Sem formação específica

Sem formação específica

Maioria dos professores não tem licenciatura em sua área

No Ensino Fundamental, os sem formação específica somam 67,2%

Fonte: O Globo (RJ) 11 de abril de 2014

Mais da metade dos Professores brasileiros não tem licenciatura na área em que atuam. Nos anos finais do Ensino fundamental, a proporção dos sem formação específica chega a 67,2%. No Ensino médio, cujas diretrizes curriculares ditam que os Professores devem ter licenciatura em sua área, a parcela desses Docentes é de 51,7%. Os dados, de 2013, foram consolidados pelo movimento Todos Pela Educação com base no Censo Escolar.

- Temos uma carência de formação de Docentes. Há poucos jovens querendo ser Professores - avalia a diretora-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz - Ainda não resolvemos o problema, quantitativa ou qualitativamente.

Priscila chama atenção para a carência de Docentes com licenciatura (o curso para dar aulas) na área de exatas. No Ensino fundamental, apenas 34,2% dos Professores de Ciências têm licenciatura específica. Em Matemática, são 35,9%. No Ensino médio, somam 19,2% os formados que lecionam Física, e 33,7% os que ensinam Química.

- Na Escola, muitos jovens já têm aprendizagem mínima nessas disciplinas, então poucos vão para a área no Ensino superior. Os que vão, em geral, procuram engenharia ou outras profissões mais rentáveis. Ainda assim, parte dos que escolhem a docência desiste no meio do caminho. Ao perceber as dificuldades da carreira, vão para a pesquisa - diz a diretora-executiva.

Coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara concorda.

- O resultado reflete um problema grave que é a atratividade da carreira Docente. E representa um desafio: garantir atratividade da profissão. Isso passa pela remuneração e também por condições de trabalho - avalia.

Os dados apresentam também diferenças regionais. O Nordeste é a região com menor proporção de Docentes nos Ensinos fundamental (17,6%) e médio (34%). No primeiro caso, o Sudeste está na outra ponta, com 52,9%. No segundo, fica o Sul, com 58,1%. Coordenadora-geral do do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) do Rio, Marta Moraes crê que o resultado reflete a carência de universidades no país:

- Falta investimento em universidades públicas. Sem formação específica, o Professor é um leigo, um quebra-galho.  

52% dos docentes do Ensino Médio não têm formação na disciplina que lecionam

A situação mais crítica está na área de exatas: em física, somente 19,2% dos docentes têm licenciatura na disciplina

Fonte: iG 10 de abril de 2014

Apesar de as diretrizes curriculares do ensino médio preverem que cada disciplina deve ser ministrada por professores com licenciatura naquela área, mais da metade dos docentes dessa etapa não têm formação na matéria em que lecionam. Os dados são do Censo Escolar 2013 e foram tabulados pela ONG Todos Pela Educação.

São números que atestam uma realidade muito comum nas escolas do País, em que não é raro encontrar um pedagogo dando aulas de Física e alguém formado em História assumindo o conteúdo de Química. Segundo o levantamento, 51,7% dos docentes do ensino médio no País estão nessa situação.

Numa análise por disciplinas, dá para perceber com mais clareza os principais gargalos. Se Língua Portuguesa - a matéria mais elementar e teoricamente com abundância de mão de obra oriunda dos cursos de Letras - tem quase 30% dos professores sem formação na área, a situação é muito pior nas disciplinas das exatas. Em Física, apenas 19,2% dos professores que atuam na área têm licenciatura no assunto. Em Química o índice é um pouco maior, 32%.

“Dada a centralidade do professor na aprendizagem, esses dados são muito preocupantes. Como ter educação de qualidade com menos de 20% de professores qualificados?”, questiona a diretora executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. "Isso pode explicar porque o ensino médio não tem avançado. Estamos no mesmo patamar há 10 anos, apesar de o investimento per capita ter dobrado."

Os últimos dados do Pisa - avaliação internacional que mede o aprendizado de jovens de 15 anos em Português, Matemática e Ciências - colocam o Brasil na 58ª posição entre os 65 países participantes. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do ensino médio é de 3,7, numa escola de 0 a 10.

Quem quer ser professor?

Para os especialistas, esse cenário que reflete a falta de interesse no magistério, principalmente daqueles com expertises em assuntos muito demandados e bem remunerados pelo mercado, como são os formados nas áreas de exatas. Enquanto o mercado financeiro é conhecido por pagar altos salários, os docentes estão entre os profissionais com curso superior mais mal pagos do País. Professores recebem, em média, o equivalente a 52% dos rendimentos de profissionais de outras áreas com a mesma escolaridade, segundo levantamento do Todos Pela Educação.

Diante disso, diz Priscila, o que as redes fazem é um exercício de "tapar buraco". Muitas, até buscam uma solução menos drástica, como deslocar professores de matemática para as aulas de física e química. Mas como também não há docentes de matemática em abundância, a estratégia não é eficaz. Os números do levantamento mostram que 63,4% dos professores de matemática têm licenciatura no assunto.

"O que me pergunto é quem são esses 50% que dão aula de uma disciplina para a qual não têm formação? Será que não há mais temporários do que deveria?", questiona a diretora do Todos Pela Educação.

Sim, há temporários demais. Uma busca nos Diários Oficiais dos Estados mostram listas de pedidos de exoneração ou de licença por doença. Em vários Estados, o número de professores efetivos é menos da metade do que a rede necessita. O salário de R$ 1.874,50 - rendimento médio de um um professor de Educação Básica no País - não atrai gente interessada nos concursos.

"Apesar de a legislação prever, esse cenário de desencanto com o magistério mostra que nem sempre o desejável é possível. Gradativamente, as condições de trabalho têm piorado. Daí, por falta de mão de obra especializada, as redes fazem uma ponderação simples: é melhor ficar com os alunos na escola e ensinar alguma coisa do que eles não aprenderem nada", afirma a professora Helena Machado Albuquerque, da Faculdade de Educação da PUC.

Um problema crônico, que tem impacto no desenvolvimento do País e cuja única solução, alerta a diretora do Todos Pela Educação, é valorizar a carreira docente e tornar a profissão atraente para o aluno do Ensino Médio. Principalmente para aquele que gosta das disciplinas exatas, as que têm mais carência.

Confira aqui a porcentagem de docentes com licenciatura em cada área. 

ou

Confira abaixo a porcentagem de docentes com licenciatura em cada área

DisciplinaTotal de docentesCom licenciatura na área em que atuam
Brasil 613744 48,3
Português 84846 73,2
Matemática 74860 63,4
História 54893 58,1
Geografia 52347 56,8
Química 45619 33,7
Física 50802 19,2
Biologia 52722 51,6
Filosofia 45193 21,2
Educação Física 46080 64,7
Artes 45569 14,9
Língua estrangeira 60813 44,2

 

Os dados completos estarão disponíveis no site do Observatório do PNE.

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