos dirigentes de colégios veem as interrupções como um grande empecilho ao  aprendizado.

denador de projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins Faria cruzou dados  das respostas com desempenhos nas três provas, e viu uma relação de causa e  consequência.

- A maioria dos itens tem uma relação forte com o aprendizado. Por exemplo,  nos países que relatam que há muito problema de atraso dos alunos, a  proficiência é mais baixa. Naqueles que relatam que acontece pouco, a  proficiência é mais alta - compara Martins Faria.

O especialista pondera que pode acontecer de um país ter uma maior frequência  de um problema e ainda assim ter um resultado melhor, ou o inverso.

- Não são só esses fatores que determinam a qualidade da educação. Mas para  todos os países há esta tendência: resultados baixos (em matemática, leitura e  ciências) nas escolas em que os diretores relatam a maior incidência de um  problema, e resultados altos onde relatam menos. Em várias perguntas isso  aparece. As questões de clima escolar estão muito ligadas aos resultados do  aprendizado - diz ele.

Professor ameaçado por aluno

Professor de matemática, Ivan Macedo vive essa realidade no dia a dia. Ele dá  aulas no ensino médio do Colégio Estadual Operário João Vicente, em Duque de  Caxias, e endossa os 14,08% das escolas brasileiras que consideram que a  aprendizagem dos alunos é muito dificultada pela falta de respeito com docentes.  Na média dos países da OCDE, a alta frequência desse problema é de 1,88%. Na  opção “até certo ponto”, os percentuais são de 27,23% e 15,19%,  respectivamente.

- Na semana passada, um aluno do 3º ano faltou com respeito a mim e a outro  professor nos xingando. Já aconteceu de aluno ameaçar me bater, mas não chegou  às vias de fato. Em um Ciep em que trabalhei, um professor foi ameaçado por um  grupo em que um aluno estava armado. A agressividade e a falta de respeito  atrapalham os alunos bons que querem participar, mas ficam cansados com essas  situações. A grande maioria atrapalha os outros. O tempo já é curto, e ainda  temos que ensinar para gente grande como ter educação - lamenta Ivan, de 24  anos.

Diretora adjunta do mesmo colégio, a professora de língua portuguesa  Cristiane Vera Cruz acredita que a evasão escolar é um dos maiores entraves ao  aprendizado. No Brasil, 15,85% dos diretores disseram que esse problema  atrapalha muito, mais que o dobro nos países da OCDE (7,01%). Na opção “até  certo ponto”, a diferença percentual é maior: 35,96% contra 26,15%,  respectivamente.

- A evasão está acontecendo bastante, principalmente no turno da noite,  porque os alunos trabalham e acabam não vindo à aula. No momento em que  abandonam, há uma ruptura. Mesmo que venham a retomar os estudos depois, não é o  mesmo que ter uma continuidade no ensino. O ideal é se manter na escola dentro  da sua faixa etária para concluir a educação básica até os 18 anos - diz  Cristiane.

Para os estudantes, a responsabilidade na dificuldade de aprendizado também  está associada ao desempenho dos professores. Aluna do 3º ano de Colégio  Estadual Souza Aguiar, na Lapa, Mariana Santos diz que se sente prejudicada  quando não é incentivada a atingir seu pleno potencial. Para 28,15% dos  diretores brasileiros isso dificulta até certo ponto, e para 8,32%, muito. Na  média da OCDE, os percentuais são 18,40% e 2,2%.

- Isso dificulta o aprendizado, até porque eles facilitam muito para a gente  passar de ano. Tem professor que dá três pontos na nota se o aluno estiver  presente em todas aulas. Não sou avaliada como devo. Se tirar 2 na prova, quer  dizer que só sei 20% da matéria. Mas consigo passar por causa desses três pontos  - conta Mariana.

Ligado a esse fator está a baixa expectativa depositada pelos professores nos  alunos. Esse problema afeta até certo ponto, segundo 31,74% dos diretores  brasileiros, e muito, para 7,28%. Na OCDE, os números são 16,05% e 1,36%. No 3º  ano do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, em Copacabana, Lucas Alves sabe  como é isso.

- Uma professora de biologia dizia que eu não conseguiria ir bem na matéria.  Estudei e me esforcei para fazer ela engolir as palavras. Mas os alunos da minha  sala têm mais rendimento quando o professor acredita que é possível ir  além.

 

Leia mais sobre esse assunto em  http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/pesquisa-mostra-prejuizo-ao-ensino-causado-pela-indisciplina-no-pais-12185516#ixzz2yrGfSnGs


 




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