Por que é chato ir à escola?

Por que é chato ir à escola?

por Jônatas Marques Caratti*

No programa Fantástico do último domingo a série Educação.Doc mostrou como professores do Rio de Janeiro transformaram a sala de aula num lugar significativo e interessante. Os educadores foram desafiados a buscar alternativas, em virtude do alto índice de abandono escolar, resultado da ausência de relações entre o conhecimento aprendido na sala de aula e o vivido pelo aluno em seu cotidiano. Mais fantástico seria se experiências como estas ocorressem no país inteiro, que fossem a regra e não a exceção.

Os obstáculos enfrentados pela educação no Brasil não são consequência de um único problema. Mas acredito que um deles esteja na divisão do conhecimento científico em disciplinas escolares. Isso ocorreu lá pelo final do século 19, quando o país vivia um tempo de inúmeras mudanças. Acreditava-se que a especialização de cada ciência traria mais saber. E isso impediu – desde aquela época e até os dias de hoje – que a sociedade tivesse uma perspectiva do todo. É incrível como pouca coisa mudou na educação nos últimos cem anos. Como já disse certa vez o professor Muniz Sodré: a escola é do século 19, o professor do século 20 e o estudante do século 21: como isso pode dar certo?

É por isso que aposto numa educação interdisciplinar. Como o conhecimento e a nossa própria vida são interdisciplinares por essência – ou seja, não fazemos apenas uma coisa, mas utilizamos saberes plurais para resolvermos várias questões ao mesmo tempo –, esta seria a maneira mais coerente de ensinarmos nossos alunos. Por que é chato ir à escola? Porque lá o conhecimento está dividido em caixinhas: português, matemática, ciências, história... As especializações nos fazem perder a compreensão do todo. Não é por nada que não lidamos bem com mudanças: de cidade, de casa, de trabalho. Aprendemos a resolver parcialmente os problemas. Por isso é chato ir à escola. Se a vida é interdisciplinar, a escola deveria ser também, não é mesmo?

A escola continuará chata enquanto os professores derem suas aulas com as portas fechadas. É preciso reciprocidade e objetivos comuns entre os educadores. Trabalhar de maneira interdisciplinar não é tarefa fácil. Os professores têm muitos impedimentos: conseguir cursar uma formação continuada de qualidade, receber salários mais dignos, poder criar novas concepções de tempo e espaço nas instituições etc. O papel da escola, dos professores e dos alunos precisa ser repensado. Se a sociedade mudou, os professores e as escolas também precisam mudar – e nós, docentes, estamos esperando que o modo como o Estado tem tratado a educação também mude! Enquanto a escola for quadrada, ela vai continuar chata. Mas, sim, a escola pode ser um lugar legal. Eu acredito que as coisas possam mudar. Sei que ninguém pode transformar a educação sozinho. Portanto, é necessário diálogo, atitude e muito trabalho de equipe.

*Professor universitário e historiador

Zero Hora 09 de abril de 2014




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